O erro de concordância no título
deste post é proposital. Pretende chamar a atenção, principalmente de quem já
cruzou o portal dos 50 anos, para a ideia de inclusão implícita nessa
afirmação. Também tem a intenção de
fazer referência ao sucesso ‘A gente somos Inútil’ (*), da banda de rock Ultrage a Rigor, que serviu de
trilha sonora de engajamento para muitos da minha faixa etária. Quer, sobretudo, rebelar-se contra quem,
postulando a sabedoria da experiência e da maturidade, tanto critica os millenials: a geração nascida na década
de noventa.
Quero me rebelar, sim. Me rebelar
contra quem apagou da memória afetiva as emoções que o/a impulsionavam aos
vinte anos e, hoje, define esses jovens como superficiais,
narcisistas, arrogantes, egocêntricos e impacientes -- pegando emprestadas aqui as palavras do meu querido amigo
Mauro Segura, que quinze dias atrás, publicou um video sobre o “dilema” dessa
geração no seu blog A Quinta Onda (**)
e que, equilibradamente, também a definiu como ousada, flexivel, adaptável,
tecnológica e sensível à diversidade.
Salve, Mauro! Ao se assumir no seu blog
como um millenial fora de época, você me inspirou. Salve, Felipe Curcio, meu
mais recente amigo-millenial! Ao
discutir esse tema comigo, você me estimulou a escrever este post.
Eu e meu mais recente amigo-millenial, Felipe Curcio |
Voltando, então, a
minha rebeldia, revisito a minha própria história. E repassando com honestidade
e afeto alguns dos fatos que a marcaram, me pergunto: será que não pareci
arrogante, quando, ao postular pela primeira vez um espaço na redação de uma
publicação importante, me travesti de certezas para grandes reportagens, a fim
de dissimilar o meu nervosismo e a minha insegurança? Será que não fui percebida como narcisista e egocêntrica,
quando, num impulso de ousadia, depois de uma semana de noites mal dormidas,
adentrei a sala do diretor de redação de um grande veículo, para checar por que
ainda não haviam me contratado para uma editoria recém-aberta, se eu já
trabalhava, naquela redação, como free-lancer
há pelo menos dois anos ? (!) Será que não me julgaram impaciente, quando,
depois de contratada, um ano mais tarde, num arroubo de coragem, após roer todas as minhas unhas (!),
questionei meu chefe por que não tinha sido incluída na lista de promoções da editoria?…
… Êta, memória precisa! Precisa e grata.
Precisa, porque lembro
perfeitamente de todas as emoções que, ainda que subrepticiamente,
pontuaram essas minhas petulâncias e do misto de surpresa e
curiosidade estampado nos rostos dos meus interlocutores. Grata, porque esses
mesmos interlocutores foram suficientemente pacientes e generosos para enxergar além
da minha insegurança, ansiedade e inquietação, e apostar no potencial do meu
entusiasmo, da minha determinação, criatividade e dedicação em fazer acontecer.
Foi assim enquanto trabalhei em redações e, assim foi, depois que migrei para o
mundo da comunicação corporativa.
Tive o privilégio de
ter grandes chefes, é verdade. E talvez por ter experimentado esse acolhimento
na juventude, na maturidade nunca enfrentei problemas ao me relacionar com
jovens, fossem eles da geração X, Y ou Z. Pelo contrário, sempre abracei a
oportunidade de aprender com eles, ainda que muitas vezes suas inseguranças,
ansiedades e inquietações chacoalhassem meu espaço maduro de conforto e
reavivassem as questões que eu ainda tinha abertas. Que eu ainda tenho abertas.
Sim, porque, aos quase
60 anos, eu continuo tendo muitas perguntas sem respostas. A diferença é que, hoje,
sei o bastante de mim para assumir, com tranquilidade, as certezas que não
tenho. Aos vinte e trinta e alguns anos – assim como os atuais millenials -- eu precisava me agarrar arrebatadamente ao que
acreditava, para disfarçar todas as minhas dúvidas e afirmar, diante de tudo e
todos, minha jovem identidade. Eu, simplesmente, precisava
de ressonância, para poder reconhecer a mim mesma.
Hoje, chacoalho,
chacoalho e até caio me esborrachando no chão. Porém, aguento os trancos. Aguento,
porque com eles aprendo, me aprimoro e cresço. Aguento, porque eles me lembram
do meu tamanho e que não vale a pena querer ser maior ou menor do que sou. No que diz respeito aos millenials, aprendo, exercitando a
paciência – característica que nunca foi o meu forte --, mas, sobretudo, me
reconhecendo na sua ousadia, flexibilidade,
sensibilidade à diversidade e no seu fascínio por tecnologia – nesta instância
e, no meu caso específico, com algumas dificuldades operacionais que já
confessei, em post anterior, aqui no blog. J
Por isso, agradeço
muito a todos os millenials com os
quais convivi e ainda convivo, profissional e pessoalmente. Eles desafiam o que
eu sei e o que eu ainda não sei. Eles me estimulam a resgatar e cultivar a Vera
que já teve 20 anos e que ainda existe em mim. Eles são um sopro de renovação para a
Vera, que, com quase 60 anos, segue se desafiando, aprendendo e crescendo.
A gente não sabemos escolher presidente / A gente não
sabemos tomar conta da gente / A gente não sabemos nem escovar os dente / Tem gringo
pensando que nóis é indigente
(Refrão) Inútil / A gente somos inútil / Inútil / A gente
somos inútil…
A gente faz carro e não sabe guiar / A gente faz trilho e
não tem trem prá botar /A gente faz filho e não consegue criar / A gente pede
grana e não consegue pagar
(Refrão)
A gente faz música e não consegue gravar / A gente escreve
livro e não consegue publicar / A gente escreve peça e não consegue encenar / A
gente joga bola e não consegue ganhar.
(**) http://aquintaonda.blogspot.com
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The verbal concordance mistake on
the headline has a purporse. It intends to call fifty year old people’s
attention to the concept of inclusion that is embedded in the statement and to
refer to the Brazilian rock band Ultrage a Rigor’s big hit ‘A gente somos
inútil’(We ‘is’ useless *) that was a kind of protest song track in the late
eighties. It also intends to provoke
those who have been so critical about the millennials – the generation born
after 1990.
Yes, my intent is to lead a kind of
rebellion against those who have deleted the memories of their twenty year old
emotions and now define millennials as shallow, narcissist, arrogant,
egocentric and impatient . Here, I confess: I am borrowing the words from my
dear friend Mauro Segura who, two weeks ago, posted a video about millennials’dillema
on his blog The Fifth Wave and added to these adjectives qualities such as
bold, flexible, adaptable, high tech and diversity driven. Hi, Mauro! You have
inspired me when you declared yourself an outdated millennial! Hi, Felipe
Curcio, my latest millennial friend, our discussion about this topic encouraged
me to write this post.
Back to my rebelliousness, I revisit
my own story. And honestly looking at some of its milestones I ask myself:
DIdn’t I sound arrogant when I first
joined an important newsroom and presented a lot of big/bold ideas to dissimulate
how I was nervous and feeling insecure?
Wasn’t I perceived as narcissist and
egocentric, when, after a sleepless week, I followed a bold impulse and
inquired the director of a big newspaper what he was waiting to hire me, since I
had been working for the publication as a free-lancer for almost two years?
Wasn’t I seen as impatient, when,
one year later after being hired, I questioned my manager why I hadn’t been
included on the promotion list? OK, I bit all my nails before doing that, but
he did not know it.
What a precise memory! Precise and
grateful.
Precise, because I remember all the
feelings I experienced while performing those insolent acts, as well as the mix
of surprise and curiosity I could read on my interlocutors’ face. Grateful,
because they were patient and generous to see beyond my anxiety and insecurity
and bet on my potential. It was like this while I worked in the news and also
when I ‘migrated’ to corporate communications.
I had the privilege of having great
managers, that’s true. And maybe because I was so welcome in my youth, I have
never faced problems in my relationships with young people. I have always
embraced the opportunity to learn with them, even when their insecurity and
anxiety took me out of my mature confort zone
to revisit open issues.
Yes, even being almost sixty years
old, I still having open questions. The difference is today I know enough about
myself to simply answer: I do not know. When I was twenty/thirty, as the
current millennials do, I needed to grab
my beliefs to disguise all my doubts and reaffirm my young identidy before
everyone. I needed that echo to recognize myself.
Today I say I do not know and learn
and grow with that. It makes me fit my size and reminds me I do not want to be
smaller or taller. Concearning my
relationship with millennials, I learn with them too. I learn through the practice of pacience –
never my best gift – and, mainly, recognizing myself in their boldness,
flexibility, diversity drive and high tech orientation, although, in this
regard, in my case, with some operational challenges, as I have already
shared, on a previous post, in this blog J.
Therefore, I thank a lot to all the
millennials I have been getting along, professionally and personally. They
challenge what I do know and what I do not know yet. They encourage me to
rescue and nurture the twenty year old soul that still existing inside me. They
are a breath of renovation to my almost sixty year old soul that keeps
challenging itself, learning and growing.
Vera, ótimo ponto, e diria mais: veja agora nas manifestações, são eles que estão lá, pondo a cara pra bater! Acho que a diferença agora é que a nossa geração olha para eles de forma diferente, porque estamos mais abertos (e melhor adaptados) às mudanças, à tecnologia, do que as gerações que nos precederam.
ResponderExcluirPor isso, pra mim, não tem esse papo de 'nós' e 'eles' :)
ExcluirAcho que posso ser chamada de retardada...eu não vejo essas diferenças tão difrentes assim, não. Chego a achar um tédio que, praticamente todos nessas "idades", sejam tão praticamente iguais a mim quando tinha essas "idades"... queria novidades. Hehe!
ResponderExcluirEu diria 'antenada' e 'sincronizada', em vez de retardada :)
ExcluirObrigada. Vc é mesmo minha amiga!Hahahahaha!
ExcluirSou, mas isso não significa que eu não esteja dizendo o que eu realmente penso.
ExcluirComo voceh bem colocou, as caracteristicas essencias "da juventude" sao as mesmas atraves dos tempos ...
ResponderExcluirE é importante a gente não esquecer disso; é fundamental a gente se reconhecer nisso :)
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