Quem sou eu

sábado, 4 de novembro de 2017

Entre manchetes e lágrimas / Between headlines and tears

Hermán Ferruchi,  Alejandro Pagnucco, Ariel Erlij, Hermán Mendoza e Diego Angelini. Não conheci nenhum  dos cinco amigos argentinos que, na última terça-feira, morreram em Nova Iorque vítimas  da insanidade de um terrorista. Mesmo assim, foi impossível não me emocionar, quando soube que o grupo estava na cidade para celebrar trinta anos de amizade e que a viagem, que envolveu outros cinco sobreviventes ao ataque, vinha sendo planejada há um ano.  Foi impossível não pensar nos meus próprios amigos da vida inteira  e não chorar. Não deu pra evitar esse misto de sentimentos que junta afeto, saudade (muita saudade), gratidão e orgulho das nossas tantas décadas de amizade.

Imagem Google 
É preciso viver alguns (talvez muitos) anos para descobrir que somos como somos, porque ao longo da vida tivemos grandes amigos.  Amigos com quem celebramos os bons momentos e que também nos abraçam nas horas de desalento. Amigos que alimentam nossa autoestima, reconhecendo nossas qualidades, e que também nos dizem tudo o que não desejamos ouvir, quando nos perdemos na egotrip. Amigos que desculpam à prori nossas idiossíncrasias, mas que nos avisam quando elas ultrapassam o limite do outro. Amigos com quem rompemos, em momentos de desatino, e com quem logo reatamos, arrependidos por ter brigado. Amigos que nos amam do jeito que somos  e, assim, nos aceitam, acolhem, abraçam.

Geralmente, eles não são muitos. “São poucos e bons”, como meu pai gosta sempre de lembrar, com a sabedoria de quem está às vésperas de completar cem anos e já perdeu “os que tinha nessa vida”.  Sua existência faz toda a diferença nas nossas vidas, porque as torna mais doces e divertidas --  na verdade, menos solitárias. Sua ausência nos deixa macambúzios e ensimesmados, como se o mundo só girasse em torno do nosso umbigo, se apequenasse. Por isso, é preciso cultivá-los, ainda que o tempo seja pouco, que a convivência não seja mais diária, que as circunstâncias os tenham levado para longe. Há que se achar formas de continuar rindo junto, chorando junto, sobretudo, sonhando junto.

O grupo de amigos argentinos parecia ter conseguido isso. Eles estavam juntos em Nova Iorque para celebrar a cumplicidade que construíram em trinta anos. A amizade que resistiu às mudanças que a passagem do tempo sempre traz, se sobrepôs à distância de quem foi viver no exterior, se traduziu em generosidade para arcar com as depesas de viagem dos que, pelos próprios meios, não poderiam estar ali. Ferruchi, Pagnucco, Erlij, Mendoza e Angelin podem ter sido assassinados por um terrorista, mas o afeto que os unia permanece. Permanece na saudade dos amigos que sobreviveram e de todos os que os conheciam. Permanece como semente. Semente de amor para minar a indiferença e plantar  a esperança de que histórias como essa não se repitam. Histórias que tantas vezes ocupam as manchetes do noticiário, mas que dessa vez deixaram até jornalistas sem palavras.

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Hermann Ferruchi, Alejandro Pagnucco, Ariel Erlij, Hermann Mendoza and Diego Angelini. I did not meet any of the five Argentine friends who died last Tuesday in New York victims of the insanity of a terrorist. Even so, it was impossible not to be moved when I learned that the group was in town to celebrate thirty years of friendship and that the trip, which involved five other survivors of the attack, had been planned a year ago. It was impossible not to think of my own friends of my whole life and not cry. I could not avoid this mix of affection, longing (much longing), gratitude and pride of our many decades of friendship.

It takes some (maybe many) years to discover that we are as we are, because throughout our lives we have had great friends. Friends with whom we celebrate the good moments and who also embrace us in the hours of discouragement. Friends who feed our self-esteem, recognizing our qualities, and who also tell us everything we do not want to hear, when we get lost in the ego-trip. Friends who forgive in advance our idiosyncrasies, but who warn us when they go beyond the limits of the other. Friends with whom we break, in moments of foulness, and with whom we immediately reattach, feeling sorry for the fight. Friends, who love us the way we are and thus accept us, welcome us, embrace us.

Usually, they are not many. "They are few and good," as my father always likes to remember, with the wisdom of one who is about to turn a hundred years old and has already lost "those I had in this life." Their existence makes all the difference in our lives because it makes them sweeter and more fun - less lonely, in fact. Their absence leaves us bewildered and self-absorbed, as if the world only revolved around our navel. Therefore, it is necessary to cultivate them, even if time is short, that coexistence is no longer daily, that circumstances have taken them away. We have to find ways to continue laughing together, crying together, especially, dreaming together.


The group of Argentine friends seemed to have achieved this. They were together in New York to celebrate the complicity they had built in thirty years. The friendship that resisted the changes that the passage of time always brings, surpassed the distance of those who went to live abroad, translated into generosity to afford the travel expenses of those who, by their own means, could not be there. Ferruchi, Pagnucco, Erlij, Mendoza and Angelin may have been murdered by a terrorist, but the affection that binded them remains. It remains in the hearts of the friends that survived and of those who knew them. It remains as a seed of love to undermine the indifference and plant the hope that to stories like this do not happen any more. Stories which so often occupy the news headlines, but this time left journalists speechless. 

7 comentários:

  1. Eh Cyberzinha, me lembrou o nosso encontro marcado para 09/09/1999 as 9 na Colombo pra celebrarmos a nossa amizade e comecou na porta de ECO em 1974... Um comemoracao bonita, que aconteceu num dos momentos mais dificeis da minha vida. Voce compareceu nao so pra celebrar, mas esteve presente durante equela dura travessia me dando apoio e alento. Sou eternamente grata por ter voce e o Lucquin na minha vida. Vocehs sao parte da familia que escolhi. As verdadeiras amizades sao um privilegio, uma bencao, especialmente para gente com a gente ... filhos unicos, netos unicos, e no nosso caso especifico .. sem filhos ...

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    1. E NÓS somos e seremos eternamente gratos por você ter possibilitado o nosso encontro nessa vida: nossa eterna madrinha :--)))

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  2. Amigo é muito bom! Ter amigos de muitos anos é muito bom! Entendo perfeitamente o que os amigos estavam comemorando em NY. Ainda bem que dos 10, ainda tem cinco. Assim podem continuar dividindo esse sentimento bom.

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