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sábado, 27 de agosto de 2016

Sem Medalhas / Without Medals


No momento em que acabamos de acompanhar tantas histórias de superação nas Olimpíadas 2016 e estamos às vésperas de testemunhar o verbo superar-se ser conjugado em cada competição das Paralimpíadas, tomo conhecimento da história da jornalista Valquíria Liz Sganzerla (*), 58 anos, que, num exercício diário e anônimo de desafiar os próprios limites, convive há mais de duas décadas com os sintomas de uma escleróse múltipla -- doença neurológica auto-imune e sem cura, cuja evolução pode levar à paralisia total.


Mais do que sobreviver à enfermidade, convivendo com as limitações que ela lhe impõe, Valquiria resiste. Resiste à tentação de deixar-se vitimizar. Resiste ao medo das potenciais restrições que ainda podem acometê-la no futuro. Resiste à acomodação de rotular-se  doente e, por conta disso, deixar de apreciar o que a vida ainda tem a lhe oferecer.

E é essa resistência que faz dela uma espécie de atleta. Uma atleta às portas dos 60 anos, que não busca quebrar recordes ou ascender a pódios, mas que treina obstinadamente o aprimoramento das próprias emoções, para que elas não a surpreendam com armadilhas de autocomiseração. Armadilhas que minem seu sistema imunológico contra a progressão da doença. Armadilhas que a impeçam de ser feliz aqui e agora.

Mas como ser feliz aqui e agora, quando caminhar mais de cem metros já se tornou impossível, equilibrar uma bandeja virou prova olímpica e gestos simples como o de fechar a tarracha de um brinco transformaram-se em algo inexecutável?

É Valquiria quem responde e de forma simples:

“Aprendendo a só dar importância às coisas que realmente merecem ser importantes”.

Um aprendizado que ela pretende compartilhar no livro ‘Que falta faz um corrimão' a ser publicado em breve. Não como receita de autoajuda, mas como processo construído passo a passo, a partir de cada emoção vivida nos últimos vinte anos, por mais doídas e contraditórias que tenham sido; a partir da percepção alimentada pela observação de si e do outro – prática inerente ao exercício do jornalismo, aplicada aqui ao esforço de não confinar-se em torno do próprio umbigo.

Ao ouvir a jornalista descrever esse processo e contar como, ao longo do tempo, abraçou cada uma de suas etapas, em uma tarde regada a café, algumas lágrimas e muitas risadas, me dou conta de como ainda estou engatinhando nesse aprendizado, apesar dos meus 59 anos sem problemas de saúde. Como ainda me falta discernimento para deixar de dar importância a coisas irrelevantes e como esse apego ao que não é essencial, tantas vezes, me impede de ser feliz aqui e agora.

Porém, percebo algo importante a partir da conversa com a jornalista que, acho, vale a pena compartilhar aqui. Valquíria é feliz, simplesmente, porque está viva. E, na sua determinação de atleta, não precisa de medalhas; a vida basta. Eu, aprendiz em treinamento, ainda me deixo fascinar pelo brilho efêmero dos pódios;  e, muitas vezes, na cobiça por medalhas, esqueço de celebrar e agradecer pela vida que tenho aqui e agora.  

Fico aguardando o livro, Valquíria --  esse seu corrimão afetivo --  para me ajudar a me exercitar no próximo passo e quem sabe, até os 60, aprender a ser feliz com o que tenho. 


(*) A jornalista Valquíria Liz Sganzerla pode ser contatada através do Facebook: http://facebook.com/valquirializsganzerla

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When we have watched so many 2016 Olympic overcoming limits stories and are up to watch many others during the Paraolympic games, I am told Valquiria (*) Liz Sganzerla’s saga – a 58 years old journalist who challenges her limits daily in the effort of surpassing the restrictions imposed by a multiple sclerosis. This is a neural, chronical, unhealable illness that can evolve to total paralisation.

More than living with the desease and the limitations it imposes, Valquiria resists. She resists to the temptation of being seen as a victim on other people’s eyes. She resists to the fear of the potential new restrictions the illness may bring. She resists to defeat and miss what life still offering.

This resistance makes her a kind of athlete. An almost sixty years old athlete who does not pursue record breaks or podiums, but trains obsessively to overcome dark feelings and avoid selfpity traps. Those traps that can undermine her immunologic system against the desease evolution. Those traps that can undermine her determination of being happy here and now.

But how to be happy when walking more than one hundred meters has become impossible, carry a tray has turned to be an Olympic test and put an ear-ring has become unmanageable? It is Valquiria who simply answers the question:

“Learning how to pay attention only on things that really matter”.

A learning experience she intends to share through the book ‘How I miss a hand-rail’ , to be published shortly. And it will come out not as a selfhelp prescription, but as the narrative of a process which was built step by step from each dark emotion she transformed in milestones in the last twenty years; with every perception she got from the observation of herself and people around.

Listening to her narrative, during an afternoon coffee meeting, where both of us exchanged laughs and tears (more laughs than tears I should say), I realize how much I still having to learn, despite of my fifty nine years old of good health. How much I still lacking the hability to focus on the relevant things that can make happiness possible here and now.

Nevertheless, the conversation makes me notice something that worths sharing. Valquiria is happy because she is alive. And in her athletic determination of living one day at a time, she does not need medals: life is enough, while me… Well, I still fascinated by the ephemeral shining podiuns and, many times, get so concentrated on pursuing the medals that forget to thank and celebrate the moment – the good life I have here and now.

So, Valquiria, I look forward to your book – to your handrail of love – to help me try the next step and, who knows, learn to better celebrate what I have before turning sixty.


(*) Valquiria Liz Sganzerla can be reached through Facebook: http://facebook.com/valquirializsganzerla

sábado, 20 de agosto de 2016

Olha o Pokémon Aí, Geeeeeente!!!! / Watch the Pokémon There, Folks!!!!



Ao receber, no celular, o alerta de notícias avisando que o Pokémon Go já estava liberado no Brasil, minha amiga, jornalista e contemporânea no exercício na profissão, Juliana Vercelli (*), pediu a uma colega de trabalho que a ajudasse a baixar o aplicativo e lhe explicasse como o jogo funciona. Ao entender a dinâmica, me escreveu um email bem humorado, dizendo que como não nasceu ‘com chip incorporado ao cérebro, como os bebês de hoje, mas sim com válvulas’ J, não conseguia deixar de se surpreender com a nova tecnologia vitual que, certamente, viciará milhões de brasileiros. E completou:

“Quando criança, minha diversão tecnológica era acompanhar o meu pai trocando as válvulas queimadas do aparelho de TV J. Vi a evolução dos jogos do Pac Man e chego ao século 21 assistindo às pessoas capturando bichinhos virtuais em todos os lugares :-0 ! Não consigo processar, mesmo tendo trabalhado a vida toda na área de tecnologia da informação”.

Como Juliana, eu também atuei nessa área uma boa parte da minha vida profissional. Na verdade, ainda atuo como consultora, mas quando começamos, eu e ela, o setor era denominado informática, regido no Brasil por uma reserva de mercado, e quem se aventurasse por aquelas plagas precisava ter uma capacidade enorme para decifrar uma sopa de letrinhas de siglas, entender o seu significado e traduzi-la para a linguagem dos simples mortais. Steve Jobs e Bill Gates ainda se divertiam em suas garagens, inventando as interfaces que começariam a tornar esse universo mais amigável.

De lá pra cá, eu e a Juliana vimos tudo acontecer. Da quebra de paradigma dos MACs e PCs, que com suas janelas e menus, trouxeram a tecnologia como ferramenta para nossas mesas de trabalho, ao fenômeno da internet, que nos conectou ao mundo a partir de um clique e revolucionou a maneira como nos relacionamos. Se não tenho a pretensão de fazer aqui uma restrospectiva detalhada de toda essa história, acho que cabe compartilhar minha paixão pelo tema e a minha dificuldade em digerir e adotar as inovações tecnológicas no momento zero em que são lançadas.

E as duas coisas não deixam de estar ligadas. A paixão vem de uma perspectiva simplista, quase pueril, que encara a tecnolgia como a ponte que traz para a realidade o que antes só habitava o mundo dos mágicos e da fantasia. Para quem, como eu, cresceu viajando nas narrativas de Monteiro Lobato e Julio Verne, é quase como se a chave do tamanho fosse se materializar a qualquer momento J; e essa possibilidade é no mínimo fascinante.

É justamente esse fascínio que me faz desafiar meu conservadorismo para vencer a dificuldade em me aventurar na primeira hora na experimentação das tecnologias que acabam de sair do forno. Foi assim quando troquei a máquina de escrever pelo microcomputador, quando me convenci a substituir o pager pelo celular, quando adquiri meu primeiro smartphone e me curvei à necessidade de acompanhar as redes sociais por motivos além da obrigação profissional. Confesso que até hoje me atrapalho com a diversidade de comandos existente em qualquer controle remoto e que ainda dirijo um carro mecânico: um Ford KA 2006, que se chama Tomate (sim, ele é vermelho) e acaba de completar 20 mil quilômetros rodados.

Mas se a tecnologia embarcada em automóveis ainda não me seduziu, por outro lado, sou fã incondicional dos jogos on line. Eu sei, eu sei: é pouco coerente, mas a contradição é inerente ao ser humano, não é mesmo?. E por conta dela, aproveito qualquer tempinho que sobre para aprimorar meu desempenho no Candy Crash, no Farm Heroes e no Cupcake Mania, entre outros. E, agora, claro, no Pokemón Go!

Minha querida amiga Juliana que me perdoe, mas tenho achado um barato esbarrar nos monstrinhos dentro de casa J . Não sei se ainda vou tomar coragem para sair e caçá-los na rua – acho pouco provável – até porque, admito, tenho uma pontaria incerta e raramente as bolinhas têm alcançado os Pikachus, Poliwags e Charmanders. Resta, então, me contentar em fotografá-los; quem sabe para um novo álbum de família?

(*) A jornalista Juliana Vercelli trabalha na agência Market21 – Relações Públicas, Marketing & Comunicação e pode ser contatada através do Facebook facebook.com/juliana.vercelli e do Linkedin br.linkedin.com/in/julianavercelli  

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When my friend, the journalist Juliana Vercelli (*), was notified through her cellular that Pokemon Go had been launched in Brazil, she promptly asked a team mate to help her download the game and explain its dynamics. Then, she sent me a funny email saying she could not avoid the surprise with such a technology, since her brain “was built with valves instead of the chips babies are now born with”. And she completed:


“When I was a child, my high tech entertainment was to watch my dad replace ther burned valves in our TV set J. Over time, I saw the Pac Man games evolution and here I am in the 21st century watching people to chasse virtual pocket monsters everywhere. It is too much to process. Even to whom has worked most of its professional life in the technology industry, like me”.

As Juliana, I have also worked most of my professional life in this area. Actually I still working  with IT companies as a consultant, but when we started – she and I – the area was called Informatics, its operations in Brazil were limited by a market reservation and anyone who wanted to work with it had to prove the ability to translate a bunch o tech achronisms to a language everyone could understand. Steve Jobs and Bill Gates were still playing in their garages to create the interfaces that made that tech world friendly.

Since then, Julana and I watched everything happen. From MACs and PCs breakthrough, that transformed our daily work tools, to internet fenomena, that brought the world to our screens through a click and reshaped the way we connect to each other. If on one hand I do not intend to tell this whole story here, on the other I think it is worth to share my passion for technology and, at the same time, my permanent resistance in adopting the new ones in their launch first moments.

Actually, I believe the two things are related. The passion comes from the simplistic, almost childish, perspective that technology is the bridge that brings to reality everything that, till then, belonged to the magic and fantasy world. To whom, like me, grew up reading Monteiro Lobato (**) and Julio Verne (**), it is as if what they described in their books could become real at any time J and this is fascinating.

And this fascination is what makes me challenge my conservative resistance to new technologies to try them. It was like this when I replaced my typewriter by a PC, my pager by a mobile phone and  when I bought my first smartphone and accepted I should connect with people through social media not only for professional reasons. I confess that till today I still getting confused by the excessive number of keys in any remote control and that I still driving a mechanic car – a Ford KA 2006, called Tomato (yes, it is red) and that has just completed 20.000 miles driven.

But if cars embarked technologies have not seduced me, I am a big fan of on line games. I know, I know this is not coherent, but  human beings are made of contraditions, aren’t them? And this is why I save some of my spair time to improve my performance in Crazy Crash, Farm Heroes, Cupcake Mania, among others. And now, of course, Pokémon Go!

So, excuse me my dear friend Juliana, but I have been enjoying to bump with the pocket monsters at home. I do not know if I will have the courage to chasse them outdoors – probably not --  because I am not good on taking aims and the virtual balls have been rarely reaching the Picachus, Poliwags and Charmanders. I have been compensating my lack of hability taking pictures of them; maybe to create a new family album J … Who knows? 

(*) The journalist Juliana Vercelli works for the agency Market21 – Relações Públicas, Marketing & Comunicação and can be reached through Facebook facebook.com/juliana.vercelli and Linkedin br.linkedin.com/in/julianavercelli  

(**) Monteiro Lobato is a Brazilian writer. Julio Verne is a French writer.