Hermán Ferruchi,
Alejandro Pagnucco, Ariel Erlij, Hermán Mendoza e Diego Angelini. Não
conheci nenhum dos cinco amigos
argentinos que, na última terça-feira, morreram em Nova Iorque vítimas da insanidade de um terrorista. Mesmo assim,
foi impossível não me emocionar, quando soube que o grupo estava na cidade para
celebrar trinta anos de amizade e que a viagem, que envolveu outros cinco
sobreviventes ao ataque, vinha sendo planejada há um ano. Foi impossível não pensar nos meus próprios
amigos da vida inteira e não chorar. Não
deu pra evitar esse misto de sentimentos que junta afeto, saudade (muita
saudade), gratidão e orgulho das nossas tantas décadas de amizade.
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Imagem Google |
É preciso viver alguns (talvez muitos) anos para
descobrir que somos como somos, porque ao longo da vida tivemos grandes
amigos. Amigos com quem celebramos os
bons momentos e que também nos abraçam nas horas de desalento. Amigos que
alimentam nossa autoestima, reconhecendo nossas qualidades, e que também nos
dizem tudo o que não desejamos ouvir, quando nos perdemos na egotrip. Amigos
que desculpam à prori nossas idiossíncrasias, mas que nos avisam quando elas
ultrapassam o limite do outro. Amigos com quem rompemos, em momentos de
desatino, e com quem logo reatamos, arrependidos por ter brigado. Amigos que
nos amam do jeito que somos e, assim,
nos aceitam, acolhem, abraçam.
Geralmente, eles não são muitos. “São poucos e bons”,
como meu pai gosta sempre de lembrar, com a sabedoria de quem está às vésperas
de completar cem anos e já perdeu “os que tinha nessa vida”. Sua existência faz toda a diferença nas
nossas vidas, porque as torna mais doces e divertidas -- na verdade, menos solitárias. Sua ausência nos
deixa macambúzios e ensimesmados, como se o mundo só girasse em torno do nosso
umbigo, se apequenasse. Por isso, é preciso cultivá-los, ainda que o tempo seja
pouco, que a convivência não seja mais diária, que as circunstâncias os tenham
levado para longe. Há que se achar formas de continuar rindo junto, chorando
junto, sobretudo, sonhando junto.
O grupo de amigos argentinos parecia ter conseguido
isso. Eles estavam juntos em Nova Iorque para celebrar a cumplicidade que construíram
em trinta anos. A amizade que resistiu às mudanças que a passagem do tempo
sempre traz, se sobrepôs à distância de quem foi viver no exterior, se traduziu
em generosidade para arcar com as depesas de viagem dos que, pelos próprios
meios, não poderiam estar ali. Ferruchi, Pagnucco, Erlij, Mendoza e Angelin podem
ter sido assassinados por um terrorista, mas o afeto que os unia permanece. Permanece
na saudade dos amigos que sobreviveram e de todos os que os conheciam. Permanece como semente. Semente de amor para minar a indiferença e plantar a esperança de que histórias
como essa não se repitam. Histórias que tantas vezes ocupam as manchetes do noticiário, mas que dessa vez deixaram até jornalistas sem palavras.
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Hermann Ferruchi,
Alejandro Pagnucco, Ariel Erlij, Hermann Mendoza and Diego Angelini. I did not
meet any of the five Argentine friends who died last Tuesday in New York
victims of the insanity of a terrorist. Even so, it was impossible not to be
moved when I learned that the group was in town to celebrate thirty years of
friendship and that the trip, which involved five other survivors of the
attack, had been planned a year ago. It was impossible not to think of my own
friends of my whole life and not cry. I could not avoid this mix of affection,
longing (much longing), gratitude and pride of our many decades of friendship.
It takes some
(maybe many) years to discover that we are as we are, because throughout our
lives we have had great friends. Friends with whom we celebrate the good
moments and who also embrace us in the hours of discouragement. Friends who
feed our self-esteem, recognizing our qualities, and who also tell us
everything we do not want to hear, when we get lost in the ego-trip. Friends
who forgive in advance our idiosyncrasies, but who warn us when they go beyond
the limits of the other. Friends with whom we break, in moments of foulness, and
with whom we immediately reattach, feeling sorry for the fight. Friends, who
love us the way we are and thus accept us, welcome us, embrace us.
Usually, they are
not many. "They are few and good," as my father always likes to
remember, with the wisdom of one who is about to turn a hundred years old and
has already lost "those I had in this life." Their existence makes
all the difference in our lives because it makes them sweeter and more fun -
less lonely, in fact. Their absence leaves us bewildered and self-absorbed, as
if the world only revolved around our navel. Therefore, it is necessary to cultivate
them, even if time is short, that coexistence is no longer daily, that circumstances
have taken them away. We have to find ways to continue laughing together,
crying together, especially, dreaming together.
The group of
Argentine friends seemed to have achieved this. They were together in New York
to celebrate the complicity they had built in thirty years. The friendship that
resisted the changes that the passage of time always brings, surpassed the
distance of those who went to live abroad, translated into generosity to afford
the travel expenses of those who, by their own means, could not be there.
Ferruchi, Pagnucco, Erlij, Mendoza and Angelin may have been murdered by a
terrorist, but the affection that binded them remains. It remains in the hearts
of the friends that survived and of those who knew them. It remains as a seed of love to undermine the indifference and plant the hope that to stories like this do not happen any more. Stories which so often occupy the news headlines, but this time left journalists speechless.