Amanhã, faço 60 anos. Cruzo,
oficialmente, a ponte que leva a esse território definido como terceira idade e
que tantos insistem em proclamar como melhor idade. Melhor pra quem, cara
pálida? Pergunto, com ironia, toda vez que deparo com esse eufemismo. Melhor por quê? Se, na maior parte
das vezes, envelhecer significa perder voz e presença no espaço social. Melhor
para que? Se viver mais tempo não necessariamente torna-se sinônimo de ganhar
novas oportunidades para aprender e se desenvolver -- essa renovação que dá
sentido à vida.
Nem todas essas perguntas são minhas.
Porém, me sinto responsável por formulá-las, à medida que, desde que criei este
blog, há exatamente um ano, envelhecimento e longevidade passaram a ser temas recorrentes de leitura e, nesse mesmo periodo,
questões inerentes à maturidade tornaram-se foco permanente de conversas com centenas de vocês, leitores, que vêm
acompanhando meus posts semanais e que, de agora em diante, passarão a ser
quinzenais (sempre aos sábados).
Não tivessem vocês abraçado comigo
essa jornada blogueira, eu hoje não estaria, aqui, publicando este 52o artigo.
E que jornada!
Nesses doze meses aconteceu de tudo.
De ‘um tudo’, como diria, fazendo piada, minha amiga Martita, de quem não tenho
notícias há anos, mas cujas tiradas, sempre cheias de humor, vivo
repetindo. A distância não a torna menos
querida e repetir suas frases de efeito é uma forma de mantê-la perto.
Então, retomando a narrativa: nesse
ano de muitas conversas virtuais, teve de ‘um tudo’! Houve leitores que me contataram para contar
suas histórias e pedir para que as transformasse em posts (o que fiz sempre que
identifiquei nelas experiências que pudessem interessar a todos) e houve os que
entraram em contato comigo, contaram suas experiências e me pediram sigilo (o
que também fiz, embora muitas vezes lamentando não poder compartilhar com todos
o que tive o privilégio de ter compartilhado comigo).
Teve jovem dizendo se identificar
com o que eu escrevia/escrevo e sugerindo temas para posts futuros e millenials que não
pestanejaram em criticar: “só porque curtiu os Pokemóns, já tá se achando,
né?!” Teve até criança, filho de leitor, que enviou por messenger
minha própria foto copiada do perfil do Facebook, pedindo autógrafo para presentear
a mãe que, ele dizia: era/é minha fã. Felizmente ele topou minha
contraproposta: a de eu assinar uma dedicatória que ele colaria a um retrato
seu para dar a mãe. Tempos depois, essa mãe me mandou um messenger cheio de
emojis em forma de coração, agradecendo a atenção com o filho. Mãe é sempre
igual; mesmo virtualmente, só muda de endereço.
Nesse universo de emoções virtuais,
houve leitores que choraram, riram e se identificaram comigo. Leitores que,
achando que essas emoções valiam/valem a pena, compartilharam meus posts com as
suas redes de relacionamento. Houve também aqueles que me estranharam. Os que,
além de não se reconhecerem no que escrevi/escrevo, discordaram/discordam de
mim. Muitos até se irritaram, esbravejaram -- como hoje é moda no mundo web --
jurando deletar meu link dos seus bookmarks.
Alguns efetivamente apagaram o endereço das suas telas, das suas vidas. Outros
se acalmaram e me deram/vêm me dando uma segunda chance; como a gente faz
quando briga com alguém que, se não ama, aprecia e/ou, pelo menos, considera.
E aqui estou eu aprendendo a ser
blogueira. Ainda me acostumando a lidar com todas essas reações ao que escrevo,
me desafiando a conviver com essa infinidade
de perspectivas que as conversas virtuais trazem. Há um ano, quando criei o
2xTrinta, não imaginava que seria, assim, tão rico, tão diverso. Eu completava,
então, 59 anos e me via aflita com a chegada aos 60. Pensava na possibilidade
de viver mais três décadas e me sobressaltava com a vontade quase adolescente
de me aventurar em alguma coisa diferente do que já realizara até ali. Resolvi escrever o blog
para compartilhar essa inquietação. Fui surpreendida pela avalanche de reações
que meus desassossegos provocaram.
Hoje, na véspera de me tornar,
enfim, sessentona, continuo aflita (rs rs rs). Porém, tenho que reconhecer: um
pouco mais em paz com as minhas aflições. Se por um lado ainda não sei o que
quero fazer de novo na vida, através do 2xTrinta, tenho constatado: não sou a
única sexagenária que anda se peguntando o que vai ser quando crescer. Como não sei se o tempo que tenho pela frente
é de trinta anos, trinta dias, três dias ou três minutos -- ninguém sabe -- às
vezes, penso que eu deveria ter pressa em achar respostas e até me cobro. A
pressão, porém, não dura cinco minutos. Aprendi também com este blog que, a despeito do
destino, o importante é aproveitar a experiência de percorrer o caminho.
Então, sigo nessa jornada, me
permitindo deixar sem respostas as perguntas que abriram este post. E se
amanhã, ao apagar minhas 60 velinhas, alguém ousar a me dar as boas-vindas à
‘melhor idade’, não pestajenarei. Perguntarei na lata: melhor pra quem, cara
pálida?
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na coluna à direita deste artigo.
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Tomorrow
I turn sixty. I officially cross the bridge that leads to this territory
defined as the third age and that so many insist on proclaiming as the best age.
The best for whom? I ask, with irony, every time I come across this euphemism.
Why the best? If, for the most part, aging means losing voice and presence in
the social space. The best for what? If living longer does not necessarily mean
having new opportunities to learn and grow – those things that make life
meaningful.
Not
all of these questions are mine. However, I feel responsible for them as, since
I created this blog, exactly one year ago, aging and longevity became recurrent
themes of reading and, in that same period, issues inherent to maturity became
a permanent focus of conversations with hundreds of you, readers, who have been
following my weekly posts. Posts that, from now on, will happen bi-weekly
(always on Saturdays).
Had
not you joined me in this blogger journey, I would never be here today,
publishing this 52nd article.
And
what a journey!
In
those twelve months of virtual conversations everything happened. There were
readers who contacted me to tell their stories and asked me to write about them
(what I did whenever I found their tales would be of interest of most readers)
and there were those who contacted me, told their experiences and asked me to
keep them confidential. (What I also did, although often regretting not being
able to share with everyone what I had the privilege of having shared with me).
There
were young readers who stated empathy with my articles and suggested themes for
future posts and there were millenials that did not blink in criticizing:
"just because you enjoy Pokémon that does not mean you are young".
There was even a boy who explained his mother was my blog follower and, on her
behalf, asked me for an autographed photo. Fortunately he agreed in receiving a
signed short text he would paste on his own picture to give to his mom. Some
time later, his mother sent me a messenger full of heart-shaped emojis,
thanking the attention I paid to her son.
In
this universe of virtual emotions, there were readers who cried, laughed and
identified with me. Readers who, finding sense on these emotions, shared my
posts with their networks. On the other hand, there were those who disagreed
with everything I wrote and stated they would delete my link from their
bookmarks. Some have effectively erased the address from their screens, from
their lives. Others have calmed down and have given me a second chance; as we
do when we fight with someone who, if we do not love, we appreciate and / or at
least consider.
And
here I am learning to be a blogger. Still getting used to dealing with all
these reactions to what I write, challenging myself to live with the myriad
perspectives that virtual conversations bring. A year ago, when I created Twice
Thirty, I could not imagine that this would be so rich, so diverse. I was 59
years old and was worried about turning 60. I thought about the possibility of
living for another three decades, and got startled by the almost adolescent
desire of doing something different from what I had done so far. I decided to
write the blog to share my restlessness. The avalanche of reactions it provoked
surprised me.
Today,
on the eve of, finally, turning sixty, I continue to be afflicted (lol lol lol).
But I have to recognize: I am a little more in peace with my afflictions. If on
the one hand I still do not know what I want to do in life again, through this
blog, I have noticed: I am not the only sexagenarian who is asking herself what
she will be when she grows up. As I do not know if the time I have ahead is
thirty years, thirty days, three days or three minutes - nobody knows -
sometimes, I think I should be in a hurry to find answers. The pressure,
however, does not last five minutes. I also learned from this blog that,
despite of the destiny, what is important in life is to enjoy the experience of
traveling along the way.
So,
I continue here on this journey. And as part of it, I allow myself to leave
unanswered the questions that opened this post. So, if tomorrow, when I blow my
60 birthday candles, someone dares to welcome me to that 'best age', I will not
blink and will ask: best for whom?
Melhor pra quem, cara pálida? adorei rsrs. Faltam 6 anos para mim completar 30 e lendo seu texto é a mesma aflição, incrível!
ResponderExcluirLuciana, Fico emocionada em saber que meu texto 'fala' com alguém tão jovem como você. Fico torcendo para que ele também te inspire a aproveitar a experiência de percorrer o caminho. Independente do destino que você esteja buscando.
ExcluirVera happy Days, bem-vinda ao clube. Os anos passam mas não nos enquadramos em modelos pre-estabelecidos. Nossa ânsia - pelo menos a minha - não tem idade. Segue naquela linha perigosamente igual. Amei seu blog. Parabéns. bjs
ResponderExcluirAdorei essa definição: linha perigosamente igual :--)))
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