Dar tempo ao tempo. Já perdi a conta de quantas vezes, ao longo
das minhas seis décadas de vida, essa expressão contrapôs minhas ansiedades,
minhas inquietações. Em forma de conselho, consolo, advertência, não importa: a
ideia de que o tempo cura tudo, resolve tudo, sempre pontuou os momentos em que
não encontrei respostas e/ou em que as
respostas obtidas não me satisfizeram. O que ninguém me disse e levei alguns
anos para descobrir é que ‘dar um tempo’ não significa se acomodar na espera. Na espera de que os
dias passem, um milagre aconteça e todas
as questões inbricadas se esclareçam, assim,
num estalar de dedos, como num passe de
mágica.
Imagem Google |
A conversa, na semana passada, com
um amigo pelo menos três décadas mais jovem do que eu, me fez pensar sobre isso. Seis anos atrás, ao ver-se infeliz no
programa de trainee de uma grande
empresa, ele chegou à conclusão que precisava de um tempo para saber o que
realmente queria fazer profissionalmente. Ciente de que a família não o apoaria
na decisão de largar tudo para embarcar no que, então, chamava de “processo de
averiguação”, ele passou um ano juntando
todo o dinheiro que ganhava, a fim de bancar o que hoje define como a “a
aventura de traçar o próprio destino”.
Passou quase três anos de mochila
nas costas, rodando o mundo. Visitou os cinco continentes. Bem no início desse
périplo, percebeu que, se não achasse uma forma de trabalhar e ganhar algum, o
dinheiro que tinha mal daria para seis meses. Então, resolveu colocar a mão na
massa; literalmente.
Nesse período, trabalhou como
garçom, faxineiro, copeiro, recepcionista, tarifeiro, motorista de taxi,
auxiliar de pedreiro e o que ‘pintasse’ no país seguinte e o remunerasse
honestamente. Ao mesmo tempo, aprendeu a cozinhar, varrer,
bater uma laje, meditar, programar software, falar sueco e mandarim. Voltou ao Brasil a
bordo de um cruzeiro, trabalhando como pianista. Finalmente, entendeu para que
serviram os oito anos de conservatório que ocuparam uma boa fatia da sua
infância e o fizeram praguejar uma boa parte da adolescência. Ali estava ele,
finalmente, protagonista e intérprete da trilha sonora da sua epopéia como globe trotter…
Desembarcou em Santos, convicto do
que queria fazer. Levou mais três anos trabalhando no que, aparentemente, não
tinha nada a ver, para se estruturar e empreender seu próprio negócio.
“Precisei de todo esse tempo para me
testar, errar, aprender, amadurecer e ter clareza sobre quem eu sou, para onde
quero ir e como desejo chegar lá – diz ele. – Há quem diga que foi muito tempo.
Eu acho que foi o necessário para obter respostas. As respostas para as perguntas que
nunca deixei de fazer”.
A última frase do meu amigo ficou
martelando na minha cabeça, enquanto, sem saudosismos, revisitei minhas próprias perguntas. As
questões que, ao longo do tempo, moveram/movem a minha vida e cujas respostas
tive/tenho que buscar por mim mesma. Aquilo que ninguém te conta e que a
simples e inexorável passagem do tempo, por si só, não responde.
Por exemplo: se a infância é a
melhor fase da vida, por que houve momentos -- looooooooongos momentos -- em que me senti tão
infeliz? Se a adolescência é um períodoo de transição, em que tudo que vem dos
pais é questionado e, muitas vezes, deletado, por que escamoteei minha rebeldia
e fiz a travessia sem traumatismos (pelo menos para eles)? Se a maior idade
começa aos 18 anos e a vida adulta aos 21, por que só reconheci o final da adolescência
ao beirar os 30? E se é a partir dessa idade que o relógio biológico acelera no
tique-taque do querosermãe/precisosermãe/queroeprecisosermãe!!!!!!!!!!, por que
recolhi até próximo os quarenta anos essa minha certeza -- existente desde
sempre -- de que eu não nasci para e nunca seria mãe?
Imagem Google |
Talvez porque os quarenta anos sejam
um momento de chegada a um patamar de consciência, reconhecimento, serenidade e
plenitude. Um momento realmente pleno. Um momento que, TO-LI-NHA!, achei:
duraria forever and ever (em inglês,
para sempre parece ainda mais duradouro, Rs Rs Rs). Mas que foi só um momento;
nem breve, nem longo; só um momento. Uma fração de tempo numa trajetória que
seguiu pelos cinquenta, tateando novas (e algumas velhas) dúvidas, e chegou aos
sessenta com algumas, poucas certezas.
Ainda bem. Porque é essa habilidade
de seguir perguntando por quê? Para quê? Como? E, de novo e sempre, por quê? Essa
capacidade de formular peguntas, através do tempo e apesar do tempo, sobre
aquilo que ninguém nos conta, mas que são as questões que movem a vida, que nos
mantém vivos. Vivos e famintos. Vivos e sedentos. Vivos e aptos e… Ou seria o
inverso? Não importa. Vivos e prontos para a próxima etapa.
Então, what is next? (O que vem adiante?)
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Give time to time.
I do not know how many times, over the course of my six decades of life, this
expression was the answer to my anxieties, my worries. In the form of advice,
support, warning, it does not matter: the idea that time heals everything,
solves every issue, always punctuated the moments when I did not find answers
and / or the answers obtained did not satisfy me. What no one told me and it
took me a few years to find out is that 'taking a break' does not mean
accommodating in waiting. In the hope that the days pass, a miracle happens and
all the questions are clarified, thus, in a snap of fingers, as in a magic
trick.
The conversation,
last week ,with a friend at least three decades younger than me made me think
about it. Six years ago, finding himself unhappy in a large company trainee
program, he came to the conclusion that he needed time to know what he really
wanted to do professionally. Aware that his family would not support him in
dropping everything to embark on what he called a "process of inquiry,"
he spent a year saving all the money he earned in order to sponsor what he now
defines as " the adventure of tracing one's destiny. "
He spent almost
three years backpacking around the world. He visited the five continents. Right
at the beginning of this journey, he realized that if he did not find a way to
work and earn some money, the amount he had would be spent in six months. Then
he decided to put up his sleeves; literally.
During that time,
he worked as a waiter, butler, receptionist, taxi driver, bricklayer, and
whatever he found in the next country that allowed him to earn his living honestly.
At the same time, he learned how to cook, sweep, build a wall, meditate,
program software, speak Swedish and Mandarin. He returned to Brazil in a
cruise, working as a board pianist. And finally, he understood how the eight years
dedicated to music studies, during his childhood and part of his teenage years,
helped him find his fade.
He landed in Santos
(*), convinced of what he wanted to do. It took him another three years working
on what apparently had nothing to do with it, to structure and start his own
business.
"It took me
all this time to test myself, make mistakes, learn, mature and be clear about
who I am, where I want to go, and how I want to get there," he says.
"A lot of people say it's been a long time." I guess that was what
was needed for me to get answers. The answers to the questions I never stopped
asking. "
My friend’s last
sentence got hammering in my head, while, without nagging, I revisited my own
questions. The questions that, over time, moved / still moving my life and
whose answers I had / have to seek for myself. Those about which no one tells
you and that time simply going by does not respond.
For example: if
childhood is the best phase of life, why were there moments - loooooooooong
moments - when I felt so unhappy? If adolescence is a transitional period, in
which everything that comes from the parents is questioned and often deleted,
why did I conceal my rebellion and make the crossing without traumatism (at
least for them,mom and dad)? If being 18 determines the end of teenage years
and adulthood starts at age 21, why did
I only recognize the end of my teenage years when I were 30? And if it is from
that age onwards that the biological clock accelerates in the ticking of I WANT TO BE A MOTHER! Why did I wait till
almost turn to forty to make the statement: I hate children and will never be a
mother?
Perhaps because the
forties are a moment of awareness, recognition, serenity and fullness. A really
full moment that I thought would last forever and ever, but that was only a
moment -- neither short nor long: only a moment. A time fraction in a journey that was followed
by the fifties with its new (and some old) doubts, and reached the sixties with
some, few certainties.
Good. Because it is
this ability to keep asking why, for what and, again and again, why that keeps us alive. It is this ability to
formulate questions, over time and in spite of time, about what no one tells
us, but are the issues that move life, that keeps us alive and hungry. Alive
and thirsty. Alive and ready for the next step.
So, what is next?
(*) Santos is the port in São Paulo state.