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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Pra Não Dizer que Não Falei de Amor / Talking About Love

Há quinze anos, ‘esbarrei’ com meu hoje marido na cerimônia de cremação da mãe de uma das minhas melhores amigas. Apesar de sabermos um da existência do outro em função da amiga em comum, foi naquela situação fúnebre que nos vimos pela primeira vez . Um primeiro encontro nada romântico, em que me chamou a atenção sua desorientação geográfica -- ele chegou atrasado à cerimônia, porque havia se perdido no caminho para o crematório – e em que ele (muito depois me disse) achou que eu parecia um fantasma, por conta da pele muito branca, do cabelo vermelho e dos óculos de sol pretos. Primeiro, quase único e último encontro, já que, uma semana depois, a amiga em comum retornou a Vancouver (*),  para retomar a vida que interrompera dois anos antes, quando veio para o Rio cuidar da mãe doente.

Eu e o hoje (e pra sempre) marido
Não fosse eu decidir , quase um ano depois, comemorar meus 45 anos com uma grande festa, provavelmente, nós nunca mais teríamos nos visto. O interessante é que o desejo de promover um encontro que juntasse família e amigos da vida inteira surgira também, um ano antes, em um velório. O do meu padrinho e tio Leo (já o mencionei aqui algumas vezes em outros posts), durante o qual um dos seus filhos, meu primo, Leozinho, sugeriu meio a sério, meio brincando:

 “A gente precisa arranjar um motivo para se encontrar e celebrar a vida, antes que seja tarde”.

Tive a felicidade de organizar a festa a tempo. A tempo de contar com a alegria do próprio Leozinho na pista de dança (ele morreria precocemente poucos anos depois). A tempo de retomar contato com pessoas importantes na minha vida que não via há anos. A tempo de fazer as pazes com outras, igualmente importantes,  antes que os anos se passassem e solidificassem mágoas. A tempo de convencer minha amiga, retornada ao Canadá, a voltar ao Brasil, para virar a página de tristeza que ela associara ao Rio, em virtude da doença e morte da mãe.

Ela veio e,  como uma ‘quase celebridade internacional’, ganhou o direito de ser a única convidada que poderia vir à festa com mais de um acompanhante. Foi assim que o hoje marido voltou a cruzar meu caminho. Dessa vez, sem se perder no trajeto, sem achar que eu fosse uma alma penada saltitando pelo salão, mas não para ficar; não ainda. Após o reencontro, ainda demorou mais de uma semana para que ele me enviasse flores, com a seguinte justificativa:

“Esperei que todas as rosas que você recebeu murchassem, para que você prestasse atenção às minhas”.

Quando finalmente as recebi, elas já estavam secas – eu viajara a trabalho na véspera delas chegarem  e ficara quase dez dias fora--; mas o cartão estava lá, intacto, a minha espera.  Liguei para agradecer a gentileza, expliquei o motivo da demora em fazê-lo, e com medo de um daqueles silêncios constrangedores, emendei assuntos da viagem, da festa, da amiga em comum, da viagem, da festa, da amiga em comum,  da viagem, da amiga em comum, da festa …  Até que tive que fazer uma pausa para respirar e ouvi a gargalhada do outro lado da linha sublinhando o comentário:

“Ainda bem que você perdeu o fôlego. Pensei que nunca mais fosse parar de falar. Quando vamos jantar para você me mostrar as fotos?”

Rimos juntos.

Eu já nem lembrava que, no meu discurso de metralhadora giratória, havia mencionado as fotos da festa, mas aceitei o convite que veio com a ‘ justificativa-vontade-de-vê-las’. Aceitei esse e todos os outros  que vieram nas semanas seguintes. Convites que, rapidamente, se transformaram em encontros, reencontros, e que, sendo assim, não precisavam mais de pretextos; querer estar junto bastava.  E nós queríamos. Queríamos muito.

Queríamos tanto, tanto, tanto, que o hoje marido – na época, quase namorado, achava eu --  entrou em pânico (depois me contou) e desapareceu. Do dia para a noite, parou de telefonar, de atender ligações, de retornar recados, de escrever ou responder e-mails (em 2002, ainda não havia messenger nem whatsapp). Enfim, sumiu.

“Como SUMIU? Por que SUMIU?”— Perguntavam, incrédulos, todos os que vinham acompanhando nossa história. Uma história ainda curta, sim, mas que a todos parecia verdadeira.

“Sumiu, sumindo, desaparecendo, não dando mais notícias!...”— Eu respondia, entre desalentada, humilhada, enraivecida e inconformada.  Não queria ouvir a minha própria resposta, nem aceitar que tudo o que eu já considerava como ‘nossa história’ não passara de uma aventura. Me negava, terminantemente, a acreditar que, aos 45 anos, eu tivesse me enganado tanto de pessoa.
E foi graças a essa falta de resignação que, numa noite de sábado, engoli raiva, humilhação,  desalento,  assim, tudo junto, doendo e misturado, para, num impulso, bater à porta do apartamento do hoje marido e disparar:

“Você pode até não querer mais me ver, mas não vai virar as costas sem me dizer o motivo”.

E antes que ele pudesse se recuperar do susto, fui entrando casa adentro e me sentando no sofá, para ouvir o que viria depois de um longo silêncio (esse eu não quis evitar).

Faz 14 anos. Catorze anos que, diariamente, agradeço ter seguido a minha intuição, para praticamente invadir aquele apartamento e arrancar quase a forceps os medos, as desconfianças, as incertezas, as cicatrizes que, assim, tudo junto, doído e misturado, explicavam, justificavam e desculpavam o que eu não me acovardei em ouvir, nem em lidar.  Faz 14 anos. Catorze anos que nos despimos dos nossos passados, temores, traumas e das convenções, para, juntando e misturando tudo isso, assim,  sem dor ou rancor, abraçarmos o presente, acreditando que tínhamos um futuro juntos. Faz 14 anos. Catorze anos de vida compartilhada, em que, a cada dia, todos os dias,  conquistamos a felicidade de mais um dia juntos. Que venham mais 14, 28…, quantos anos ainda couberem nessa jornada que escolhemos trilhar de mãos dadas.

(*) Vancouver – cidade da costa Oeste canadense.

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Fifteen years ago, I bumped with my husband in one of my best friends’ mom’s funeral. Although we had heard about each other because of this friend we had in common that was the first time we met. It was not a romantic meeting, but I noticed his lack of orientation – he arrived there late, after getting lost on the way to the crematory – and he (much later told me) thought I looked like a ghost, due to my pale white skin, red hair and black sunglasses. That was our first and almost last meeting, since, a week later, our friend flew back to Vancouver to get back to the life she had abandoned, two years earlier, to come to Rio to take care of her sick mother.

We probably would never see each other again, if one year later I hadn’t decided to celebrate my 45th anniversary with a big party. A party I actually started planning in my father-in-law and uncle Leo’s funeral (I have talked about him in previous posts), when one of his sons, my cousin Leo Jr, made a joke and a suggestion:

“We should find a good reason to get the whole family together and celebrate life, before it is too late”.

I was lucky enough to organize it in time. In time of counting on Leo Jr’s presence happily dancing there (he would precociously die several years later). In time to get in touch again with people who meant a lot to me and I hadn’t seen for years. In time to make peace with friends I had broken with, before time solidified harm and sorrow. In time to convince my Canadian friend she needed to come to Brazil and turn on the sad page of her mom’s illness and death.

So, she did. And as an almost international celebrity, she won the privilege of inviting as many escorts as she wanted to go with her to the party. That was how my husband crossed my road again. This time he did not get lost on the way to the event, neither thought I looked like a dancing ghost; but he did not come to stay – not yet. After the party, it took him more than a week to send me flowers with this justification on a card:

“I bought time to be sure all the other roses you received had already withered, so you would pay attention on mine”.

When I finally got them, they were dry -- I had travelled on business the day before they arrived and stayed out for almost ten days – but the card was there waiting for me.  So, I called my husband to thank the flowers. After explaining why I was late in getting back to him, I got so afraid of one of those long silences that happens when you are not comfortable in a conversation, that I started small talking about my trip, the party, our friend in common, the trip, the party, our friend in common, the trip, the party… Till the moment I had to take a break to breath and heard a big laugh highlighting this comment:

“I am glad you needed to take a breath, otherwise I guess you would never stop talking, would you?!...  By the way, when can we have dinner? I want to see the pictures of the party you have mentioned”.

We laughed together.

At that point, I did not even remember I had mentioned the photographs, but accepted the invitation. That one and all the others he made in the following weeks. Dates that quickly became part of our lives and did not need any justification to happen any more. We wanted to be together; that was enough. And this was so true, that he panicked (he confessed afterwards) and disappeared, From day to night, he stopped calling, answering my calls, returning messages, writing or responding emails (in 2002, Messenger and Whatsapp did not exist). After all, he vanished.

“How, why did he disappear?”—Everyone who was aware of our story asked.

“…Disappearing, vanishing, not dropping a word…”—I answered humiliated, angry and sad, not bearing the meaning of my own words and not accepting the possibility I had made such an adolescent mistake. I simply could not believe the man I had fall in love with was a bluffer  Not when I was forty-five years old (!).
It was this lack of resignation that made me swallow the anger, the sadness and the humiliation to follow the impulse of knocking at my husband’s door and before he could react, tell him:

“You may not want to see me anymore, but you have to tell me why”.

It has been fourteen years. Fourteen years I thank myself for believing in my instincts to go after him and make him share fears, uncertainties, scars… All that junk that explained excused and justified what I was not afraid of hearing or dealing with. It has been fourteen years. Fourteen years we left our past, traumas and conventions behind to embrace the present, because we believed we had a future together. It has been fourteen years.  Fourteen years we have been sharing a life, in which each day, every day, we build the happiness of spending another day together. We look forward to the next fourteen, twenty-eight years…whatever fits in this journey we decided to take as partners.


13 comentários:

  1. Uma linda declaração de amor... que permaneça enquanto assim for...

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    1. :) Será pra sempre, Suely, não importa quantas vidas existam (ou não existam); pode acreditar.

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  2. Conhecendo sua história até acho possivel q eu possa ter a chance de esbarrar com alguém intetessante. Não provável, mas possivel. Felicidades eternas pra vocês dois juntinhos. Fico muito feliz por vocês.

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    1. Que alegria, Jû, a sua abertura para novas possibilidades..rs

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    2. Ju, quanto mais improvável, maiores são as possibilidades :))) E, concordo com alegria com a Denny, que bom que você está aberta a essas novas possibilidades!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. Amiga ... me sinto muito feliz por ter promovido esse grande encontro de 2 almas gemeas muito queridas... Continuo acompanhando essa linda historia de amor com muito orgulho ... Beijos

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  4. Verinha, que linda a sua forma de assumir e declarar o amor ! O mundo seria melhor se as pessoas tivessem esta consciência e conseguissem expressar este sentimento. Beijos

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    1. Denny, minha astróloga de plantão :): to tentando colocar em prática aquele princípio universal ao qual você, lendo a escrita dos astros, me introduziu: Aquilo que compartilhamos, se multiplica. Então,.... To aqui, apostando na multiplicação :)

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  5. Apostando em tudo de bom para vocês, para mim, para todo mundo!

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