O tempo e
as circunstâncias podem até afastar os amigos, mas não acabam com as
verdadeiras amizades. A constatação de
Jô Soares, ao reencontrar pessoas com quem compartilhou momentos importantes da
sua vida, durante a temporada de despedida de seu programa de entrevistas, me
levou a refletir sobre os alicerces que sustentam essa relação tão única. Sobre a trama de sentimentos que a torna uma
referência tão forte nas nossas existências, que não são poucas as pessoas que,
como eu, definem os amigos como sua
família do coração.
Uma família
sem as obrigações protocolares, ou expectativas compensatórias que tantas vezes
pontuam os relacionamentos de sangue. Uma família pautada pela empatia, pela
indetidade emocional que transcende as diferenças e se abstém de julgamentos. Uma
família que está sempre a postos, para o bem e para o mal; não importa se, ela
bem que avisou e você deu com os burros n’água,
ou se você ascendeu à glória sem precisar dos seus conselhos ou do seu
suporte. Ela simplesmente está lá com
você, pra você, por você.
Ao longo
desses meu quase sessenta anos, tenho contado com uma família de amigos generosos. Pessoas especiais que tem
investido tempo e afeto no
compartilhamento de realizações, dores, amores, decepções. Pessoas que
não tem economizado energia para rir junto, chorar junto, aprender junto, se
surpreender junto, se indignar e esbravejar junto . Pessoas corajosas para me
dizerem aquilo que muitas vezes não quero ouvir, e vice-versa. Pessoas que tem
respeitado meus silêncios, quando nada tenho a dizer, e que retomam a conversa
do ponto em que foi interrompida, não importa quanto tempo tenha durado o hiato
– ela soa sempre como se o ultimo
diálogo houvesse acontecido ainda há pouco.
Não consigo
deixar de me sentir privilegiada por contar com essas pessoas na minha vida. Muitas conheço e acompanho (me acompanham) há anos – uma só existência é pouco para relatar
tudo o que já experimentamos junto.
Outras, nem tanto; compartilhamos apenas alguns capítulos das nossas histórias,
mas isso não as torna menos importantes. Há ainda aquelas que acabei de
conhecer e já tem presença relevante no meu álbum de família, uma vez que as
amizades não se constróem pela matemática das horas, mas sim pela intensidade
das trocas.
E é
revisitando esse álbum, que reencontro as imagens que ilustram boa parte dessa
minha narrativa. Estão lá, ainda em sépia,
os flagrantes das disputas de queimado, pique-bandeira e polícia e
ladrão com os amigos de infância. Assim
como, em preto-e-branco, estão documentados, em registros solenes, todos os
primeiros momentos memoráveis vividos em conjunto: o primeiro aniversário, o
primeiro dia de aula, a primeira comunhão, a primeira festa de formatura… Também lá estão os instantâneos das
comemorações de uma copa do mundo que cantava 90 milhões em ação pra frente
Brasil e de uma adolescência que dançava ‘Do you wanna dance’ nas festinhas
vespertinas. Não faltam ainda as polaroids desbotadas de tantas férias passadas
e curtidas na praia e as fotos posadas em cerimônias de graduação, casamentos e
batizados.
Uma viagem
no tempo e na emoção. Uma viagem que dá sentido ao tempo e à emoção. Principalmente
porque possibilita revisitar o que não está documentado em fotografias, mas
permanenceu gravado no intangível das recordações. Na cumplicidade que dá forma às grandes
amizades, à medida que a gente vai dividindo com o outro pequenas felicidades, segredos incofessáveis, planos delirantes, sonhos, deslumbramentos, espantos, medos – todas as nossas
vulnerabilidades --, e descobre que não está sozinho, que o outro continua lá,
de braços abertos, pronto pra te ouvir, pra te acolher, pra te apoiar.
E é a
essência desse sentimento que quero celebrar hoje aqui. Obrigada a todos os
meus amigos que, generosamente, tem me ouvido, acolhido, apoiado e, sobretudo,
tem me ensinado a ouvir, acolher e apoiar. Vocês fizeram de mim uma pessoa
menos solitária, menos egocêntrica. Uma pessoa melhor. Uma pessoa que podem
considerar amiga.
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Time and circumstances may eventually separate friends, but do not kill a
true friendship. Jô Soares (*)’ insight, during his talk-show farewell season,
made me think about what makes this relationship so unique that many people,
including myself, define friends as their ‘heart family’.
A family, which does not have obligations and expectations that many
times, permeates blood relationships. A family whose foundations are based on
empathy and those are enough to overcome differences and judgments. A family
which is always there for you, for the good and the bad, no matter if you
failed, although they had warned you about risks, or if you succeeded
regardless of their advice and support. They are simply there – with you, to
you, for you.
Along my almost sixty years old, I have been counting on a generous family
of friends. Special people who have invested time and affection to share
accomplishments, pain, love, disappointments. People who have not saved energy
to laugh, to cry, to learn, to be surprised, shocked and angry – all together.
Brave people who have told me things that many times I did not want to hear,
and vice-versa. People who respected my silent, when I had nothing to say, and
were able to restart the conversation from the point it had stopped, no matter
how long it took – it always happened as if the last dialogue had taken place
the moment before.
I feel blessed on having these people in my life. I have known many of
them for years and, I am sure, a lifetime is not enough to tell everything we
have shared. With others I have shared only chapters of our histories, but that
does not make them less important. There are also those I have just met and
have already earned a relevant space on my ‘family book’, since friendships are
not based only on time, but on the intensity of what you share.
While I revisit this ‘heart family book’, I find the images that somehow
illustrate my own narrative. The flagrant of my childhood playground and the
posed pictures of first shared moments, such as: a first anniversary, the first
day at elementary school, the first graduation. I also find the shots on a ‘Do you
wanna dance’ teenagers’ dancing parties, the vacations on the beach and on
defining ceremonies, such as college graduations, weddings and baptizes.
It is a trip over time and emotions. Actually, it is a trip that brings
sense to time and to emotions. Mainly, because it allows me to revisit what has
not been documented, but remained in my intangible memories. It is there in the
complicity that sustains forever friendships. The complicity that is built when
we start sharing with someone small happinesses, uncontestable secrets, out of
the blue plans, dreams, enchantments, shocks, fears – all of our
vulnerabilities – and finish discovering that that very same someone are still
there for us. They are still there to listen, to welcome and support us.
It is the essence of this feeling I want to celebrate today. Thanks to all
my friends who, generously, have been there to listen to me, to welcome me, to
support me and, mainly, who have taught me to listen, to welcome and support. That
made me a better person. A person you can also call friend.
(*) Jô Soares is the
anchor of an open TV channel talk-show that, this year, runned its last season, after
being broadcasted for more than 30 decades.
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Obrigada.
ResponderExcluirObrigada, por fazerem parte de minha família.
ExcluirAh..."Do you wanna dance..." No words. beijo
Na voz de Johnny Rivers, Denny, claro!!! Rs Rs Rs
ExcluirJU, Também agradeço ter amigas de tantos anos como você :--)))))
ExcluirLinda homenagem Vera aos amigos! Gratidão por fazer parte desta riqueza de uma relação chamada amizade!
ResponderExcluirVocê tem lugar especial nessa lista, Dibbbahhh! É minha referência para o que significa o exercício da fé. :--)))
ExcluirOi Cyberzinha, muito linda a sua reflexao sobre amizades. Me sinto muito honrada por ter voce como amiga. Compartilhamos muitas alegrias e tristezas ao longo da nossas vidas. Os amigos sao a familia que escolhemos, obrigada por ser parte da minha.
ResponderExcluirE você da minha, CyberCyber. :---))) Você é protagonista de vários momentos importantes nos meus quase 60 e responsável por eu ter encontrado o amor da minha vida :---)))
ExcluirSim, sim, mas devo admitir que, tendo saído de minha cidade após a formatura, me distanciei, e s´voltei a encontrar os amigos por causa do Facebook!
ResponderExcluirA "familia' já incorporou a virtualidade :)
ExcluirFeliz de quem se sentiu dentro do seu texto, Verântima.
ResponderExcluirFiquei feliz ao constatar que tantos se reconheceram nele :)
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