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sábado, 23 de julho de 2016

A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE / WE NEVER FORGET THE FIRST TIME

Eu sei, a frase é clichê. Mas quem não se lembra do primeiro dia na escola, da primeira melhor amiga para a vida toda, da primeira paixão platônica, da primeira langerie, do primeiro beijo?...  Quem não se lembra de todas essas (e muitas outras) intensas e longínquas primeiras vezes? Essa rede de clichês tecida na delicadeza das percepções infantis,  depois,  no arrebatamento das descobertas adolescentes e, bem mais tarde, nas sutilezas que se anunciam através do primeiro fio branco em um lado das têmporas, da primeira ruga de expressão no canto dos olhos e da primeira vez que alguém desconhecido te chama de senhora.

Sim, senhora!

Lembro como se fosse hoje.  Eu não tinha ainda chegado aos quarenta, viajava distraída no banco traseiro de um táxi apreciando a paisagem do aterro do Flamengo, quando,  de repente, o motorista perguntou:  a senhora tem algum caminho de preferência? Eu estava tão convicta  de que ele não se dirigia a mim, que cheguei a procurar em volta pela senhora que partilhava o táxi comigo. Acho que teria me assustado menos se houvesse encontrado uma companheira de viagem ao meu lado,  numa época em que nem se sonhava com o Uber, do que ter constatado que estava sozinha com o motorista e que, portanto, a dita cuja senhora era EU!.

Confesso: até hoje ainda me surpreendo com o tratamento, por mais rotineiro que ele tenha se tornado, desde aquela fatídica e desavisada primeira vez no táxi. Meu primeiro reflexo continua sendo querer olhar em volta à procura da tal senhora que vêem em mim e que eu ainda não reconheço na imagem refletida nos espelhos e nas vitrines. Porém, já consigo conter a reação instintiva de buscá-la fora de mim;  engulo em seco, sorrio e, dependendo da situação e do interlocutor, até respondo: pode me tratar por você.

Outro dia, conversando com uma amiga sobre esse meu estranhamento permanente, ela, que tem onze anos menos que eu, me contou nunca ter tido problemas com o tratamento de senhora, mas que um ano atrás se sentiu constrangida, ao ter que explicar à vendedora da farmácia que o bebê que trazia no colo e cuja idade ela (a vendedora) queria saber, não era seu neto, mas sim seu filho. Pior, ao constatar o embaraço da moça, ainda completou:

"É.. Foi tarde, mas ainda deu tempo!"

Ao que a vendedora, entre constrangida e aliviada,  respondeu:

"É...  Benza Deus, senhora!"

Você já experimentou alguma situação desse tipo que gostaria de compartilhar?

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I know, this is a cliche. But who does not remember the first day at school, the first for ever best friend, the first platonic love, the first lingerie, the first kiss?... Who does not recall these (and many others) intense first times? A cliche sequence made of soft memories from childhood, then, passionate  teenagers' discoveries and, later, of sutile insights that announce themselves through the first silver curl in one side of the fronthead, the first expression wrinkle close to the eyes and the first time a stranger addresses you as madam.

Yes, madam!

I remember as if it was today. I was not even close to the forties, was commuting on the back seat of a cab, when the driver asked: do you have any preferred way to get to this address, madam? I was so sure he was talking to somebody else that I looked for whom was sharing the cab with me. I think I would have become less surprised if I had found another passenger besides me in a time when Uber did not exist than realizing I was alone in the cab, so the 'dear madam' was ME!

I confess: I still getting surprised everytime someone addresses me as madam, although the treatment has become a routine since that first time in the cab, My first reaction of looking for the madam people see in me and that I can't see still, but nowadays I succeed in controlling it. I swallow the sound of the word madam, smile and, pending on the situation and/or the person who is talking to me, I even say:  quit the madam formality, please.

Some time ago, sharing my permanent surprise with a friend who is eleven years younger than me, she told me she has never felt that way when addressed as madam, but, one year ago, noticed herself very embarrassed when she had to explain to a pharmacy attendant the little baby she was carrying was not her grandson, but her son.

"The worse part -- she said -- was when I tried to mitigate the attendant's embarrassment and said: yeah,... It was late, but in time!"

And the relieved attendant reacted:

"Yeah... God blesses you, madam!"

Have you already lived a similar experience you would like to share?





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