Quem sou eu

sábado, 31 de dezembro de 2016

Sem balanços / Without pros and cons


O tempo vale o que a gente faz com ele. A sabedoria da simpática avozinha da campanha publicitária do Banco Itau digital, em sua carta para os netos (*), imprime sabor nostálgico aos balanços de fim de ano que, a essa altura, a poucas horas de 2017, muitos de nós teremos concluído. Digo muitos, porque eu não fiz o meu. Na verdade, me neguei a fazê-lo. Tive medo de ficar apegada ao que passou – independente do que foi bom ou ruim -- e deixar de estar presente no momento que mais importa: este, aqui e agora.

Pois bem, aqui estou -- aqui e agora: me livrando dos resquícios de uma gripe que, há quinze dias, me nocauteou em febre e sinusite, roubou meu ânimo e minha capacidade de articular pensamento. Como é bom voltar a inspirar e expirar sem me dar conta. Como é bom tornar a me mover sem pensar que estou arrastando um escombro (!).

Pois aqui estou – aqui e agora: ouvindo Bethânia cantar ‘Sonho meu’ e lembrando da entrevista, em que Dona Ivone Lara dizia estar com “o coração pequenininho”, porque naquele ano (oitenta e alguns) não desfilaria no Império Serrano – tinha agenda de shows em Nova Iorque (!). …”Vai buscar quem mora longe, sonho meu” …

Pois aqui estou – aqui e agora: afagando meu gato Onassis, que se espreguiça languidamente sobre minhas anotações, na mesa de trabalho, e ignora todo o meu esforço para torná-las (as anotações) intelegíveis. Pra ele, a vida limita-se ao prazer de ronronar e de ser mimado por esta que o afaga.

Pois aqui estou – aqui e agora: namorando meu marido, meu amor e meu melhor amigo, enquanto ele aproveita a siesta para se refazer da gripe que também o abateu e se refestelar nas praias desertas que habitam seus sonhos. Quem um dia foi marujo, traz sempre o mar tatuado na alma.

Pois aqui estou – aqui e agora: recolhendo emoções que possa alinhavar em palavras, para dar voz ao que tantas vezes deixamos de dizer, porque desejamos evitar mal entendidos. O silêncio pode até ser mais seguro, mas como é bom ceder às redundâncias do afeto – essas são as melhores algaravias (!).

Pois aqui estou – aqui  e agora: bebericando uma taça de espumante e  remetendo meus votos de alegria. A alegria por poder me refrescar à sombra, nesse verão escaldante do lado debaixo do Equador; a alegria por identificar na estante tantos livros que ainda não li, além dos que li e pretendo reler; a alegria por retomar contato com tanta gente querida com quem não falava há tanto tempo; a alegria por ouvir, ouvir e ouvir todos os discos da Bethânia e gostar, gostar e gostar deles cada vez mais; a alegria por não ter planos para o ano que está prestes a começar, além de me entregar a essas pequenas e mundanas alegrias.
Feliz 2017 a todos! 

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Time means what we make of it. The wise perception of Banco Itau Digital advertisement campaign character (*) brings a nostalgic flavor to the year-end recaps that, at this point, with 2017 only hours ahead, most of us may have done. I say most of us, because I myself have not done one. I did not want to. I simply got afraid of being attached to what happened – no matter if it was good or bad – and of not being present to what matters the most: this moment, here and now.

So, here I am – here and now: getting rid of the remainders of a cold that has almost knocked me out for fifteen days, stole my soul and my ability or articulating thoughts. I have forgotten how good it is to breathe naturally, how good it is to move without the sensation of pushing a dead body (!).

So, here I am – here and now: listening to Bethânia’s (**)‘Sonho meu’ (my dream) interpretation and recalling Dona Ivone Lara’s (***) interview, in which she said her heart was broke because she would not parade with Imperio Serrano samba school that year (middle eighties) – she had a full show agenda in New York (!). …”Vai buscar quem mora longe, sonho meu”… (Go to catch who is missing, my dream).

So, here I am – here and now:  caressing my loved cat, Onassis, who stretches on my notes, on my desk, and ignores all my efforts to make those, notes sound smart. From his perspective, life defines itself by the pleasure of purring and being spoiled by a human being – in his case, ME!

So, here I am – here and now: courting my husband and best friend, while he takes a siesta nap to recover from the same cold I had and to enjoy the lonely beaches that permanently live in his dreams. Who once was a sailor, will always bring the sea tattooed on the soul.

So, here I am – here and now: recollecting emotions to pull together into words to bring voice to what, so many times, we do not say with the intent of avoiding misleading. Of course silent can be safer, but how it is good to take the affection redundancy risks (!).

So, here I am – here and now:  sipping a glass of sparkling wine and addressing my wishes of hope and joy. The joy of refreshing myself in this hot Senegal an/Brazilian summer; the joy of noticing on my bookshelves so many titles I have not read yet and so many I did read and want to read again (!); the joy of getting in contact with so many dear people I have not been in touch; the joy of listening and listening to all Bethânia’s records, finding I love them more and more; the joy of not making plans for the new year – I only want to feel these small and mundane joys.
Happy 2017 to all!

(**) Maria Bethânia is one of the best Brazilian singers and ‘Sonho meu’ (my dream) is one of her hits.
(***) Dona Ivone Lara is one of the Brazilian ‘Divas of Samba’. ‘Sonho meu’ is one of the first songs she composed and made her famous.
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sábado, 24 de dezembro de 2016

Carta a Papai Noel / Letter to Santa Klaus

Talvez porque já seja Natal e 2017 já esteja logo ali. Talvez porque essa época do ano me deixe mais sensível do que de costume, um tanto melancólica – quase sentimental. Talvez porque esse misto de emoções me remeta ao encantamento de ir à feira com minha mãe, escolher nosso pinheirinho, para depois tranformá-lo na nossa árvore natalina, num ritual quase religioso que todas as palavras são poucas para descrever.  Talvez por conta de tudo isso (junto e misturado :--), eu me veja aqui ensaiando uma carta para Papai Noel.

Eu sei. Faz tempo que sei que Papai Noel não existe. E lembro, exatamente, da decepção e do desalento que senti quando, aos dez anos, fiz essa descoberta. Já havia mais ou menos dois anos que amiguinhos mais velhos cacarejavam a verdade nos meus ouvidos e que adultos, incluindo meus pais, dissimulavam evasivas entre sorrisos-amarelo, quando eu lhes fazia a pegunta à queima-roupa.  Porém, eu me recusava a acreditar nessas evidências. Me negava a aceitar que uma verdade, pra mim, tão absoluta pudesse ser apenas  ‘mais uma história para crianças’ , mais um conto da carochinha.

Foi quase por acaso que minha certeza evaporou como bolhas de sabão. Numa antevéspera de Natal, na casa da minha madrinha e Tia Dudu onde passávamos todos os Natais (ja mencionei esses Natais em outros posts), entreouvi uma nesga de conversa entre minha prima mais velha, Ana, e a mãe, em que, referindo-se a Papai Noel, a prima adolescente dizia:

“ Alguém precisa contar a verdade a Verinha, ou ela vai acabar sabendo da pior maneira possível”.

Não precisei ouvir a resposta cheia de ‘mas mas’ da minha tia, para entender que havia sido enganada todos aqueles anos. Para experimentar a humilhação de ter acreditado tão piamente em alguma coisa que não existia. Para sentir o gosto, que muitos anos depois e guardadas as devidas proporções, entenderia: era o sabor acre e indigesto da traição. Para ver o que eu entendia como confiança reduzido a cacos – a cacos de cristal, impossíveis de colar.

Sei que estou parecendo melodramática, mas o que posso fazer? Eu me sentia mesmo assim: devastada. De uma tal forma, que me escondi no fundo do quintal para chorar. Chorar por ter sido boba e ter me negado a enxergar o que tantos a minha volta apontavam. Chorar por ter aceitado as evasivas adultas em reação às minhas tentativas de tira-teima, por causa do temor de me decepcionar. Chorar por ter depositado tanta esperança nas longas cartas que eu endereçara ao ‘bom velhinho’ a partir do momento que aprendi a escrever e que, a partir daquele instante, eu sabia: não existia.  Aonde teriam ido parar aquelas cartas?

Foi no meio de todo esse desconsolo e com a cara inchada e vermelha de tanto chorar, que meu padrinho e tio Leo (também já falei sobre ele em outros posts) me encontrou, ao dirigir-se ao galpão no fundo do quintal em busca de uma ferramenta. Ficou tão desconcertado ao me ver naquele estado, que não disse nada; apenas sentou-se no chão ao meu lado, debaixo da goiabeira. Não sei quanto tempo ele ficou ali, em silêncio, escutando os meus soluços, esperando que as lágrimas se esgotassem e eu me dispusesse a falar. Pra mim, foi uma eternidade, mas ele respeitou o meu tempo.

E ele nem precisou fazer perguntas. Quando, finalmente, consegui articular o que estava sentindo, as palavras surgiram aos borbotões;  vociferando toda a minha raiva, toda a minha decepção, toda a vontade que eu tinha em voltar no tempo e apagar aquele fato da minha vida (de apenas uma década, mas que naquele momento parecia o que eu vislumbrava como ter cem anos!). Entre uma frase e outra, eu batia na mesma tecla:

“E as cartas  que escrevi ao Papai Noel? Aonde foram parar as cartas?!!!!!!

Assim como os soluços, as palavras também esgotaram. E meu tio, com a sua paciência amorosa, esperou pelo silêncio. Quando se certificou de que ele não seria mais interrompido por nenhum outro rompante, me deu a mão e, ali, sentado sob a goiabeira, me contou que, muitos anos antes, quando lhe contaram a verdade sobre Papai Noel, sofreu tanto, que teve febre durante três dias e passou outros tantos sem comer. Perambulava inconsolável pela casa e, assim como eu, também só se perguntava o que havia sido feito das suas cartas natalinas e de tudo o que havia depositado nelas.  Até que, numa noite, acordou com uma rena batendo no vidro da janela do seu quarto. Ela tinha vindo convidá-lo para visitar o bom velhinho. Ele estranhou e reagiu disparando a verdade: “Papai Noel não existe!”. Ao que a rena refutou:

“Você está enganado, Leo. Papai Noel existe sim. Existe na nuvem cor-de-rosa da imaginação das crianças”.

Ele pulou da cama sobressaltado e viu que havia sonhado. Muitos anos depois, encontrou tanto conforto naquele sonho, que incorporou a tal nuvem cor-de-rosa ao resto da sua vida. Não só para abrigar Papai Noel e explica-lo a seus próprios filhos, mas também para alimentar o seu olhar de menino, a sua alegria  e disposição para continuar soltando pipa com a garotada, a sua sensibilidade para não deixar uma menina inconsolável, mesmo que fosse por ‘uma bobagem’, como poderia parecer a muitos.  Ainda que ela fosse um pouco difícil de convencer e não parassse de perguntar:

“Mas e as cartas, Tio Leo?!!!! O que foi feito das minhas cartas de Natal?!!!!” 

Tudo bem que Papai Noel pertencesse a esse universo de nuvens cor-de-rosa, que só dependia da minha imaginação acreditar ou não na sua existência e que eu não precisava me sentir melhor ou pior que ninguém ao optar pela crença. Tava tudo certo. Bacana. Mas eu queria saber das minhas cartas!!!!

“O que foi feito das cartas que escrevi a Papai Noel, Tio Leo?”

Meu tio não se intimidou por não ter uma resposta mágica (como a da nuvem cor-de-rosa). Apenas disse que não sabia o que havia sido feito das cartas que eu escrevera até ali. E afirmou que, na verdade, isso também não importava, porque o que realmente contava eram as cartas que eu passaria a escrever dali pra frente.

Acho que vem daí o meu gosto pela prosa. Esse prazer de escrever relatos, como se endereçasse missivas a mim mesmo, como se construísse pontes para, ao me reconhecer no destino, poder chegar ao outro. O prazer que -- hoje sei -- descobri lá atrás, através daquelas cartas natalinas que até hoje não sei onde foram parar. O prazer que meu tio Leo não deixou que morresse com a ilusão de Papai Noel.
Como ele, meu tio, não está mais aqui para que eu possa agradecer o tesouro que me possibilitou guardar, faço deste post a minha carta de Natal:

“Querido Papai Noel, …”

 Ou seria?:

“Querido Tio Leo, neste Natal de 2016, não importa que nuvem cor-de-rosa você habite, …”

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Maybe because it is Christmas and 2017 is already around the corner. Maybe because the holidays season makes me feel more sensitive, a bit melancholic, almost sentimental. Maybe because this mix of emotions refers to that unique enchantment of choosing and decorating the Christmas three with my mom. Maybe because of all of these things together, I find myself drafting a Santa Klaus’ letter.

I know. It has been a while I know Santa does not exist. And I remember my disappointment when, at ten, I discovered the truth, regardless of the fact my older friends had whispered it on my ears so many times and adults, including my parents, had always smiled evasively whenever I tried to ask them the question. Those evidences were not enough.

It was almost by chance I had to face the reality. I was at my aunt Dudu’s home for the family Christmas celebration (I have mentioned these gatherings in a former post), when I, not on purpose, heard her conversation with Anna, my oldest cousin. Referring to Santa Klaus, Anna simply warned her mother:

“Someone needs to tell Verinha the truth or she will discover it through the worst way possible”.

I did not need to listen to my aunt’s full of buts answer to conclude people had lied to me all those years and to feel humiliated, disappointed, disregarded. To see the trust I had in them falling apart, as a broken crystal vase you will never pull together again.

I know this maybe seen as too much drama, but what can I say if I really felt devastated? If I felt so miserable, that I hide myself at the bottom of the backyard where nobody could find me to cry. I simply needed to cry. I had to cry for being a fool who had ever denied evidences. I had to cry for writing so many letters to Santa, sharing my dreams, sharing my hopes. Where, to whom those letters had gone?

My uncle Leo (about whom I have also written in this blog) found me in the middle of this sorrow, when he headed to the tools house at the furthest end of the backyard. He got so embarrassed in seeing me weeping and sobbing that he did not say a word; he simply sit besides me below the guava. I do not know how long he stayed there silently. I only know that when I stopped crying he was there to listen to all I had to vent. And there he stayed till I got tired and shut up. Then, he held my hand and started telling me how much he also suffered when, many years before, he discovered the truth about Santa. He got a fever, did not eat for three days and, like me, did not stop asking about the letters he had addressed do ‘the old man’. Till the night he woke up with a reindeer knocking at the window to invite him to visit Santa. He immediately said Santa Klaus did not exist and heard back from the reindeer:

“You are wrong, Leo. Santa does exist. He exists in the pink cloud of children’s imagination”.

He later realized that the conversation had been a dream. But the point is it made him feel so comforted, that he decided to incorporate that pink cloud to his life. He made that decision not only to house Santa, but also to preserve his boyish glare and keep his sensibility sharp enough to comfort a little crying girl who was suffering for something many adults would define as silly. Even though this girl was not easy to convince and kept asking:

“What about my letters, uncle Leo?!!!! What was made of them?!!!!”

My uncle did not feel intimidated by his lack of a magical answer. He only said he did not know about the letters I had written till then and that, actually, he was not concerned about them. He said his worries regarded the letters I was up to write from that moment on.

Today I know he discovered my writing gift before I could be aware of it and made what he could to keep it alive regardless of my disappointment with the truth about Santa. As uncle Leo is not around anymore, I cannot thank him. I can only write this post in his memory as a Christmas letter. So, here it goes:

“Dear Santa…”

Or should that be:

“Dear Uncle Leo, this is 2016 Christmas and no matter where is the pink cloud you now live in…”

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sábado, 17 de dezembro de 2016

Pra não dizer que não falei de amigos / Talking about friends

O tempo e as circunstâncias podem até afastar os amigos, mas não acabam com as verdadeiras amizades.  A constatação de Jô Soares, ao reencontrar pessoas com quem compartilhou momentos importantes da sua vida, durante a temporada de despedida de seu programa de entrevistas, me levou a refletir sobre os alicerces que sustentam essa relação tão única.  Sobre a trama de sentimentos que a torna uma referência tão forte nas nossas existências, que não são poucas as pessoas que, como eu, definem os amigos  como sua família do coração. 
Uma família sem as obrigações protocolares, ou expectativas compensatórias que tantas vezes pontuam os relacionamentos de sangue. Uma família pautada pela empatia, pela indetidade emocional que transcende as diferenças e se abstém de julgamentos. Uma família que está sempre a postos, para o bem e para o mal; não importa se, ela bem que avisou e você deu com os burros n’água,  ou se você ascendeu à glória sem precisar dos seus conselhos ou do seu suporte.  Ela simplesmente está lá com você, pra você, por você.

Ao longo desses meu quase sessenta anos, tenho contado com uma família de  amigos generosos. Pessoas especiais que tem investido tempo e afeto no   compartilhamento de realizações, dores, amores, decepções. Pessoas que não tem economizado energia para rir junto, chorar junto, aprender junto, se surpreender junto, se indignar e esbravejar junto . Pessoas corajosas para me dizerem aquilo que muitas vezes não quero ouvir, e vice-versa. Pessoas que tem respeitado meus silêncios, quando nada tenho a dizer, e que retomam a conversa do ponto em que foi interrompida, não importa quanto tempo tenha durado o hiato –  ela soa sempre como se o ultimo diálogo houvesse acontecido ainda há pouco.

Não consigo deixar de me sentir privilegiada por contar com essas pessoas na minha vida.  Muitas conheço e acompanho (me acompanham) há  anos – uma só existência é pouco para relatar tudo o que já experimentamos junto.  Outras, nem tanto; compartilhamos apenas alguns capítulos das nossas histórias, mas isso não as torna menos importantes. Há ainda aquelas que acabei de conhecer e já tem presença relevante no meu álbum de família, uma vez que as amizades não se constróem pela matemática das horas, mas sim pela intensidade das trocas.

E é revisitando esse álbum, que reencontro as imagens que ilustram boa parte dessa minha narrativa. Estão lá, ainda em sépia,  os flagrantes das disputas de queimado, pique-bandeira e polícia e ladrão com os amigos de infância.  Assim como, em preto-e-branco, estão documentados, em registros solenes, todos os primeiros momentos memoráveis vividos em conjunto: o primeiro aniversário, o primeiro dia de aula, a primeira comunhão, a primeira festa de formatura…  Também lá estão os instantâneos das comemorações de uma copa do mundo que cantava 90 milhões em ação pra frente Brasil e de uma adolescência que dançava ‘Do you wanna dance’ nas festinhas vespertinas. Não faltam ainda as polaroids desbotadas de tantas férias passadas e curtidas na praia e as fotos posadas em cerimônias de graduação, casamentos e batizados.

Uma viagem no tempo e na emoção. Uma viagem que dá sentido ao tempo e à emoção. Principalmente porque possibilita revisitar o que não está documentado em fotografias, mas permanenceu gravado no intangível das recordações.  Na cumplicidade que dá forma às grandes amizades, à medida que a gente vai dividindo com o outro pequenas felicidades,  segredos incofessáveis,  planos delirantes,  sonhos, deslumbramentos,  espantos, medos – todas as nossas vulnerabilidades --, e descobre que não está sozinho, que o outro continua lá, de braços abertos, pronto pra te ouvir, pra te acolher, pra te apoiar.

E é a essência desse sentimento que quero celebrar hoje aqui. Obrigada a todos os meus amigos que, generosamente, tem me ouvido, acolhido, apoiado e, sobretudo, tem me ensinado a ouvir, acolher e apoiar. Vocês fizeram de mim uma pessoa menos solitária, menos egocêntrica. Uma pessoa melhor. Uma pessoa que podem considerar amiga.

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Time and circumstances may eventually separate friends, but do not kill a true friendship. Jô Soares (*)’ insight, during his talk-show farewell season, made me think about what makes this relationship so unique that many people, including myself, define friends as their ‘heart family’.

A family, which does not have obligations and expectations that many times, permeates blood relationships. A family whose foundations are based on empathy and those are enough to overcome differences and judgments. A family which is always there for you, for the good and the bad, no matter if you failed, although they had warned you about risks, or if you succeeded regardless of their advice and support. They are simply there – with you, to you, for you.

Along my almost sixty years old, I have been counting on a generous family of friends. Special people who have invested time and affection to share accomplishments, pain, love, disappointments. People who have not saved energy to laugh, to cry, to learn, to be surprised, shocked and angry – all together. Brave people who have told me things that many times I did not want to hear, and vice-versa. People who respected my silent, when I had nothing to say, and were able to restart the conversation from the point it had stopped, no matter how long it took – it always happened as if the last dialogue had taken place the moment before.

I feel blessed on having these people in my life. I have known many of them for years and, I am sure, a lifetime is not enough to tell everything we have shared. With others I have shared only chapters of our histories, but that does not make them less important. There are also those I have just met and have already earned a relevant space on my ‘family book’, since friendships are not based only on time, but on the intensity of what you share.

While I revisit this ‘heart family book’, I find the images that somehow illustrate my own narrative. The flagrant of my childhood playground and the posed pictures of first shared moments, such as: a first anniversary, the first day at elementary school, the first graduation. I also find the shots on a ‘Do you wanna dance’ teenagers’ dancing parties, the vacations on the beach and on defining ceremonies, such as college graduations, weddings and baptizes.

It is a trip over time and emotions. Actually, it is a trip that brings sense to time and to emotions. Mainly, because it allows me to revisit what has not been documented, but remained in my intangible memories. It is there in the complicity that sustains forever friendships. The complicity that is built when we start sharing with someone small happinesses, uncontestable secrets, out of the blue plans, dreams, enchantments, shocks, fears – all of our vulnerabilities – and finish discovering that that very same someone are still there for us. They are still there to listen, to welcome and support us.

It is the essence of this feeling I want to celebrate today. Thanks to all my friends who, generously, have been there to listen to me, to welcome me, to support me and, mainly, who have taught me to listen, to welcome and support. That made me a better person. A person you can also call friend.  

(*) Jô Soares is the anchor of an open TV channel talk-show that, this year, runned its last season, after being broadcasted for more than 30 decades.
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