“A vida não permite ensaios.
É um plano sequência que passa uma só vez. Não deixem nada nem ninguém amargurar a
vida de vocês”.
A frase proferida pelo ator
Marcos Tumura, no encerramento do musical ‘Forever Young’ (Para sempre jovem (*), soa como um alerta e convida à reflexão,
diante do que a vida oferece como destino inexorável a todos que não morrem
jovens: a velhice. É dela que a peça
trata, sem lançar mão das maquiagens retóricas que constantemente tentam
disfarçar o que significa envelhecer com todas as letras. Dela e da sua inerente vulnerabilidade,
que limita, constrange, irrita e pode
tornar-se insuportável, se não aprendemos a rir de nós mesmos. Uma prática que o espetáculo de duas horas nos
induz a exercitar, apesar da decrepitude em cena.
Musical 'Forever Young', em cartaz até 30/10, em SP |
Começo, então, aqui. E me desculpem
se o assunto é árduo, árido, difícil de digerir – ele também não é fácil pra
mim. Mas como filha única de pais idosos, parceira de um companheiro quinze
anos mais velho, sem filhos, e com a chance de viver mais trinta anos, acho
pertinente me perguntar: e quem vai
cuidar de mim?!!!!! De mim e do
Péricles, o jabuti setentão que passou a ser membro da minha família, há 14
anos, a partir do casamento e que, provavelmente, será o único a ainda estar por aqui em 2050…
Eu sei, eu sei: não há qualquer
certeza de que as coisas transcorrerão dessa forma. Nada garante que daqui a
cinco minutos, antes mesmo que termine de formular este post, eu… Caput!
Desculpem novamente, mas a onomatopéia é a única forma que me ocorre, para expressar
o segundo em que o lampejo da vida se apaga e para tentar fugir da cafonice
desse clichê que acabei de escrever. Mas
como todo mundo tem um lado B, de brega mesmo, conto com a benevolência, também
com B, de vocês, para aceitar essa minha permissividade de estilo, na tentativa
de não parecer mórbida.
Péricles, o jabuti senior, que hoje tem 70 anos |
Mas voltando ao que poderá
anteceder o meu Caput. Ainda que eu
tivesse filhos (e não me arrependo de não tê-los, leiam as razões no artigo que
escrevi para o site Mulheres50+ -- mulherescinquentamais.com.br), não seria
feliz ao ter minha existência pesando sobre suas costas. E este é um fato que
precisa ser encarado sem romantismos: a velhice pesa. Mesmo quando acontece em
um cenário saudável, ela pesa. Pesa, porque restringe nossa capacidade
física; pesa, porque exige cuidados de
prevenção e monitoramento da saúde que, num país marcado pela precariedade do SUS, são
onerosos; pesa, porque, se ainda lúcidos, temos a consciência da progressão das
limitações e da dependência que ela causa. E, sobretudo, porque não estamos
preparados para lidar com nada disso. Ninguém antecipa, ninguém conta, ninguém
ensina.
É nesse aspecto que a
peça ‘Forever Young’ assume um caráter
educativo e, também por isso, toca tanto. Ela retrata, sem medo de às vezes ser
até politicamente incorreta, a convivência de seis octagenários em um asilo e
sua resistência a quem tenta lhes tirar o prazer que ainda tem na vida. Mostra,
sem retoques, a rotina de um grupo de velhos – v-e-l-h-o-s, sim, com todas as
letras! É preciso não ter medo de usar a palavra que nos definirá a todos, se
lá chegarmos --, com suas manias,
idiossincrasias, incontinências e
ausências. Condições que não podem ser corrigidas com recursos de fotoshop, mas
que podem, sim, ser relatadas e enfrentadas com humor e um quê de rebeldia.
No musical, a narrativa é
pontuada por piadas e pela cadência contagiante do rock'n'roll, sempre acompanhadas
pelos risos e aplausos da plateia. Na vida, há que encontrar a sintonia precisa
para encarar o desafio. Mas se a vida imita mesmo a arte --ou seria o
contrário?!... Ou ambos?! --, essa busca passa por dedicar tempo -- hoje já, aqui e agora --, para aprender a rir
de si mesmo e para escolher a trilha sonora que melhor e, alegremente, preencha
nossos lapsos de memória. A que me acompanhará ao asilo onde viverei, se chegar aos oitenta, seguramente, terá a música 'Forever Young' na play list. Junto com todas as do Wando e do Sidney Magal, claro :) .
(*) A peça ‘Forever Young’ está em cartaz, de sexta a
domingo, até o dia 30 de outubro, no
Teatro Raul Cortez , em São Paulo. Ao encerrar a temporada paulistana, viajará
pelo Brasil e estreará no Rio de Janeiro, no início de 2017.
(**) Ouça a música "Forever Young' no YouTube https://www.youtube.com/watch?v=t1TcDHrkQYg
(**) Ouça a música "Forever Young' no YouTube https://www.youtube.com/watch?v=t1TcDHrkQYg
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rodapé da tradução em inglês abaixo.
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“Life is no dress-rehearsal. You live it all in one
shot. So, don’t let anyone harm it”.
The actor Marcos Tumura’s sentence at the end of the
musical ‘Forever Young’ (*) alerts and invites us to think about the fate
everyone who does not dye young will share: aging. The subject is approached by
the play without the tricks commonly used to disguise old age real meaning and
its embedded vulnerability. A condition that restricts embarrasses and
irritates, if we do not learn how to laugh at ourselves. And this is the
exercise the play induces us to practice, regardless of the decrepitude we see
on stage.
I confess I bursted out laughing and crying during the
two-hour show. I laughed and cried, because I recognized on stage the reality
my old parents are facing (have talked about it on a previous post “My parents,
my kids’). I laughed and cried, because I identified in the characters the
stubbornness and irritation that I will probably will repeat, if I live till
2050 (the hypothetical situation proposed by the play). I laughed and cried,
because if life emulates art – or is it the opposite?!... Or both?! – I will finish
my journey in a shelter; then, sooner or later, need to include the topic on my
discussion list.
So, let me start here.
Forgive me if the topic is dry and hard to digest (it
is not easy for me either). But as the only daughter of a very old couple, the
wife of a fifteen year older husband, having no kids and the chance of living
more thirty years, I think it is natural to ask the question to myself: who
will take care of me when I get there?! Of me and of Pericles, the seventy year
turtle who became part of my family, fourteen years ago when I got married, and
probably will be the only one to last till 2050…
I know, I know: we cannot be sure things will happen
that way. There is no guarantee I will not CAPUT! Before finishing to write
this post. Sorry for the onomatopoeia, but it is the only way I am finding to
avoid using clichés. So, back to my question. Even if I had children (and I do
not regret not having them), I would not feel happy in being a burden to them. And
this is something we need to face: getting old impacts our lives. Even when it
happens in a healthy scenario, it is impactful. And it is so, because it
imposes physical limitations, because it demands expensive care (mainly in a
country like Brazil) , because if our minds still clear, we are aware of how
these limitations progress. And we are not prepared to deal with all of that.
Nobody tells or teaches us.
In that sense ‘Forever Young’ is educational. It shows how
six octogenarians get along with each other in a shelter, despite of their
manias, obsessions or absences. And it does that without fearing to be
politically incorrect – a needed approach to portray the reality and face it
with humor and a bit of rebelliousness. On the stage, the narrative is
highlighted by jokes and rock’n’roll. In life, we need to find the right tone
and tunes. But if life emulates art – or is it the opposite?!... Or both?! – We
need to dedicate time, now and immediately, to learn how to laugh at ourselves
and to choose the soundtrack that will fulfill our lack of memory.
Como dizem por aqui "Life is no dress-rehearsal" e a verdadeira idade se revela na nossa atitude frente a vida. Em relacao a nao ter familia ou filhos, ha muito tempo que a tradicional familia nunclear deixou de existir. Pais, filhos, e outros parentes hoje vivem distantes uns dos outros fisica e mentalmente ... Na minha opiniao os amigos passarao a ser a nova familia e rede de apoio da maioria das pessoas. Como isso vai se traduzir nos estagios adiantados da velhice sera definido por nossa geracao.
ResponderExcluirCyber, concordo plenamente com você. Só acho que para dar conta dessa tarefa geracional temos que começar a pensar nisso agora. Quem sabe o 2XTrinta no futuro não vira um condomínio para moradoras de 2x40, 3X30?! :--D
ExcluirTo dentro! Let's plan the "next steps" :-D
ExcluirEu também vou pro asilo, se viver tanto. Vou começar a preparar minha playlist!
ResponderExcluirQuem sabe a gente num vai pro mesmo e ouviremos Sidney Magal com Pericles? ;)
Se o seu bom gosto musical acolhe meu lado B, tô dentro. Em tempo, só pra lembrar: eu também gosto de Caetano, Gil, Pixinguinha, Cartola, Beatles e Rolling Stones :--D
ExcluirConcordo com o que disse a Patrícia, os amigos serão nossa família e, por isso, é importante cultivá-los agora e sempre. Parabéns Vera!
ResponderExcluirInspirada na Patrícia, eu já estou abrindo hipotéticas inscrições para interessados no hipotético empreendimento residencial ' 2xTrinta -- vida hipotética depois dos 80'. Se estiver interessada, Andrew, é só subscrever a lista. Nesse condomínio, gatos, cães e demais pet serão muito bem-vindos.
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