Quem sou eu

sábado, 25 de março de 2017

Simples assim / Simple like that

“A vida é curta. Temos que ser bons uns com os outros”.

Sei que, para muitos,  essa afirmação cheira a pregação religiosa. Sei que, para outros tantos, ela esbarra nas fatídicas receitas de auto-ajuda que proliferam nas redes sociais e nas prateleiras das livrarias. Sei que, por conta disso, e de cara, alguns rotularão este post de ingênuo, bobo, raso, e desistirão da leitura antes de se aventurarem por este parágrafo. Eu mesmo, confesso: talvez reagisse dessa forma, se não a tivesse escrito. E me pergunto quantas vezes não tirei conclusões precipitadas e definitivas, baseada apenas numa primeira impressão

Aos que persistiram na leitura até aqui, agradeço de antemão. Obrigada por me darem a chance de compartilhar o que há por trás da afirmação de aparência simplória que abre o post. Obrigada por não ratificarem a máxima que, no século passado, Luigi Pirandello eternizou e questionou em peça teatral – assim é (se lhe parece). Obrigada por duvidarem do que na prática da comunicação, principalmente a exercitada no mundo corporativo, afirmamos sem pestanejar: você só tem uma oportunidade para causar uma boa primeira impressão, se não aproveitá-la,… Caput!

É simples. Nào há tolerância para dar segundas chances, para analisar uma mesma situação sob outro ângulo. Não há tempo para cogitar equívocos – o ritmo precisa ser frenético. Não há meios para relativizar perspectivas – a verdade precisa ser única e absoluta. Não, não e não, ponto. Simples assim, usando aqui a expressão que virou moda nos julgamentos-quase-linchamentos que se tornaram rotina na web. Nos tribunais virtuais que, falsamente, se definem como fórum para discussão e que amplificam em memes suas sentenças. Sem direito à defesa. Sem espaço para divergências.

Simples assim… Só que não.

Porque a simplicidade transcende à simplificação dos juízos prematuros; permeia veias opostas às da arrogância e prepotência; Ilumina a cegueria dos que tateiam em busca de algo que dê sentido à vida. Alguém como minha amiga Valerie Maslar que, semanas atrás, ao se ver abatida por situações difíceis que vem enfrentando no trabalho, decidiu dar um tempo para tentar olhar tudo através de  “outras lentes”; como providência imediata, saiu para dar uma volta no shopping.
Valerie, minha amiga falando do que mais ama em seu trabalho

Lá, resolveu fazer comentários gentis a quem encontrasse.

“Gosto dos seus sapatos, sua gravata é linda, seu corte de cabelo lhe cai bem”… Ela foi dizendo aos desconhecidos com quem cruzava. “À medida que fazia isso – conta --, me sentia melhor.”

Foi quando notou um senhor acompanhando cinco idosos com necessidades especiais.  Ele os ajudava a contar o dinheiro que traziam, a comprar o próprio almoço e a se acomodar para comer. Valerie se aproximou e disse ao homem como o achava admirável por fazer aquele trabalho. Acabou se juntanto ao grupo e compartilhando daquele almoço, em que todos falaram um pouco de si. Sentiu-se imensamente grata por poder desfrutar daqueles momentos com aquelas pessoas. Expressou sua gratidão antes de, por fim, voltar ao trabalho.

“Lá tudo continuava igual” – conta ela. “As mesmas pessoas, com os mesmos comportamentos. Mas eu havia mudado. Havia me dado conta de que a vida é curta. Havia me dado conta de que precisamos ser bons uns com os outros”.

Simples, verdadeiramente simples, assim.

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"Life is short. We have to be good to each other. "

I know that for many, this statement smells like religious preaching. I know that for so many, she comes up against the fateful self-help recipes that thrive on social networks and bookstore shelves. I know that, because of that, and face-to-face, some will label this post naive, silly, shallow, and give up reading before venturing into this paragraph. I myself, I confess, might have reacted this way if I had not written it. And I wonder how many times I did not make hasty and definitive conclusions, based only on a first impression

To those who persisted in reading this far, thank you in advance. Thank you for giving me the chance to share what is behind the simple-looking statement that opens the post. Thank you for not ratifying the maxim that, in the last century, Luigi Pirandello eternalized and questioned in a play - so it is (if it seems to him). Thank you for doubting that in the practice of communication, especially that practiced in the corporate world, we affirm without blinking: you only have an opportunity to make a good first impression, if not to take advantage of it, ... Caput!

It's simple. There is no tolerance to give second chances, to analyze the same situation from another angle. There is no time to think about mistakes - the pace must be frantic. There is no way to relativize perspectives - truth must be unique and absolute. No, no and no, period. Simple like this, using the expression that has become fashionable in the judgments-quasi-linxamentos that have become routine on the web. In virtual courts that, falsely, define themselves as a forum for discussion and that amplify in memes their setenças. No right to defense. No room for disagreement.

Simple like that ... Just not.

Because simplicity transcends the simplification of premature judgments; Permeates veins opposed to those of arrogance and arrogance; It illuminates the blindness of those who grope in search of something that gives meaning to life. Someone like my friend Valerie Maslar who, weeks ago, when she was depressed by the difficult situations she's been facing at work, decided to take the time to try to look at everything through "other lenses"; As an immediate providence, went out for a walk in the mall.

There, he decided to make kind comments to anyone he met.

"I like your shoes, your tie is beautiful, your hairstyle fits you" ... She went to tell the strangers with whom she crossed. "As I did this," he says, "I felt better."

That's when he noticed a man accompanying five elderly people with special needs. He helped them count the money they brought, buy their own lunch, and settle down to eat. Valerie approached and told the man how admirable he was for doing that job. He ended up joining the group and sharing that lunch, where everyone talked a little about themselves. She felt immensely grateful to be able to enjoy those moments with those people. He expressed his gratitude before finally returning to work.

"There everything was the same," she says. "The same people, with the same behaviors. But I had changed. I had realized that life is short. I realized that we need to be good to each other. "

Simple, truly simple, like that.
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sábado, 18 de março de 2017

Sem inspiração / Without inspiration

“Por que não?!“

“Porque não.“

“Mas por quê?!!!!”

“Porque sou sua mãe e criança não tem querer!”

“.” (ponto final). 

Se acontecesse hoje, esse diálogo pareceria surreal e autoritário. Entre os anos cinquenta e sessenta, ele seguramente permeou a infância de muitos, como eu, nascidos e crescidos nessas décadas.  E entre os meus contemporâneos, posso apostar:  o ponto final era  logo proferido como resposta ao primeiro ‘por que não?’;  sem espaço para tergiversações. Portanto, a continuidade do questionamento em mais duas interações não era usual. Para os chamados pais modernos da época, significava abertura e tentativa de mais aproximação com os filhos;  para os identificados como pais status quo,  era o sinônimo de falta de pulso dos adultos e petulância  das crianças.

Enfim…

Atravessei  minhas diversas idades entre a infância, a adolescência e a chamada maior idade, desafiando aquele ponto final que só determinava e nada explicava. Através da provocação dos meus ‘por ques não’, fui me descobrindo articulada, capaz de arquitetar argumentos além da considerada pergunta-petulante. Só muito mais tarde descobri que a insistência era a minha tentativa de transformar aquele  diálogo-embate em uma conversa de verdade. A conversa em que um fala, o outro ouve, escuta, digere, entende, concorda (ou não) e, a partir daí, reage, expressando o que pensa, o que sente…
Razões à parte, fato é: cresci e amadureci fazendo perguntas. E não foi à toa que escolhi o jornalismo como profissão – era a trilha necessária para que me aperfeiçoasse na arte de pontuar com interrogações; para que, assim, eu pudesse arquitetar as respostas essenciais para a minha própria vida.  

E por que não?!...

Porque…

Porque hoje me flagrei flanando pela web em busca de um tema inspirador para este post. Naveguei, naveguei, naveguei e cheguei a lugar algum. Deparei com tantas certezas absolutas sobre tudo e todos, que me perdi nesse mar de convicções.  Nem ousei questioná-las – não havia espaço para diálogo, só uma sucessão de pontos finais. Na verdade, quase me afoguei, ao tentar, à revelia de explicações, mergulhar fundo naquela profusão de verdades inquestionáveis. Nessa tentativa inglória de entender, até me esqueci que não sei nadar --  mal aprendi a boiar…  Afundei.

O gato Onassis e seus bigodes ressuscitadores 
… Voltei a mim, estirada no chão, com meu gato Onassis deitado sobre meu peito,  me dando cabeçadas na face e enfiando os bigodes nas minhas narinas. Acho que essa é a versão felina do procedimento para salvamento de afogados (ou quase). Não importa o que seja: me resgatou. E aqui estou eu ainda em busca de temas sobre os quais escrever e me perguntando: por que não?

Por que não compartilhar minha falta de inspiração? Por que não expressar minha estupefação diante de tantas certezas?  Por que não duvidar de tantas verdades incontestáveis, mesmo que meu racional quase sexagenário seja apenas uma intuição, um sentimento inprovável?  Por que não exercer a liberdade de apenas perguntar por que não, sem vergonhas ou compromissos, como eu fazia na infância e depois fiz ao longo da vida?

Por que não?

Por que não? Como Caetano proferiu ao vento, numa caminhada libertária de dezembro, em que não precisou de lenço ou documento para provar a que vinha e veio.  Por que, depois de tantas madrugadas debruçada sobre livros, não tergiversar eu mesmo sobre qualquer verbo, sobre qualquer verso dos grandes trovadores?  Por que não eu? Afinal, já faz tempo que adentrei a vida adulta, atravessei a ponte do amadurecimento e aqui estou encarando a maturidade – a porta da chamada terceira idade, o caminho da velhice, a rota que tantos reconhecem como última etapa e que me nego a aceitar como fim. Prefiro a definição do poeta Manoel de Barros que, perto dos cem anos, se dizia em “direção às origens”.

Então, por que não?  Por que não navegar em busca de onde tudo começou, seja lá onde isso for?

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"Why not?!"

"Because the answer is NO."

"But why?!!!!"

"Because I am your mother and children do not wish anything!"

"." (period).

Today this dialogue would be seen as surreal and authoritarian. Between the fifties and sixties, it surely pervaded the childhood of many, like myself, born and raised in those decades. And among my contemporaries, I can bet: the period answer was immediately given in response to the first 'why not?'; Without room for misrepresentation. Therefore, the continuity of the questioning in two other interactions was not usual. For the so-called modern fathers of the time, it meant openness and an attempt to get closer to the children; For those identified as status quo parents,  it was a synonymous for the lack of adult’s pulse and for children’s petulance.

Anyway ...

I went through my various ages between childhood, adolescence and adulthood challenging that ‘period answer’. Through my ‘why nots’ , I found myself articulate, able to construct arguments beyond the considered petulant question. Only much later I discovered that the insistence was my attempt to turn that dialogue-clash into a real conversation. The conversation in which one speaks, the other listens, digests, understands, agrees (or does not) and, from there, reacts, expressing what he/she thinks, what he/she feels ...
Reasons aside, fact is: I grew up and matured asking questions. And it was not for nothing that I chose journalism as a profession - it was the necessary path for improving my abilities in the art of punctuating with questions; So that I could then come up with the essential answers for my own life.

And why not?!...

Because…

Because today I found myself flanking the web in search of an inspiring theme for this post. I browsed and browsed around and got nowhere. I came across so many absolute certainties about everything and everyone, that I lost myself in this sea of ​​convictions. I did not even dare question them - there was no room for dialogue, just a succession of periods. In fact, I almost drowned, trying, in the absence of explanations, to plunge deep into that profusion of unquestionable truths. In this inglorious attempt to understand, I even forgot that I can not swim - I barely learned to float... I sank.

... I came back to me, stretched out on the floor, with my Onassis cat lying on my chest, smacking my cheeks and thrusting his whiskers into my nostrils. I think this is the feline version of the drowning (or almost) rescue procedure. No matter what it is, I was rescued. And here I am still in search of topics on which to write and asking myself: why not?

Why not share my lack of inspiration? Why not express my astonishment at such certainties? Why not doubt so many incontestable truths, even if my almost sexagenarian rational is only an intuition, an unprovable feeling? Why not exercise the freedom to just ask why not, without shame or compromise, as I did in childhood and then did throughout life?

Why not?

Why not? As Caetano uttered in the wind, in a libertarian march of December, in which he did not need a handkerchief or document to prove himself. Why, after so many dawns bent over books, do I misrepresent myself about any verb, about any verse of the great troubadours? Why not me? After all, I have entered adult life for a long time, I crossed the bridge of maturity and here I am facing the door of the so-called old age, the route that so many recognize as the last step and which I refuse to accept as end. I prefer the definition of the poet, Manoel de Barros, who, at about the age of one hundred years, used to say "towards the origins".

So, why not? Why not navigate towards the place where it all started, wherever it goes?

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sábado, 11 de março de 2017

Sempre às oito da noite / Always at 8:00 pm

Na semana em que o Dia Internacional da Mulher foi celebrado em todo o mundo com maniferstações pela igualdade de direitos e alarde em torno dos altos indices de violência contra o chamado ‘sexo frágil’,  uma leitora do 2xTrinta, a quem darei o codinome de Maria, me contatou pedindo para contar a sua história através do blog.  Uma história de cinco anos de abusos e que, só em 2015, quando ela finalmente tomou coragem para denunciar o marido, passou a integrar as estatísticas oficiais dos crimes contra a mulher.  Em nome de todas as Marias que ainda permanecem em silêncio diante da violência conjugal, compartilho aqui o relato dessa que há dois anos conseguiu dizer basta e hoje segue reconstruindo sua vida.

Maria se casou,  em menos de seis meses, com um homem que conheceu numa viagem.  Até então, tivera um relacionamento longo e estável com um colega de mestrado, que acabou não indo adiante, justamente porque ela titubeava em dar o próximo passo: casar-se. Médica, na época, ainda em fase de consolidação de carreira, ela acreditava que primeiro precisava estabilizar-se na profissão, para só então encarar as demandas de uma vida conjugal. Aos 38 anos, durante as primeiras férias longas em uma década, se viu vivendo uma daquelas paixões avassaladoras. Em um semestre, conheceu o parceiro, a quem chamaremos de‘B.’, namorou, noivou e casou. Oito meses depois, o que parecia ser a materialização de um conto de fadas transformou-se em pesadelo.

“A diferença – diz ela --  é que do pesadelo você acorda”.

E foi acordando ‘B.’ , ao retornar pra casa de um plantão que se tornara mais longo, em virtude de complicações com pacientes, que Maria deparou com a sua primeira mudança de comportamento. O companheiro amoroso, que sempre a recebia com abraços e café fresco, a submeteu a um interrogatório minucioso sobre tudo o que ocorrera no hospital e sobre todos que com ela haviam compartilhado aquela jornada na emergência. Uma demonstração de ciúme que, num primeiro momento ela até tentou levar com bom humor, mas que foi se tornando assustadora, à medida em que ‘B.’ começou a lhe exigir explicações de forma agressiva.

“À medida que ele perguntava por que eu não havia ligado para avisar que o plantão se estenderia e eu respondia que não vira necessidade, na medida que ele sabia onde eu estava e conhecia a natureza do meu trabalho, ele foi perdendo o controle da própria irritação – conta ela.  E descreve: “Ele começou a andar de um lado para o outro, a bater com as portas dos armários e a gritar que eu não não o havia levado em consideração. Só se acalmou quando, assustada e intimidada por aquela atitude, pedi desculpas, como se tivesse feito algo errado, e prometi ser mais cuidadosa numa próxima vez’.

Hoje, Maria sabe que foi naquele momento, com aquela reação, que estabeleceu com o marido uma relação, em que ela passaria a ser sempre culpada por despertar a agressividade dele.

“E na cabeça de quem se sente culpada, diz ela, a punição é merecida”.

Ao longo do tempo, as cenas de ciúme temperadas por agressões verbais foram se tornando cada vez mais frequentes. Segundo Maria, elas eram sempre causadas pelo que ‘B.’ considerava como uma desatenção sua – para ele, provas de que ela já não o amava como antes -- e sempre terminavam da mesma forma: com ela se sentindo culpada, pedindo desculpas e reiterando o seu amor. A convivência foi ficando tão difícil, que Maria chegou ao ponto de permitir que ‘B.’tivesse acesso irrestrito a sua agenda; queria provar a qualquer custo que não tinha nada a esconder.  Em vez disso lhe trazer paz, transformou sua vida em um inferno, com o marido monitorando cada minuto da sua rotina e a torturando com interrogatórios, cada vez que os imprevistos aconteciam.

“Como na vida de um médico os imprevistos são comuns – conta ela – eu vivia sobressaltada, antecipando e me preparando para as sessões de prestação de contas”.

Até o dia em que, acordada no meio da noite pelo chamado de uma paciente em trabalho de parto, negou a ‘B.’ a oferta de acompanhá-la ao hospital. Explicou que precisava se concentrar para fazer aquele atendimento e, sem mais delongas, determinou que iria sozinha.

Foi.

Ao voltar, preparada para responder ao interrogatório da vez, estranhou o silêncio do apartamento. Acabou surpreendida pelo vulto que lhe aplicou uma gravata, quando entrava na cozinha; por um segundo, achou que a casa tivesse sido arrombada e que ela estava sendo atacada por um ladrão. Até que os xingamentos começaram e neles ela reconheceu a voz do marido.

“Junto com os xingamentos vieram os socos e as bofetadas” – conta ela, tentando controlar a vontade de chorar. “Os primeiros de muitos que se tornariam parte do meu cotidiano dali pra frente”—completa.

Durante um ano, Maria se submeteu calada a uma rotina de espancamento e agressões do marido. Uma rotina que passou a ser quase diária e a ter hora marcada; sempre às oito da noite. Uma rotina que minou tanto sua auto-estima e capacidade de discernimento,  que a levou a desistir da própria profissão.

“Eu achava que se me dedicasse só a ele, tudo aquilo acabaria”, explica.

Não acabou.

Não acabou até o dia em que, desesperada, Maria fugiu de casa e recorreu a uma organização que acolhe mulheres abusadas. Foi ali, que junto com tantas outras na mesma situação, ela foi juntando os seus pedaços, foi entendendo por que aceitara e permanecera tanto tempo subjulgada num relacionamento. Foi ali que recuperou a vontade de reconstruir a própria vida e retomou a prática da medicina – sua profissão de fé e sustento. Foi ali que tomou coragem para, sem sentimento de culpa, denunciar e processar o marido. Ele acabou e está na prisão.  Ela se diz recomeçando.  Contar a própria história através deste blog faz parte desse processo; ela explica:

“Minha história fica registrada aqui como página do passado, para que eu possa escrever as páginas do futuro. Tomara que isso também dê força às mulheres silenciosas e silenciadas, que ainda não tiveram coragem de virar a página para tomar suas vida nas próprias mãos”.

Tomara, Maria, tomara!

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In the week that International Women's Day was celebrated around the world with demonstrations of equal rights and boasts around the high levels of violence against the so-called 'fragile sex', a reader of Twice Thirty, whom I will code Maria, contacted me asking to tell her story through the blog. A history of five years of abuses and that, only in 2015, when she finally took the courage to denounce her husband, joined the official statistics on crimes against women. In the name of all the Marias who still remain silent in the face of conjugal violence, I share the story of this woman who two years ago managed to say enough and today continues to rebuild her life.

Maria married a man she had met on a trip in less than six months. Until then, she had had a long and stable relationship with a fellow student, who did not go any further, precisely because she hesitated to take the next step: marrying. A physician at the time, still in the process of career consolidation, she believed that she first needed to stabilize her profession, to face the demands of a married life. At age 38, during her first long vacation in a decade, she found herself experiencing one of those overwhelming passions. In one semester, she met the partner, whom we will call B.', dated, engaged and married. Eight months later, what appeared to be the materialization of a fairy tale turned into a nightmare.

"The difference," she says, "is that from the nightmare you wake up."

And it was awakening 'B.', when she returned home from a shift that had become longer due to complications with patients, that Maria noticed his first change of behavior. The loving companion, who always received her with hugs and fresh coffee, subjected her to a thorough questioning about everything that had happened in the hospital and about everyone who had shared that emergency journey with her. A demonstration of jealousy with which, at first, she even attempted to deal in a good mood, but that became daunting, as 'B.' began to demand explanations aggressively.

"As he asked why I had not called to tell him that the shift would be extended and I responded that I had not seen need, as he knew where I was and knew the nature of my work, he started losing control of his own Irritation, "she says. And she describes: "He started pacing, knocking on the closet doors and yelling that I had not taken him into account. He only calmed down when, frightened and intimidated by that attitude, I apologized, as if I had done something wrong, and promised to be more careful next time. '

Today, Maria knows that it was at that moment, with that reaction, that she established a relationship with her husband, in which she would always be guilty for arousing his aggressiveness.

"And in guilty minds, she says, punishment is deserved."

 Over time, scenes of jealousy tempered by verbal aggression became more and more frequent. According to Maria, they were always caused by what 'B.' regarded as her inattention - to him, proofs that she no longer loved him as before - and always ended the same way: with her feeling guilty, apologizing and reiterating her love. The coexistence was getting so difficult, that Maria went so far as to allow 'B.' to have unrestricted access to her agenda; she wanted to prove at any cost that she had nothing to hide. Instead of bringing her peace, this attitude turned her life into hell, with her husband monitoring every minute of her routine and torturing her with questioning every time different things happened.

"As in the life of a doctor, unforeseen events are common - she says - I was always startled, anticipating and preparing myself for those questioning sessions."

Until the day when, awakened in the middle of the night by the call of a patient in labor, she denied 'B.' the offer to accompany her to the hospital. She explained that she needed to focus on that care and, without further ado, determined that she would go alone.

She went.

On returning, prepared to respond to the interrogation of the time, she was surprised by the attack of a man when she walked into the kitchen; For a second, she thought the house had been broken into and that she was being attacked by a thief. Until the curses began and in them she recognized  her husband’s voice.

"Along with the name-calling, punches and slaps came," she says, trying to control the urge to cry. "The first of many who would become part of my daily life from there" – she concludes.

For a year, Mary was silent in a routine of beating and aggressions from her husband. A routine that happened to be almost daily and became an appointment; always at eight pm. A routine that undermined both her self-esteem and ability to discern; which led her to give up her own profession.

"I thought if I dedicated my life only to him, it would all end," she explains.

It's not over. It was not over until the day when, in desperation, Maria ran away from home and turned to an organization that welcomes abused women. It was there that, along with so many others in the same situation, she gathered her pieces, she understood why she had accepted and remained so long subjugated in a relationship. It was there that she regained her will to rebuild her own life and resumed the practice of medicine - her profession of faith and sustenance. It was there that she took the courage to, without feeling guilty, denounce and prosecute her husband. He is in jail. She says she is starting over. Telling the story through this blog is part of the process; she explains:

"My story is recorded here as a page from the past, so I can write the pages of the future. Hopefully this will also give strength to the quiet, silenced women who have not yet had the courage to turn the page to take their life in their own hands. "

I hope too, Maria.

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