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sábado, 21 de janeiro de 2017

Entre P.Ss., cáspites e oxalás / Among P.Ss. and wows

O P.S. sobre a recuperação de uma gripe forte, usado pelo meu amigo Gustavo Trestini no primeiro e-mail que me enviou este ano, me levou a responder  sua mensagem eletrônica com dois P.Ss. -- um deles questionando quantas pessoas com menos de quarenta anos saberiam o que significa  post script , o outro especculando quantas, mesmo depois dos cinquenta, ainda o usariam na sua comunicação – além de nós dois, claro!

Risadas virtuais à parte, o P.S. me fez pensar sobre como cada geração se apropria da língua falada, a rejuvenesce, aquece e transforma para, depois de muita saliva gasta, dar nova forma à chamada linguagem ‘culta’ – aquela que é regida por normas, é geralmente escrita e que sempre prima pela formalidade. E, talvez por isso, denuncie a idade, a caretice,  de quem a formula e articula.

Cáspite! = Caramba! = Cacete! = Cara...!

O que torna uma expressão exclamatória palavrão?  A ênfase da exclamação ou a ausência de palavra que expresse, traduza e materialize a intensidade de uma emoção? Longe de mim, aqui, defender o uso de linguagem de baixo calão. Linguistas e filólogos certamente podem responder pelo viés científico, eu, simples ‘usuária’ da língua, para me entender, explicar e existir, apenas flagro e registro em memórias algumas  dessas transformações.

Lembro, por exemplo, da primeira vez que ouvi a palavra afrescada – que hoje só encontro no Aurélio como afrescar, verbo-sinônimo de refrescar – e corri para buscar o tal casaquinho que minha mãe tanto recomendava para me proteger de gripes, nas tardes da minha infância petropolitana. Foi assim que entendi por que era preciso estar agasalhada. Só bem mais tarde, e não por circunstâncias particulares, compreendi as dores de quem permanesce continuadamente desprotegido, descuidado. 

Não esqueço quando descobri a qualidade de ser pusilâmine, numa leitura ginasiana de ‘Os Sertões’, de Euclídes da Cunha, e desde então me vi empenhada em não me tornar o que o vocábulo, que nunca usei falando ou escrevendo, significava: fraca, medrosa, covarde. Talvez meu empenho nem sempre tenha me livrado das qualidades tão temidas, mas hoje sei:  quem foi vítima da minha pusilaminidade já me perdoou; e o abraço do perdão vale mais que qualquer adjetivo.

Também me recordo do encontro com termos como: mentecapta, mequetrefe, malfadada. Eles eram tudo o que eu não queria ser: doida, bisbilhoteira e azarada. Acho que escapei da falta de sorte e da insanidade. Há controvérsias sobre a bisbilhotice, na medida que escolhi o jornalismo como primeira profissão e a carreira que segui depois sempre foi pautada por formular perguntas.

Quem? O que? Como? Quando?  Onde? E por que? 

Se as respostas a essas seis interrogações são a matéria prima básica para fazer qualquer reportagem, a habilidade de formulá-las, repetida e consistentemente, é ferramenta para a vida; para se descobrir permanente e renovadamente vivo. Não importa a idade, a raça, a crença, o gênero, o credo. Não importa a língua, a linguagem,  a gíria, o dialeto. Não importa se bonito virou bacana, se bacana virou legal, se legal virou um barato,  se um barato virou irado e se, dependendo da hora, do local e da tribo, tudo volta a ser bacana novamente. O que importa é ser e estar presente.

P.S. Oxalá, tudo logo volte a ser bacana novamente.

P.S2.Tomara, que, logo logo, tudo volte a ser bacana novamente.

P.S3. Demorô pra tudo voltar a ser bacana novamente.

P.S4. Qual é mesmo o significado de bacana?!

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My friend Gustavo Trestini’s P.S. on the first email he sent me this year generated two P.Ss. on my response to him. The first one asked if people below their forties would know what P.S. means; the other questioned if even the ones who were above fifty years old were still using it on their messages. Of course we would not consider ourselves among the latter group.

Regardless of our virtual laughs, the P.S. situation made me think about how each generation appropriates itself of their spoken language to reinvent what we know as the formal language.

Dear non-Portuguese speakers readers, I apologize for interrupting the translation at this point. I have to do that, as most of the text uses Portuguese slang I am not able to translate to English and approaches Portuguese evolution and transformation I am not able to find equivalent in English. Regardless of this fault, I hope you keep following my next posts. 
Thanks and Regards, Vera 

6 comentários:

  1. Essas mudanças de sentido das palavras é muito esquisito porque tem hora q tem q ser uma palavra "velha" pra expressar exatamente o q se quer dizer. Ou um belo e sonoro palavrão (minha forma predileta e cientificamente provado que alivia a dor e o stress - pesquisa de Oxford- que eu a-do-rei) mas mesmo assim tenho me achado meio sem palavras ultimamente...

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  2. Eu penso que há uma linguagem apropriada para cada situação e quando a pessoa encontra as palavras mais completas, aquelas as quais expressam perfeitamente a comunicação do momento, na verdade, ela: -Falou e disse (,Vera)!

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  3. Depois de um certo tempo, de vida, as palavras mais "velhas" chegam mais rápidas, no tempo preciso.

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