Quem sou eu

sábado, 3 de junho de 2017

Sobre micos e bisavós / About bloopers and great-grandparents

Ela não usava email, não tinha perfil no Facebook e raramente navegava pela Web. Não fosse o smartphone que ganhou de um dos bisnetos num dia das mães, há três anos, a vida da minha leitora Laura Dionísio Albuquerque, 84 anos, continuaria totalmente analógica.  Continuaria. E só não continuou por causa da persistência do mesmo bisneto que a presenteou. Vendo que a bisa não substituia o celular tradicional que já tinha pelo novo,  ele passou  duas semanas indo diariamente a sua casa, para formatar o aparelho com todos os aplicativos que, achava, ela precisaria; ah, sim! E para ensiná-la a usá-los.  

“Ele se empenhou tanto, que fiquei sem graça de dizer que eu só precisava de celular para falar”, conta ela pelo Skype, facilidade que passou a conhecer através da “maratona de treinamento” do bisneto. Maratona que a deixou extenuada por quase um mês, pois além de ter que memorizar para que serviam todas aquelas “janelinhas” na tela do aparelho, precisava aprender rapidamente a “operá-las”. Até porque, diligente, o bisneto volta e meia e sem prévio aviso testava o seu progresso.

“Foi num desses sustos que aprendi a usar o zaaap”,  descreve ela, ao referir-se ao whatsapp (aplicativo que possibilita a troca de mensagens instantâneas --  traduzindo para os leitores que por acaso ainda não o conheçam). E continua:

“Eu estava num restaurante perto de casa, onde costumo almoçar, e, de repente, comecei a ouvir aquele som de sirene vindo da minha bolsa. Peguei o celular e vi a janelinha do zaaaaap piscando pra mim. Deduzi que o som viesse dali e a toquei. Deparei com a foto do meu bisneto sorrindo e o recadinho dizendo: ‘nada não bisa, só queria ter certeza que você estava aí’.  Me derreti toda, né?! E tratei logo de achar o jeito pra responder: ‘sim, estou aqui e usando o zaaap’. E ainda coloquei uma emoji, que no dia anterior tinha aprendido a usar. No que a família ficou sabendo que eu já sabia pilotar o zaaap, foi um tal de zap pra cá e pra lá, que minha primeira providência foi convocar o bisneto para trocar o alerta de sirene por algo menos alarmante. Ele ficou todo prosa”.

Prosa e animado. Tão animado, que a desafiou para uma série de atividades on line, como: jogar dominó e paciência com adversários virtuais; convocar uma reunião familiar e a realizar via skype; fazer um curso de culinária tailandesa; voltar a estudar francês…  Laura passou “com louvor” por todas essas provas e aceitou muitas outras propostas pelo bisneto e demais membros da família. Na verdade, a experiência tem sido tão enriquecedora, que ela mesmo passou a desafiar-se:  todo mês se propõe a fazer alguma coisa que nunca fez antes.

“Com essa história do celular, me dei conta que, quando você começa a se perguntar quando foi a última vez que fez alguma coisa pela primeira vez, é sinal que a sua vida está caindo na mesmice. A ficha realmente caiu quando me vi diante da concentração de primeiras vezes nesse smartphone. OK, eu já tinha passado dos oitenta, mas e daí?  Se esse é o caminho para manter a juventude independente da idade, quero percorrê-lo”, afirma.

Entrar em contato com o 2xTrinta e me contar essa história, para ver se eu me interessaria em publicá-la, foi o desafio que ela se impôs para este junho que mal começa. Uma prova que eu consideraria até fácil, mas que ela explica não ser tão simples, uma vez que, deduz: eu iria pedir uma foto sua e. pelo menos, o nome do seu bisneto, e ela não pode oferecer nenhuma das duas coisas, porque ele, o bisneto, não quer “pagar mico nas redes”.

Realmente, eu adoraria ilustrar esse texto com a foto dessa dupla que protagonizou/za história tão especial. Porém, se mantê-la sem rostos é a condição  para compartilhar a experiência de uma octogenária que  descobriu a fonte da juventude a partir de um smartphone, topo pagar esse mico. Afinal, quanto tempo faz mesmo que não pago um mico?

……………………………………………………………………………….
Se você gostou deste post, por favor, o compartilhe com sua rede de relacionamentos, clicando em um dos botões que aparecem no rodapé da tradução em inglês abaixo. Se deseja, a partir de agora, receber notificações dos novos posts do blog no seu próprio email, preencha o requerimento no espaço-retângulo logo abaixo do meu perfil, na coluna à direita deste artigo.
……………………………………………………………………………….

She was not an email user, did not have a Facebook profile and rarely navigated through the web. My reader Laura Dionísio Albuquerque, 84 years old, would still living an analogical life if one of her great-grandchildren had not given her a smartphone as Mothers’day gift three years ago. More than that, he enabled her to use it.

"He worked so hard to make that possible that I was embarrassed to say I just needed a cell phone to talk through," she says over a Skype, a facility she came to know through the same great-grandson’s "training marathon." A marathon that left her exhausted for almost a month, because in addition to having to memorize all the "little windows" on the device screen , she had to learn quickly " how to operate them". Without previous notice,  the great-grandson kept diligently checking her progress.

"It was through one of these not scheduled checking points that I learned how to use zaaap," she says, referring to whatsapp (an instant messaging application - explanation for readers who do not happen to know it yet). And she keeps going:

"I was in a restaurant near the house, where I usually have lunch, and then I suddenly heard the siren sound coming from my bag. I picked up the cell phone and saw the zaaaaap's window winking at me. I concluded I had to touch it and when I did, I got the picture of my great-grandson grinning with this message: “hey great-grandma, I just wanted to make sure you were there.'  With my heart warmed, I helped to find the way to respond: 'Yes, I'm here and using zaaap' As the rest of the family learned that I already knew how to use whatsapp, I found myself in the middle of a zap festival.  It was so intense, that I asked my great-grandson to change the siren alert for something less alarming. He got so proud of me. "

Proud and excited So excited, he challenged her to a series of online activities, such as: playing dominoes and solitaire with virtual opponents; holding a family meeting via Skype; taking a Thai cooking course; learning French ... Laura passed "with praise" for all of them and accepted many other challenges proposed by the great-grandson and other members of the family. In fact, the experience has been so enriching that she decided to challenge herself to do something she has never done before every month.

"With this cell phone story, I realized that when you begin to wonder when you last did something for the first time, it is a sign that your life is becoming boring. The insight came when I saw myself in front of the concentration of first times in this smartphone. Okay, I was already over eighty, but so what? If I have found how to be young despite of my age, I have to take this chance, haven’t I?". She says.

Contacting 2xTrinta and telling me her story, to see if I'd be interested in posting it, was the challenge she set for this June that just started. A proof that I would even consider easy, but which she explains is not so simple, since, she deduces: I would ask for a photo and, at least, his great-grandson’s name, and she can not offer either of them, because he, the great-grandson, does not want to "look like a blooper in the social network."


Really, I would love to illustrate this text with the photo of this duo who starred in such a special story. However, if keeping it without faces is the condition to share the experience of an octogenarian who found how to keep herself young from the use of a smartphone, I agree in making myself a blooper. After all, how long has it been since I made it for the first time?

2 comentários:

  1. Espírito não envelhece. Dá pra ser eternamente jovem por dentro. Tem que esquecer os preconceitos. Nossos conosco mesmos e dos outros em relação a nós que temos mais tempo de estrada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso mesmo, Ju, é só uma questão de acreditar e viver de acordo. Mas há momentos que, mesmo para quem acredita, é difícil.

      Excluir