O
P.S. sobre a recuperação de uma gripe forte, usado pelo meu amigo Gustavo
Trestini no primeiro e-mail que me enviou este ano, me levou a responder sua mensagem eletrônica com dois P.Ss. -- um
deles questionando quantas pessoas com menos de quarenta anos saberiam o que
significa post script , o outro especculando quantas, mesmo depois dos
cinquenta, ainda o usariam na sua comunicação – além de nós dois, claro!
Risadas
virtuais à parte, o P.S. me fez pensar sobre como cada geração se apropria da
língua falada, a rejuvenesce, aquece e transforma para, depois de muita saliva
gasta, dar nova forma à chamada linguagem ‘culta’ – aquela que é regida por
normas, é geralmente escrita e que sempre prima pela formalidade. E, talvez por
isso, denuncie a idade, a caretice, de
quem a formula e articula.
Cáspite!
= Caramba! = Cacete! = Cara...!
O
que torna uma expressão exclamatória palavrão? A ênfase da exclamação ou a ausência de
palavra que expresse, traduza e materialize a intensidade de uma emoção? Longe
de mim, aqui, defender o uso de linguagem de baixo calão. Linguistas e filólogos
certamente podem responder pelo viés científico, eu, simples ‘usuária’ da
língua, para me entender, explicar e existir, apenas flagro e registro em
memórias algumas dessas transformações.
Lembro,
por exemplo, da primeira vez que ouvi a palavra afrescada – que hoje só
encontro no Aurélio como afrescar, verbo-sinônimo de refrescar – e corri para
buscar o tal casaquinho que minha mãe tanto recomendava para me proteger de
gripes, nas tardes da minha infância petropolitana. Foi assim que entendi por
que era preciso estar agasalhada. Só bem mais tarde, e não por circunstâncias
particulares, compreendi as dores de quem permanesce continuadamente desprotegido,
descuidado.
Não
esqueço quando descobri a qualidade de ser pusilâmine, numa leitura ginasiana
de ‘Os Sertões’, de Euclídes da Cunha, e desde então me vi empenhada em não me
tornar o que o vocábulo, que nunca usei falando ou escrevendo, significava:
fraca, medrosa, covarde. Talvez meu empenho nem sempre tenha me livrado das
qualidades tão temidas, mas hoje sei:
quem foi vítima da minha pusilaminidade já me perdoou; e o abraço do
perdão vale mais que qualquer adjetivo.
Também
me recordo do encontro com termos como: mentecapta, mequetrefe, malfadada. Eles
eram tudo o que eu não queria ser: doida, bisbilhoteira e azarada. Acho que
escapei da falta de sorte e da insanidade. Há controvérsias sobre a
bisbilhotice, na medida que escolhi o jornalismo como primeira profissão e a
carreira que segui depois sempre foi pautada por formular perguntas.
Quem?
O que? Como? Quando? Onde? E por
que?
Se
as respostas a essas seis interrogações são a matéria prima básica para fazer
qualquer reportagem, a habilidade de formulá-las, repetida e consistentemente, é
ferramenta para a vida; para se descobrir permanente e renovadamente vivo. Não
importa a idade, a raça, a crença, o gênero, o credo. Não importa a língua, a
linguagem, a gíria, o dialeto. Não
importa se bonito virou bacana, se bacana virou legal, se legal virou um
barato, se um barato virou irado e se,
dependendo da hora, do local e da tribo, tudo volta a ser bacana novamente. O
que importa é ser e estar presente.
P.S.
Oxalá, tudo logo volte a ser bacana novamente.
P.S2.Tomara,
que, logo logo, tudo volte a ser bacana novamente.
P.S3.
Demorô pra tudo voltar a ser bacana novamente.
P.S4.
Qual é mesmo o significado de bacana?!
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My
friend Gustavo Trestini’s P.S. on the first email he sent me this year
generated two P.Ss. on my response to him. The first one asked if people below
their forties would know what P.S. means; the other questioned if even the ones
who were above fifty years old were still using it on their messages. Of course
we would not consider ourselves among the latter group.
Regardless
of our virtual laughs, the P.S. situation made me think about how each
generation appropriates itself of their spoken language to reinvent what we
know as the formal language.
Thanks and Regards, Vera
Essas mudanças de sentido das palavras é muito esquisito porque tem hora q tem q ser uma palavra "velha" pra expressar exatamente o q se quer dizer. Ou um belo e sonoro palavrão (minha forma predileta e cientificamente provado que alivia a dor e o stress - pesquisa de Oxford- que eu a-do-rei) mas mesmo assim tenho me achado meio sem palavras ultimamente...
ResponderExcluirViva os pesquisadores de Oxford!!!! Rs Rs Rs
ExcluirEu penso que há uma linguagem apropriada para cada situação e quando a pessoa encontra as palavras mais completas, aquelas as quais expressam perfeitamente a comunicação do momento, na verdade, ela: -Falou e disse (,Vera)!
ResponderExcluirObrigada ! :--))
ExcluirDepois de um certo tempo, de vida, as palavras mais "velhas" chegam mais rápidas, no tempo preciso.
ResponderExcluirPrecisamente :--)
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