“Por que não?!“
“Porque não.“
“Mas por quê?!!!!”
“Porque sou sua mãe e criança não tem querer!”
“.” (ponto final).
Se acontecesse hoje, esse diálogo pareceria surreal e
autoritário. Entre os anos cinquenta e sessenta, ele seguramente permeou a
infância de muitos, como eu, nascidos e crescidos nessas décadas. E entre os meus contemporâneos, posso apostar:
o ponto final era logo proferido como resposta ao primeiro ‘por
que não?’; sem espaço para
tergiversações. Portanto, a continuidade do questionamento em mais duas interações
não era usual. Para os chamados pais modernos da época, significava abertura e
tentativa de mais aproximação com os filhos; para os identificados como pais status quo, era o sinônimo de falta de
pulso dos adultos e petulância das
crianças.
Enfim…
Atravessei minhas
diversas idades entre a infância, a adolescência e a chamada maior idade,
desafiando aquele ponto final que só determinava e nada explicava. Através da
provocação dos meus ‘por ques não’, fui me descobrindo articulada, capaz de
arquitetar argumentos além da considerada pergunta-petulante. Só muito mais
tarde descobri que a insistência era a minha tentativa de transformar aquele diálogo-embate em uma conversa de verdade. A
conversa em que um fala, o outro ouve, escuta, digere, entende, concorda (ou
não) e, a partir daí, reage, expressando o que pensa, o que sente…
Razões à parte, fato é: cresci e amadureci fazendo perguntas.
E não foi à toa que escolhi o jornalismo como profissão – era a trilha
necessária para que me aperfeiçoasse na arte de pontuar com interrogações; para
que, assim, eu pudesse arquitetar as respostas essenciais para a minha própria
vida.
E por que não?!...
Porque…
Porque hoje me flagrei flanando pela web em busca de um tema
inspirador para este post. Naveguei, naveguei, naveguei e cheguei a lugar
algum. Deparei com tantas certezas absolutas sobre tudo e todos, que me perdi
nesse mar de convicções. Nem ousei
questioná-las – não havia espaço para diálogo, só uma sucessão de pontos finais.
Na verdade, quase me afoguei, ao tentar, à revelia de explicações, mergulhar
fundo naquela profusão de verdades inquestionáveis. Nessa tentativa inglória de
entender, até me esqueci que não sei nadar -- mal aprendi a boiar… Afundei.
O gato Onassis e seus bigodes ressuscitadores |
Por que não compartilhar minha falta de inspiração? Por que
não expressar minha estupefação diante de tantas certezas? Por que não duvidar de tantas verdades
incontestáveis, mesmo que meu racional quase sexagenário seja apenas uma
intuição, um sentimento inprovável? Por
que não exercer a liberdade de apenas perguntar por que não, sem vergonhas ou
compromissos, como eu fazia na infância e depois fiz ao longo da vida?
Por que não?
Por que não? Como Caetano proferiu ao vento, numa caminhada
libertária de dezembro, em que não precisou de lenço ou documento para provar a
que vinha e veio. Por que, depois de
tantas madrugadas debruçada sobre livros, não tergiversar eu mesmo sobre
qualquer verbo, sobre qualquer verso dos grandes trovadores? Por que não eu? Afinal, já faz tempo que
adentrei a vida adulta, atravessei a ponte do amadurecimento e aqui estou
encarando a maturidade – a porta da chamada terceira idade, o caminho da
velhice, a rota que tantos reconhecem como última etapa e que me nego a aceitar
como fim. Prefiro a definição do poeta Manoel de Barros que, perto dos cem
anos, se dizia em “direção às origens”.
Então, por que não? Por que não navegar em busca de onde tudo
começou, seja lá onde isso for?
……………………………………………………………………………….
Se você gostou deste post, por favor, o compartilhe com sua rede de
relacionamentos, clicando em um dos botões que aparecem no rodapé da tradução
em inglês abaixo. Se deseja, a partir de agora, receber notificações dos novos
posts do blog no seu próprio email, preencha o requerimento no espaço-retângulo
logo abaixo do meu perfil, na coluna à direita deste artigo.
……………………………………………………………………………….
"Why not?!"
"Because the answer is NO."
"But why?!!!!"
"Because I am your mother and children do not wish
anything!"
"." (period).
Today this dialogue would be seen as surreal and
authoritarian. Between the fifties and sixties, it surely pervaded the childhood
of many, like myself, born and raised in those decades. And among my contemporaries,
I can bet: the period answer was immediately given in response to the first
'why not?'; Without room for misrepresentation. Therefore, the continuity of
the questioning in two other interactions was not usual. For the so-called
modern fathers of the time, it meant openness and an attempt to get closer to
the children; For those identified as status
quo parents, it was a synonymous for
the lack of adult’s pulse and for children’s petulance.
Anyway ...
I went through my various ages between childhood,
adolescence and adulthood challenging that ‘period answer’. Through my ‘why
nots’ , I found myself articulate, able to construct arguments beyond the
considered petulant question. Only much later I discovered that the insistence
was my attempt to turn that dialogue-clash into a real conversation. The
conversation in which one speaks, the other listens, digests, understands,
agrees (or does not) and, from there, reacts, expressing what he/she thinks,
what he/she feels ...
Reasons aside, fact is: I grew up and matured asking
questions. And it was not for nothing that I chose journalism as a profession -
it was the necessary path for improving my abilities in the art of punctuating
with questions; So that I could then come up with the essential answers for my
own life.
And why not?!...
Because…
Because today I found myself flanking the web in search of
an inspiring theme for this post. I browsed and browsed around and got nowhere.
I came across so many absolute certainties about everything and everyone, that
I lost myself in this sea of convictions. I did not even dare question them -
there was no room for dialogue, just a succession of periods. In fact, I almost
drowned, trying, in the absence of explanations, to plunge deep into that
profusion of unquestionable truths. In this inglorious attempt to understand, I
even forgot that I can not swim - I barely learned to float... I sank.
... I came back to me, stretched out on the floor, with my
Onassis cat lying on my chest, smacking my cheeks and thrusting his whiskers
into my nostrils. I think this is the feline version of the drowning (or
almost) rescue procedure. No matter what it is, I was rescued. And here I am
still in search of topics on which to write and asking myself: why not?
Why not share my lack of inspiration? Why not express my
astonishment at such certainties? Why not doubt so many incontestable truths,
even if my almost sexagenarian rational is only an intuition, an unprovable
feeling? Why not exercise the freedom to just ask why not, without shame or
compromise, as I did in childhood and then did throughout life?
Why not?
Why not? As Caetano uttered in the wind, in a libertarian
march of December, in which he did not need a handkerchief or document to prove
himself. Why, after so many dawns bent over books, do I misrepresent myself
about any verb, about any verse of the great troubadours? Why not me? After
all, I have entered adult life for a long time, I crossed the bridge of
maturity and here I am facing the door of the so-called old age, the route that
so many recognize as the last step and which I refuse to accept as end. I
prefer the definition of the poet, Manoel de Barros, who, at about the age of
one hundred years, used to say "towards the origins".
So, why not? Why not navigate towards the place where it all
started, wherever it goes?
...........................................................................................
If you liked this post, please share it with your network.
...........................................................................................
Verinha parabéns. E porque não? Show!!!
ResponderExcluirBeijos
Porque sim, Eliane !!!!!!!
ExcluirTu não imaginas o quanto viajei neste teu post!
ResponderExcluirDe um porque não(!) a um por que não?
Ouvi muito. perguntei outros tantos e respondi em porquês, embora ache que devia ter perguntado mais. Parabéns!!
Legal Maria Do Carmo que o post faz sentido pra você. Confesso: muitas vezes fico em dúvidas se o que ando escrevendo diz alguma coisa às pessoas... Dilemas de blogueira :) Enfim, compartilhei o post no Agorinha Mesmo também. Obrigada por continuar acompanhando o 2xTrinta
ExcluirPorque não não é resposta. OK. Mas ficar dando explicações demais para pimpolhos... Sei não...
ResponderExcluirEm relação aos pimpolhos, Ju, eu e você somos muito suspeitas (Rs Rs Rs Rs).
Excluir