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sábado, 22 de abril de 2017

Afetos visíveis / Visible affections

Tenho ouvido muitas pessoas na minha faixa etária reclamarem que se tornaram invisíveis depois dos sessenta anos.  Que deixaram de ser notadas, consideradas, admiradas. Como se a idade as houvesse transformado em seres que só existem quando entram na fila preferencial  do supermercado, pagam meia entrada no cinema, ou estacionam em vagas para idosos, colocando o respectivo cartão de identificação no painel do carro. No resto do tempo, elas se sentem como  ‘vidraças transparentes’, que todos ignoram -- só olham através. quando não ‘trombam contra’.
Apesar da reclamação me causar estranhamento – eu não me vejo assim -- ela me faz refletir sobre a importância de existir para o outro, de ter relevância para alguém, e de como isso é fundamental, para que  reconheçamos nossa própria identidade, para que acreditemos que nossa digital faz alguma diferença nesse microcosmo em que vivemos.

Há mais ou menos duas semanas, uma amiga com quem convivo há quase vinte anos e com quem trabalhei um bom tempo, me surpreendeu com uma demonstração inusitada de reconhecimento. Me convidou para tomar um vinho e durante o encontro leu uma carta que me escrevera, dias antes, durante o processo de reflexão que a levou a decidir fazer uma mudança significativa de carreira, aos sessenta e dois anos. Uma carta de agradecimento por toda a confiança que depositei nela,  mais de dez anos atrás, quando trabalhamos juntas, e que, segundo ela. foi fundamental para a trajetória profissional que trilhou até aqui.

“Eu preciso te dizer esse obrigada para seguir em frente”—completou ela, enquanto me entregava a carta e nós duas nos alternávamos entre lágrimas e gargalhadas, lembrando de diversas situações que vivemos juntas.

Quinze dias depois desse encontro, ainda alterno lágrimas e gargalhadas toda vez que releio a carta. Acho que isso vai acontecer sempre, independente de quanto tempo passe e de quantas vezes eu a releia. A sinceridade e a gratidão que pontuam seus cinco parágrafos me alimentam e me inspiram a também ser grata. Ser grata pela generosidade e delicadeza dessa amiga que os escreveu; ser grata por tudo o que também aprendi e ainda aprendo com ela; ser grata por tudo o que a vida ainda vai nos dar e, sobretudo, por saber que são os afetos que cultivamos que nos imprimem relevância. São eles que nos livram da condição de invisibilidade, não importa a idade.

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Many people in my age complain that they have become invisible after turning sixty. They say they are no longer noticed, considered or admired, as if they only existed when they join the preferred line of the supermarket, pay a half-ticket to the cinema, or park their cars in elderly parking lots. In the rest of the time, they feel like 'transparent glazing', which all ignore.

Although I do not see myself this way, the complaint makes me think about the importance of being important to someone, and how it is fundamental, for us to recognize our own identity.

About two weeks ago, a friend who worked with me for a long time surprised me with an unusual demonstration of recognition. She invited me for a drink and during the meeting read a letter she had written to me a few days earlier during the decision process that led her to make a significant career change at the age of sixty-two. A thankful letter for all the trust I devoted to her more than ten years ago when we worked together, and that, in her words, was fundamental for the professional trajectory that has trailed so far.

"I need to thank you to move on," she completed, while handing the letter to me and we both bursted into tears and laughs, remembering various situations that we lived together.

Fifteen days after that meeting, I still crying and laughing all together every time I reread the letter. I think this is going to happen every time I do that, regardless of how much time passes and how often I re-read it. The sincerity and gratitude that punctuates its five paragraphs feed me and inspire me to be grateful as well. Be grateful for the generosity and gentleness of this friend who wrote them; for all that I have also learned and still learning from her; for what life will give us in the future and, above all, for knowing that the affections we cultivate imprint our relevance. They are what free us from the condition of invisibility, no matter the age.
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11 comentários:

  1. Creio que as últimas frases concluem a reflexão:"por saber que são os afetos que cultivamos que nos imprimem relevância. São eles que nos livram da condição de invisibilidade, não importa a idade." Semear para colher, sem cobranças nem reconhecimento,apenas gratidão.

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    1. Sim, MCarmo, gratidão Eh a chave de tudo. A carta da minha amiga me fez pensar muito em quanto já deixei de agradecer.

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  2. É sempre bom saber que servimos de inspiração pra alguém. Melhor ainda não ser invisível mas, sim, respeitada.

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  4. Desculpas saiu dup,icado, estou com dificuldade de postar,

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    1. Ana Cristina, ao excluir o comentário duplicado, os dois foram apagados automaticamente. Você poderia por favor publicar novamente sua discordância? Entendi que você se interessou pelo texto, quando leu o título, mas se decepcionou, porque o achou superficial. Mencionou que aos 60 anos, você já se sente invisível em muitas situações, porém não especificou quais. Gostaria de detalhá-las num próximo post como você sugere. No texto que publiquei, abordo a minha perspectiva sobre o tema, mas nada impede que eu escreva sobre a sua, se você me der a oportunidade de conhecê-la em profundidade. Se preferir, falar por telefone ou skype, me contata pelo messager no facebook @veradias

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    2. Que bom que vc reprisou o post, sim eu discordei por me sentir invisível sim, invisível quando passo nas bancas de jornais e nao me vejo representada nas revistas, nos anuncios em geral sem contar nas pessoas invisiveis que estão nos asilos. Logico que existem aquelas que tem uma estrutura que as impedem de se sentirem invisiveis mas no geral sim somos invisiveis.

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  5. ������������, Verinha, como vc, acredito na humanidade, por mais que os acontecimentos nos levem a olhar em outra direção! Beijos Parabéns

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  6. Interessante o seu texto pela perspectiva do afeto concordo que não somos invisiveis mas pelo olhar di outro as vezes parecemos

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