Quem sou eu

sábado, 14 de janeiro de 2017

Quase um centenário / Almost a centennial

Noventa e nove anos! Essa semana meu pai completou noventa e nove anos de vida. Com um grupo pequeno de amigos, ‘abrimos os trabalhos’ para a celebração do centenário em 2018. ‘Parabéns pra você, nesta data querida, muitas feeeeelicidades, muitos…’  Antes que o coro terminasse a musiquinha  para que apagássemos as velinhas, ele coxixou no meu ouvido “felicidades, sim;  já muitos anos de vida, eu não sei não… Estou começando a ficar cansado…”

Meu pai, minha mãe, meu marido e eu
A confidência em meio à comemoração me causou sobressaltos. Por mais que, racionalmente, eu saiba que completar quase dez décadas de vida está longe de ser trivial, emocionalmente, não é fácil deparar com as evidências de que, a passagem do tempo pesa e, no caso do meu pai, há um ano, o vem privando de coisas de que ele gostava muito, como: caminhar três quilômetros, diariamente, para disputar a rodada de porrinha com os companheiros de pracinha – quem perde, paga o café. Como me acostumei a vê-lo atravessar galhardamente todos os ‘enta’,  sempre animado, fazendo planos, pelo menos, para uma potencial próxima viagem a Portugal, escutá-lo dizer que está começando a ficar cansado, -- e ele disse estar só começando -- de certa forma, materializa a proximidade com o destino do qual nem eu, nem ele,  nenhum de nós escapará.

Meu pai e minha mãe
Mesmo sabendo que determinar o quão próximo estamos desse destino pertence ao imponderável, não consegui  (e não consigo) evitar a revoada de borboletas no estômago, ao pensar tudo isso, junto e misturado, enquanto cantávamos o parabéns. Não estou preparada para a orfandade, por mais que hoje eu seja mais mãe que filha e tome muito mais conta dos meus pais do que eles de mim. Na verdade, ainda não me acostumei com a finitude da vida e, por isso, tantas vezes ainda desperdiço tempo com coisas a que não deveria dar importância. Sei que já abordei os dois temas em posts anteriores, ressaltando sempre a necessidade de viver o aqui e o agora, e por isso já vou pedindo desculpas a vocês, leitores, por tamanha redundância. É que, às vezes, para a gente acreditar mesmo em uma ideia, precisa transformá-la em mantra e repeti-la, repeti-la, repeti-la até a exaustão, para que deixe o território da razão e se incorpore ao da emoção – aquele onde as mariposas fazem rasantes.

(Da esq. p/a dir) O amigo, João Pomarico, eu, papai e mamãe
Enquanto viver cem por cento no presente ainda não é realidade, vou toureando os sustos e aproveitando os bons momentos do jeito que posso. No caso dos noventa anos do meu pai,  deixo que as imagens falem por mim (confiram o vídeo em @facebook/veradias311). Até porque todas as palavras não são suficientes para descrever  a expressão de alegria que tomou conta do seu rosto, ao receber a homenagem dos amigos. Parecia um menino. Um menino que, ok, começa a ficar cansado, "mas só para encarar mais dez anos de vida", como depois esclareceu, quando lhe perguntei por que não queria votos de mais muitos anos de vida. O menino que, ao perceber a aflição da minha pergunta, tratou logo de prometer que fará a sua parte para chegar aos cem anos.  Menos sobressaltada, como um pedaço de bolo e guardo as palavras para a comemoração do centenário, em 2018.

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Ninety-nine years! This week my father turned ninety-nine. With a small group of friends, we started celebrating what will be a centennial in 2018. ‘Happy birthday to you, happy birthday to you, happy birthday dear Gomes…’ Before we finished singing to blow the candles, he whispered in my ear: “wish me luck and happiness, but not many years ahead – I am getting tired…”

This feeling shared in the middle of the celebration made me fright. If on one hand, I rationally know that turning ninety nine is far away of being something usual, on the other, it is not easy to realize that aging has its weight and, in my father’s case, for the last year, it has been obliging him to give up of things he loved to do, such as: walk four miles daily to meet friends and play cards at the downtown square – the loser pays for the coffee. As I got used to see him enthusiastically turning the seventies, eighties and nineties, always making plans for the next potential trip to Portugal, it is hard to hear him saying he is getting tired. It is a way of making the destiny from which none of us will escape close.

Even being aware that we will never know how close this destiny is, I could not (and can not) avoid feeling butterflies in my stomach, when I thought about all of that, while singing happy birthday to my father. I am not prepared to become an orphan, although nowadays I play more as his mother than as his daughter. In fact, I have not got used yet with the idea that life has an end, so, many times I waste time with unimportant things. I know I have approached these subjects in previous posts, always emphasizing the importance of living in the present, and therefore I present my apologies to you, readers. Sometimes you need a mantra redundancy to make something real.

While I keep trying, I move forward seizing the good moments as I can. In the case of my father’s ninety ninth anniversary, I let the images speak for me (please, check the video on @facebook/veradias311). I am saving the words for centennial celebrations in 2018.

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8 comentários:

  1. A festa foi ótima! Adorei ver sr Gomes e d. Lydia tão "brilhantes"!
    Estamos firmes aguardando o centenário. Beijos

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    1. Foi ótimo ter você lá, JU. E é isso aí, agora é rumo aos cem.

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  2. Me emocionei com seu texto. Minha mãe fez 95 anos na semana passada

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  3. Obrigada, Luiz. E parabéns para a sua mãe também.

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  4. Emocionante Vera! Parabéns ao seu pai pela força e pela sabedoria! Parabéns a você pelo amor pleno de filha que cuida dos país!

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  5. O envelhecer tem dessas coisas, a perda dos entes queridos, e como todo ser humano egoista que somos os queremos perto para sempre. O que realmente importa sao os momentos vividos, hoje dou mais valor aos meus parentes. Com a idade a gente aprende a ser menos egocêntrico e passa a olhar mais em volta e percebe o quanto nossa familia é perfeita.Parabens a seu pai

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    1. É isso mesmo, Ana Cristina, com a idade, a gente se apazigua e 'volta pra casa' :--)))) . Obrigada por acompanhar o blog.

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