Há males
que vêm pra bem, minha mãe sempre dizia todas as vezes em que os fatos não correspondiam as minhas
expectativas. Era a sua forma de tentar me consolar e, ao mesmo tempo, me ensinar a ser resiliente. A exercer essa
qualidade de reconhecer as circunstâncias adversas, até se adequar a elas, mas não se
deixar levar ou abater e seguir em frente na busca do sonho. Hoje, sei, essa é
a essência da determinação. Na época, aos treze anos, eu imputava um viés de
conformismo à máxima materna e, como toda adolescente que se preza, reagia
inconsolável e impaciente: se há regras, sou contra; e quero tudo do jeito que
eu quero, para hoje, aqui e agora.
Eu e mamãe:o q é do homem o bicho não come |
Eu-quero-porque-eu-quero.
Esse mantra
de afirmação e rebeldia que, com mais ou menos intensidade, marca toda
passagem pela adolescência, me acompanhou para além da maior idade. Talvez porque, temendo os confrontos domésticos,
antes dos vinte anos, eu o tenha repetido sempre sem alarde. Talvez porque, a
partir dos vinte e um e da minha
independência econômica, eu tenha tomado gosto pelos embates e
necessitasse escutar minhas discordâncias em alto e bom som. Talvez porque só na proximidade dos trinta, a
vida tenha me mostrado de forma contundente que nem tudo acontece como a gente
quer; ou tenha pelo menos colocado à prova o que eu pensava desejar. E foi
sobrevivendo a essas quebras-de-braço, que atravessei as fronteiras da chamada
idade adulta e, querendo ou não, gostando ou não, vi minha teimosia e
impaciência se transformarem em convicção
e determinação.
“Não era
pra ser”… Me ouvi um dia murmurando para mim mesmo, após receber um telefonema
com a notícia que o emprego que, na época, eu tanto desejava e pelo qual tanto
batalhara, não seria meu. “Dias melhores virão”… Me vi, anos depois, repetindo
para uma amiga, ao assumir pela primeira vez para alguém além da minha
analista, que meu casamento (o primeiro) estava no final. “O que não tem
remédio, remediado está”… Me flagrei, em algum momento entre os dois episódios,
dizendo a um parente, a quem tentara ajudar a enfrentar uma situação limite, e
que decidiu se esquivar – negar o problema, não sair do lugar.
Se esses
chavões resignados me consolaram nesses (e em outros tantos) momentos, isso não
quer dizer que eu tenha tirado tudo de letra. A resiliência para seguir adiante
surgiu do reconhecimento da frustração, da dor da perda, da experiência do luto
pelo que poderia ter sido. O luto que nos faz vestir a alma de negro, iluminar
a insônia com castiçais e chorar feito carpideiras. O luto que exaure toda a
nossa energia e que, por isso, nos zera,
permitindo que desse ‘marco zero’ renasça o desejo, o sonho, a vontade, a
determinação de ir em frente. Seja esse em frente aonde for, porque, como diz
minha mãe até hoje, com a sabedoria dos seus 92 anos, ”o que é do homem, o bicho
não come”.
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There are bad things that
happen for the good, my mom always said when my expectations were frustrated.
This was her way to comfort me and teach me how to be resilient. How to build
the ability to recognize adverse circumstances, adjust to them and not lose the
track to pursue my dreams. Now, I know, this is what determination is made of.
At the time, at thirteen years old, I thought this was too much resignation for
me and, as most teenagers do, reacted impatiently: things had to be the way I
thought they should be.
The stubbornness, which is a
kind of teenagers’ brand, followed me to ages far beyond the adolescence. Maybe
because, before turning twenty, I was afraid of domestic confrontations and
decided to be silently stubborn. Maybe because after being twenty-one and
reaching my independency I felt brave to speak up. Maybe because only when I
got close to the thirties I got strong evidences that not always life is how we
wish, or at least had my wishes tested. The fact is: those were defining
moments to turn my lack of patience into resilient conviction and
determination.
“This was not meant to be”…
I heard myself whispering, one day, after answering a call that told me my
dream job would not be mine. “Better days are to come”… I noticed myself
telling a friend, years later, when I first recognized my marriage (the first
one) had come to an end. “It is what it is”… I realized myself repeating to a
relative I had tried to support on a difficult situation and who decided not to
face the problem.
The comfort these sayings
express does not mean it was easy for me to overcome those situations. The
resilience to move forward came from the recognition I was frustrated, I was in
pain because I had lost something or someone I loved, I had to live the grief.
The grief that makes us wear black, light up candles and cry a river. The grief
that drains all of our energy to zero and from there allows our wishes, dreams,
desires and determination to blossom again. To move forward, no matter where
forward is.
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Verinha, seu texto de hoje ensina algo tão importante: a vida tem perdas sim e precisamos aprender a lidar com essas frustrações para nos tornar mais fortes. Obrigada, Vera, pela sua sensibilidade e por compartilhar experiências tão relevantes neste momento em que a humanidade precisa tanto se equilibrar entre perdas e ganhos.
ResponderExcluirGanhando aqui. perdendo ali, vou me tentando me equilibrar, Dibbbbah. Não tenho a pretensão de ensinar nada a ninguém. Quero apenas compartilhar essas minhas reflexões a caminho dos 60 anos. Acho que tudo isso tem a ver com a maturidade.
ExcluirBoa , Verinha! Vou compartilhar quando aparecer no face. beijocas
ResponderExcluirObrigada, Eliane :)
ExcluirÉ. Dizem q não come mesmo. Quero acreditar nisso...
ResponderExcluirPode acreditar: o que é pra ser teu, ninguém leva. Levei quase 50 anos para aprender, mas cheguei à conclusão que mamãe tinha/tem razão. Tantas voltas para chegar no ponto de onde parti, essa é a maior ironia!... :--)))
ExcluirAchar que se está sempre no controle de tudo é o grande erro.
ResponderExcluirE achar que nada pode/deve ser controlado é outro erro também muito comum. O segredo está no equilíbrio -- e PQP! Como é difícil ajustar essa equação!
ResponderExcluirVera, eu acredito muito que tudo tem a hora certa de acontecer, inclusive nossa evolução. A adolescência é sempre tão turbulenta porque é necessário remexer nossas ideias para, aos poucos, colocá-las nos lugares adequados até que se aproxime de um equilíbrio ( a maturidade). Parece que, enfim, estamos montando esse quebra-cabeça.Parabéns belo texto!
ResponderExcluirObrigada Maria do Carmo. Pior é que há quem morra adolescente, não é mesmo? 😄
Excluire viva a maturidade....quando compreendemos a vida e seu sentido e nada fica em vão
ResponderExcluirViva!!!!!! 😄
ResponderExcluirÓtimo resumo, Vera, mais uma vez. Sim, resiliência! Paciência, prudência...
ResponderExcluire haja ência, Crisantema :--)))) !
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