Quem sou eu

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Perdas e ganhos / Wins and losses

Há cerca de um ano, escrevi esse texto sobre convicção e resiliência, baseado nos conselhos que cresci ouvindo da minha mãe. Hoje, quando não posso mais ouvir a sua voz (o AVC que a acometeu há quase dois meses lhe tirou a capacidade de falar), eu o republico como uma homenagem a ela e a forma de expressar minhas reflexões ultimamente. Às vezes, é necessário recorrer a velhas palavras para traduzir o que se sente de forma tão contundente. 
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Eu e mamãe:o q é do homem o bicho não come
Há males que vêm pra bem, minha mãe sempre dizia todas as vezes  em que os fatos não correspondiam as minhas expectativas. Era a sua forma de tentar me consolar e, ao mesmo tempo, me  ensinar a ser resiliente. A exercer essa qualidade de reconhecer as circunstâncias adversas, de até se adequar a elas, mas sem se deixar levar ou abater; seguindo em frente na busca do sonho. Hoje, sei, essa é a essência da determinação. Na época, aos treze anos, eu imputava um viés de conformismo à máxima materna e, como toda adolescente que se preza, reagia inconsolável e impaciente: se há regras, sou contra; e quero tudo do jeito que eu quero, para hoje, aqui e agora. 

Eu-quero-porque-eu-quero.

Esse mantra de afirmação e rebeldia que, com mais ou menos intensidade, marca toda passagem pela adolescência, me acompanhou para além da maior idade. Talvez  porque, temendo os confrontos domésticos, antes dos vinte anos, eu o tenha repetido sempre sem alarde. Talvez porque, a partir dos vinte e um e da minha  independência econômica, eu tenha tomado gosto pelos embates e necessitasse escutar minhas discordâncias em alto e bom som.  Talvez porque só na proximidade dos trinta, a vida tenha me mostrado de forma contundente que nem tudo acontece como a gente quer; ou tenha pelo menos colocado à prova o que eu pensava desejar. E foi sobrevivendo a essas quebras-de-braço, que atravessei as fronteiras da chamada idade adulta e, querendo ou não, gostando ou não, vi minha teimosia e impaciência  se transformarem em convicção e determinação. 

“Não era pra ser”… Me ouvi um dia murmurando para mim mesma, após receber um telefonema com a notícia que o emprego que, na época, eu tanto desejava e pelo qual tanto batalhara, não seria meu. “Dias melhores virão”… Me vi, anos depois, repetindo para uma amiga, ao assumir pela primeira vez para alguém além da minha analista, que meu casamento (o primeiro) estava no final. “O que não tem remédio, remediado está”… Me flagrei, em algum momento entre os dois episódios, dizendo a um parente, a quem tentara ajudar a enfrentar uma situação limite, e que decidiu se esquivar – negar o problema, não sair do lugar.

Se esses chavões resignados me consolaram nesses (e em outros tantos) momentos, isso não quer dizer que eu tenha tirado tudo de letra. A resiliência para seguir adiante surgiu do reconhecimento da frustração, da dor da perda, da experiência do luto pelo que poderia ter sido. O luto que nos faz vestir a alma de negro, iluminar a insônia com castiçais e chorar feito carpideiras. O luto que exaure toda a nossa energia e que, por isso,  nos zera, permitindo que desse ‘marco zero’ renasça o desejo, o sonho, a vontade, a determinação de ir em frente. Seja esse em frente aonde for. Porque, como diria minha mãe, com a sabedoria dos seus 93 anos, se hoje pudesse falar: ”o que é do homem, o bicho não come”.  E eu sigo aqui, mãe, batalhando pelo que é meu. 
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One year ago, I wrote this text about conviction and resilience, based on advices I grew up listening to from my mother. Today, when I can no longer hear her voice (the stroke that affected her almost two months ago made her unable to speak), I republish it as a tribute to her and as a way to express my current thoughts. Sometimes it is necessary to resort to old words to translate what you feel so bluntly.
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There are bad things that happen for the good, my mom always said when my expectations were frustrated. This was her way to comfort me and teach me how to be resilient. How to build the ability to recognize adverse circumstances, adjust to them and not lose the track to pursue my dreams. Now, I know, this is what determination is made of. At the time, at thirteen years old, I thought this was too much resignation for me and, as most teenagers do, reacted impatiently: things had to be the way I thought they should be. 

The stubbornness, which is a kind of teenagers’ brand, followed me to ages far beyond the adolescence. Maybe because, before turning twenty, I was afraid of domestic confrontations and decided to be silently stubborn. Maybe because after being twenty-one and reaching my independency I felt brave to speak up. Maybe because only when I got close to the thirties I got strong evidences that not always life is how we wish, or at least had my wishes tested. The fact is: those were defining moments to turn my lack of patience into resilient conviction and determination.

“This was not meant to be”… I heard myself whispering, one day, after answering a call that told me my dream job would not be mine. “Better days are to come”… I noticed myself telling a friend, years later, when I first recognized my marriage (the first one) had come to an end. “It is what it is”… I realized myself repeating to a relative I had tried to support on a difficult situation and who decided not to face the problem. 

The comfort these sayings express does not mean it was easy for me to overcome those situations. The resilience to move forward came from the recognition I was frustrated, I was in pain because I had lost something or someone I loved, I had to live the grief. The grief that makes us wear black, light up candles and cry a river. The grief that drains all of our energy to zero and from there allows our wishes, dreams, desires and determination to blossom again. To move forward, no matter where forward is. And here I am, mom, going ahead. 
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