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sábado, 14 de julho de 2018

Reflexões de quase aniversário

O pior naufrágio é não partir. Compartilhada pelo jornalista Flávio Tavares em um  e-mail de trabalho, a frase do navegador e escritor Amir Klink propõe a reflexão sobre como  muitas vezes esperamos tanto para sair em busca dos nossos sonhos, que naufragamos simplesmente porque não tentamos.
Às vésperas de completar 62 anos, é impossível receber esse e-mail sem fazer, eu mesma, um balanço sobre quantas  vezes, ao longo dessas minhas mais de seis décadas, me agarrei à segurança do cais e ao conforto de algumas certezas. Quantas vezes deixei de me lançar à aventura do novo e me privei da oportunidade do aprendizado que ela sempre traz. 

Meu balanço é positivo, no sentido de que, ao longo do tempo, venho me arriscando mais do que tenho me entregado à zona de conforto. E se esta às vezes se torna tentadora, o medo de fossilizar em verdades tem alimentado minha inquietação. E o medo de ter medo tem me levado a fugir de longas calmarias.

Foi assim, aos 17 anos, quando troquei a proteção da casa paterna pela vida universitária  no Rio de Janeiro.  Ter que dar conta de ser independente me mostrou onde estavam meus alicerces e me fez reconhecer como era/é bom tê-los sólidos. Foi assim também aos 22, quando joguei um bom emprego pro alto, para perseguir o sonho de ser jornalista e, ao conquistá-lo e consolidá-lo, oito anos mais tarde o troquei pela aventura da comunicação corporativa. Nessa jornada que dura até hoje, fiz um pouco de tudo.  Ganhei, perdi, cresci e aprendi que nem sempre as coisas acontecem da forma e no tempo que a gente espera, mas que esse tempo de espera  testa e treina a paciência, a resiliência, a insistência. Me descobri persistente e ansiosa, ao longo dos anos.  Não me orgulho da ansiedade particularmente, mas ninguém  é perfeito, não é mesmo?  

Também não me orgulho de algumas brigas que comprei, mas com elas me dei conta de que é melhor errar do que se omitir. Os erros ensinam e, a partir do que ensinam, até podem ser corrigidos; ou, pelo menos, não se repetirem. A omissão não. Ela vira fantasma e passa a vida nos assombrando com a pergunta: o que teria acontecido, se... E esse exercício inglório, sem respostas, vai consumindo as vísceras e a alma.
Melhor mesmo errar com convicção. Até porque só erra quem tenta e não tentar remete ao naufrágio do início desse texto. O naufrágio de quem não parte, à espera das condições perfeitas para navegação.

A dois dias de embarcar na minha nova idade, tudo o que sei é que quero continuar tentando. Quero continuar me lançando ao mar. E se para isso preciso domar algumas ondas e vencer o desafio de alguns ventos ao revés, já estou içando as velas. Sei que mais adiante outros ventos soprarão a favor.