Quem sou eu

sexta-feira, 29 de julho de 2016

ENTRE A MINHA GERIATRA E ZECA PAGODINHO / Between my geriatrics and Zeca Pagodinho (**)

Beber dois copos d’água em jejum, todas as manhãs; alongar-se por cinco minutos ao acordar e antes de dormir; manter uma rotina de atividade física, com exercícios aeróbicos, de força, equilíbrio e flexibilidade; desafiar-se permanentemente com novos projetos; libertar-se das emoções negativas e pensamentos automáticos gerados pelo cérebro.

Eu sei que isso parece receita de livro de autoajuda e já posso antever leitores torcendo o nariz. Eu mesmo torci o meu, confesso, quando, ao conversar com a minha geriatra (sim, eu tenho uma!), Dra Carla Frohmuller (*), ela resumiu nesses cinco pontos o que definiu como o “elixir da longa vida saudável” . Ou seja: os hábitos que devemos incorporar, para atravessar o patamar dos 60 anos e ter a perspectiva de viver pelo menos mais trinta, sem comprometer a qualidade de vida e/ou pesar sobre as nossas famílias.

Torci o nariz, principalmente porque, ao me dar conta que coisas tão simples podem fazer toda a diferença, eu não estou fazendo nenhuma delas. Minto: corro na esteira três vezes por semana, o que é um quarto do  item sobre exercícios físicos; me desafiei a retomar uma velha paixão e,  voltar a escrever criando este blog, o que responde à parte de um novo projeto; e, no capítulo dos pensamentos automáticos, tenho, recorrentemente, combatido aquela vozinha que se instala dentro da cabeça da gente, repetindo ‘oh dia, oh céus, oh azar!’ – aqui, às vezes perco, às vezes ganho.  

Entendo que estou devendo muito. Devendo a mim mesma. Devendo a hidratação diária  que os dois copos d’água em jejum podem prover, já que, segundo a Dra. Carla, a partir dos 40 anos, nosso sistema vai secando e é preciso repor a água que ele não retém mais, se não quisermos  virar uma uva-passa. Devendo ao meu corpo o espreguiçamento que, segundo a geriatra, combate o enrijecimento das fibras,  o coloca no lugar pra começar o dia e o prepara para ter uma boa noite de sono – um dos pilares da vida saudável. Devendo os alicerces para manter esse corpo bem disposto e ágil, que --  ainda resgatando minha conversa com ela -- só uma prática equilibrada de exercícios proporciona. Devendo a leveza de alma, que só se torna sustentável, quando entendemos que o pensamento  faz parte da gente, mas não é a nossa integralidade e isso nos permite dar um passo atrás para observá-lo e não reagir a ele instantaneamente. Reconheço: essa foi a parte do papo que mais  me custou alcançar e, ao mesmo tempo, foi a que mais tocou meu coração.

Me custou, porque sou essa pessoa hiperartiva, ansiosa, multiprocessada, animada, irônica, muitas vezes, arrogante, insuportÁvel e que tenta entender tudo pelo lado racional – o oposto do que é ser zen.  Me tocou, porque  também sou essa pessoa contemplativa, sensível, doce, piegas, humilde, às vezes, nostálgica, tendendo até a ser deprimida – também o oposto do que é ser zen. E foi juntando esses meus dois lados não-zen, mas tão centrados e concentrados, que pude entender o que a Dra. Carla quis dizer com: “ditar ao seu cérebro a intenção dos seus relacionamentos”, “focar no presente” e  “reconhecer: tenho questões negativas para resolver e trabalhar, mas o pensamento é só um pensamento, não sou eu”.

Para ela, a resposta para atingir o estado de serenidade e clareza está na prática do mindfulness – um exercício mental que foca no ritmo da respiração profunda, visualiza uma imagem agradável e esvazia a mente de pensamentos. “Cinco minutos por dia são suficientes”, garante a geriatra. Há quem recomende a ioga, quem adote a macrobiótica associada ao Tai chi chuan e quem se dedique ao aprendizado de sâncristo, ou qualquer outra língua morta. Eu venho, há alguns anos, insistido na prática da meditação transcendental -- com o mantra que herdei num treinamento para calar a voz internitente dentro da cabeça --  e, como já disse aqui, às vezes consigo, às vezes não. Êta vozinha insistente e irritante essa!!!!!!!!!

Juntando e misturando tudo isso, mais um pouco daquilo que ainda não sei, pode ser que dê pra alcançar o que a máxima do Zeca Pagodinho melhor traduz como estado zen: … “Deixa a vida me levar, vida leva eu, deixa a vida me levar, vida leva eu”…

Prometo compartilhar aqui o que eu descobrir. Espero começar com algo que vocês possam me contar.

(*) A geriatra Dra. Carla Frohmuller é co-fundadora do Instituto Senior e autora dos blogs institutosenior.org.br e megamagra.com.br .

…………………………………………………………………………………………………

Drink two glasses of water on an empty stomach every morning; stretch for five minutes when getting up or before going to bed; keep a workout routine with exercises that demand resistance, strength, balance and flexibility; embrace new challenges, new projects; get free of the dark emotions and instantaneous thoughts created by the brain.

I know this looks like one of those receipes we find on self-help how to books and can foresee that critical look on the readers’ face. I confess: I made that face myself, when talking to my geriatrics (Yes, I have one!), Dr. Carla Frohmuller (*), she summarized in these five points what she defines as ‘the elixir of life’.  That means, the habits we should adopt to go through the sixties with the perspective of leaving another 30 years, without impacting the quality of life and/or being a burden to our families.

I made that face, because, at the same time I realized simple things can make a big difference, I noticed I am not doing none. I am lying: I jog on the threadmill three times a week, what is a portion of the point on working out; I have challenged myself to restart writing and here I am with this blog -- so that addresses the point on a new project; regarding the chapter on instantaneous thoughts, I have been permanently fighting that voice which keeps repeating dark statements in my mind – here, some times I lose and sometimes I win the battle.

I acknowledge the debt. I am actually in debt with myself. I owe me the daily hydratation provided by the two glasses of water on the empty stomach, since, according to Dr. Frohmuller, our system gets drier after the forties and we need to replace the water it does not retain any more , if we do not want to become as dry as a raisin.  I owe me the stretching practice that lubrificates my joints, waking up my body do start the day and preparing it to go to sleep, as the geriatrics says. I am also in debt with the complete workout session and with the efforts to make my soul lighter. Actually, to understand that my thoughts are part of me, but they are not ME, was the most difficult portion to get of the conversation with Dr. Froh, but it was also what mostly  touched my heart.

It was hard to get, because I am this multitasking, anxious, ironic, excited person, who many times becomes arrogant and unbearable and tries to understand everything rationally – the opposite of what would be defined as zen. It touched me deeply, because I am also this sweet, contemplative, sentimental, humble person, who many times becomes so nostalgic that gets close to depression – the opposite of what would be defined as zen too. And only pulling my two non-zen sides together, I was able to understand what Dr. Frohmuller meant when she said: “tell your brain the intent of your relationships”, “focus on the present” and recognize: “I have a dark side to work on, but the thoughts are only thoughts”.

For her, the path to reach serenity and clarity has to do with mindfulness, a mental practice that makes the mind empty while concentrating on the deep breathing and on a nice mental image. “Five minutes a day is enough”, says Dr. Froh. There are people who recommend Ioga, others who combine a macrobiotic diet with the practice of Tai Chi Chuan and those who dedicate their time to learn Sanskrit or any other unspoken language. I have been insisting on transcendental meditation for several years to get there and, as I said, some times I succeed, others I do not.

Pulling all of this together and other things I have not learnt yet, I may find what is enough to achieve what Zeca Pagodinho (**) better translates as zen: … “Let life take me, let it take me”…  (the Portuguese way to say let it be).

I promise to share here whatever I find. Maybe I start with something  you tell me.

(*)  The geriatrics Dr. Carla Frohmuller is the co-founder of the Senior Institute and the author of two blogs:  institutosenior.org.br and megamagra.com.br .


(**) Zeca Pagodinho is a Brazilian samba composer and singer. ‘Let life take me’ is one of his big hits.

15 comentários:

  1. Tô cansada de saber tudo isso. Na teoria. Uma época da minha vida fiz tudo isso. Agora q talvez seja uma chave real pra viver melhor... Só a água em jejum. Mas apenas um copo. Vou tentar passar pra dois. Exercícios? Sempre fiz. Quer dizer, fazia. Agora estou brigando comigo pra incluir uma caminhada ao pilates. Parei os exercícios em 2012 drpous de um acidente. Zazen? Gente eu treinei kun fu durante oito anos!! (comecei aos 37) e meditava. Depois f... tudo. Caraca!! Acho q tenho q retomar eu mesma!...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ju, quem sabe com um copo d'água a mais e a caminhada você não começa esse retorno? Às vezes, a gente se perde mesmo, confundindo desvios com atalhos e/ou acelerando o passo quando devia andar lentamente. Não sei como evitar isso, mas também acho que há momentos que o afastamento da gente mesmo nos permite reconhecer quem realmente somos. Então,... Deve fazer parte da jornada :)

      Excluir
    2. Gostei, Verinha, como sempre da sua forma de abordar as situações da vida. Eu já tenho o hábito de um copo de água antes de dormir e ao acordar só consigo tomar um. Vou tentar dois..rs. Voltei às práticas do Yoga, que sempre me ajudaram bastante a me reequilibrar no geral. Entendo que o fato de buscarmos coisas novas pressupõe o exercicio da criatividade que é inerente a todo ser HUMANO. E isto faz a diferença: nossa forma única de pensar, sentir....e EXPRESSAR....E vamos em frente curtindo os melhores momentos desta nova fase....

      Excluir
    3. Pelo visto, não é só você que tem o desafio do segundo copo d'água :)

      Excluir
  2. Grata, Vera! Preciso de suas pílulas de energia, amizade e superação para me espelhar e, literalmente, correr atrás de tudo isto !! 😘 Ju

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jujuba, com a amizade você pode contar sempre, já com a energia e superação, você sabe: eu às vezes ganho e às vezes perco a batalha de mantêm-las em alta. Se você aceitá-las da forma que estiverem, pode contar também. :)

      Excluir
  3. Bera, não sei se é porque temos a mesma data de aniversário, mas a parte do não ser zen bateu aqui: sou tb prática e querendo racionalizar tudo, mas ao mesmo tempo, sensível, notálgica e tendendo a deprimida. É, somos assim e tentar "conviver" com isso tudo da melhor maneira possível e sem se cobrar demais deve ser a melhor receita. Mas creio que cada um tem a sua, personalizada! Beijo e parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Andrew, dear, com certeza temos a síndrome melancólica dos cancerianos :) Você mencionou um aspecto importante que, de repente, rende um post mais adiante: o da cobrança. A cobrança que muitas vezes gera culpa. Eita nois de Cancer que nem pinto no lixo! :)

      Excluir
  4. Cyberzinha acho tudo que a querida Dra. Carla recomendou muito bom. Mas alem disso, acho que deviamos tentar reduzir a complexidade das nossas vidas ... Buscar a simplicidade e o essencial .. Isso provavelmente vai ajudar a reduzir um bocado do stress que impede a nossa cuca de curtir o "agora" e o que eh realmente importante para nos. Recomendo um livro do Eckhart Tolle "The Power o Now" que traduz muito bem o conceitos Zen para nos que vivemos na desvairada cultura ocidental. Beijins

    ResponderExcluir
  5. Complementando o seu comentário, amiga, para quem se interessar pelo livro que você recomendou: ele já foi traduzido para português e lançado no Brasil com o título 'O poder do agora'.

    ResponderExcluir
  6. Hoje tenho boas razões para não confiar mais na dra Carla. Fora isso, viver é mesmo muito difícil e complicado.

    ResponderExcluir
  7. Não sei quais são os seus motivos, Carlotinha, mas de antemão lamento. Do meu lado, eu continuo tendo muitas razões para continuar confiando muito nela. Se quiser estender essa conversa, podemos nos conectar via outro forum.

    ResponderExcluir
  8. Nem cerveja consigo tomar nessa minha fase de vida.. quanto mais água!!! Queria ser metódico assim, mas não consigo. Penso que, na minha idade, se não alcancei essa disciplina antes, agora fica muito difícil. Em tempo: ainda curto um vinho e, eventualmente, uma caipirinha. Bjs Vera!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. PS: bom bril, assim mesmo com letra minúscula, é meu apelido no blog do Google/ Paulo Fernando

      Excluir
    2. Você é o Paulinho, que cobria educação pelo Jornal dos Sports, nos anos 80?

      Excluir