Quem sou eu

sábado, 8 de abril de 2017

Entre o botox e a vã filosofia / Between Botox and vain philosophy

“Nada faz uma mulher parecer tão velha quanto tentar desesperadamente parecer jovem”.

A máxima de Coco Chanel quase me escapou como resposta desaforada, quando, três dias atrás, entrei em uma loja de cosméticos para comprar uma máscara facial e a vendedora tentou me vender um tratamento completo para que eu pareça dez anos mais jovem. Como ela era simpática e compartilhou, de cara, sua ansiedade em disfarçar os cinquenta e três anos que acabou de completar, resisti à tentação de ‘espaná-la’ com a frase da minha musa Gabrielle e declarei de forma suave:


‘Mas eu não quero esconder que estou a três meses dos sessenta anos”.  
  
“Nãaaao?! Como não?!”— Ela me perguntou, arregalando os olhos e já emendando a afirmação que, na sua perspectiva, torna infalível seu argumento de vendas: “depois dos quarenta, toda mulher faz qualquer coisa para esconder a idade!”  

“Nem todas” – respondi. E sem lhe dar tempo para argumentações, encerrei o assunto, antes que a conversa se transformasse em um seminário interminável sobre vaidade feminina e velhice. Saí da loja. No caminho para o estacionamento do shopping, me flagrei conferindo rugas na minha imagem refletida pelas vitrines.  São muitas,  reconheci. Mas como poderia ser diferente, se elas
contam uma história de quase sessenta anos?, minimizei. Com o tratamento que a vendedora tentara me vender minutos antes, talvez…, considerei. Mas como abrir mão delas, se ao vê-las no espelho todos os dias reconheço o mapa que me trouxe até aqui?  Revisito geografias e circunstâncias que me testaram, transformaram e me fizeram ser quem eu sou?, filosofei. Até que ponto essa vã filosofia  não é disfarce para a dor de se ver envelhecendo?, provoquei.

Sim, envelhecer dói. Mesmo que o processo seja vivido com saúde e alegria, dói. Mesmo que seja experimentado com serenidade e clarividência, dói. E é preciso reconhecer que é doloroso, para que seja possível ultrapassar a dor. Para que ela seja uma daquelas dores que passam e não uma das que nos despedaçam. Acho que esse trecho ficou um tanto dramático – quase um tango – mas não vou cortar.
Em que medida uma aplicação de botox é o caminho mais curto para transformar essa dor em alegria?,  não sei,  não sei mesmo. Mas também não vou pagar pra ver. Quero que meu rosto espelhe a idade que tenho e todos os ‘enta’ que ainda vêm pela frente. Se possível, com lucidez, paixão e graça.
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"Nothing makes a woman look as old as trying desperately to look young."

Coco Chanel's statement almost escaped as an unreasonable response when three days ago I went into a cosmetics shop to buy a facemask and the saleswoman tried to sell me a full treatment to make me look ten years younger. As she was sympathetic and shared her eagerness to disguise the fifty-three years she had just completed. I resisted the temptation to 'dab her' with the phrase of my muse Gabrielle; so, I said softly,

'But I do not want to hide that I'm three months out of sixty.'

"Noooo ?! Why not? "- She asked me, widening her eyes and already mending the statement that, in her view, makes her sales argument infallible:" after forty, every woman does anything to hide her age! "

"Not all of them," I replied. And without giving her time to argue, I finished the conversation before it turned into an interminable seminar on female vanity and old age. I left the store. On the way to the parking lot, I found myself picking up wrinkles in my mirrored image. There are many, I recognized. But how could it be different, if they tell a story of almost sixty years? I minimized. With the treatment that the saleswoman had tried to sell me minutes before, perhaps... I considered. But how can I give them up, if when I see them in the mirror, I recognize the map that brought me here? I revisit geographies and circumstances that tested me, transformed me and made me who I am? I philosophized. To what extent is this vain philosophy not a disguise for the pain of aging? I provoked.

Yes, aging hurts. Even if the process is lived with health and joy, it hurts. Even if it is experienced with serenity, it hurts. And it must be recognized as painful, so that pain can be overcome. So that it is one of those pains that pass and not one of those that tear us apart. I think this piece became somewhat dramatic - almost a tango - but I will not edit it.
So, to what extent is a Botox application the shortest way to turn that pain into joy? I do not know, I really do not know. But I will not pay to check it either. I want my face to mirror the age I have and all the years that still come ahead. If possible, with clarity, passion and grace.
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14 comentários:

  1. Ter saúde física e mental é o essencial para sermos felizes, o restante é pura ilusão.
    Novamente,o tema é muito bom!

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  2. Dá um quase terror. Ficar velha. Mas depois de pensar bastante eu resolvi encarar. É tão fake... E, se olhar direitinho não adianta a cara esticada e o em torno todo enrugado. Tenho 62. É isso. Quem não gostar que se dane! Não vou fazer plástica. Não vou usar botox. E ainda por cima, pouca maquiagem (mas maquiagem). É assim que eu gosto. Fazer o quê? ;)

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  3. Acho que temos um grande problema com essa fase da vida. Existe um preconceito em torno da velhice que a transformou numa coisa muito negativa, quando na verdade envelhecer e natural. Em outras culturas ela ainda e encarada de forma mais positiva. Hoje vivemos mais tempo, e a velhice passou a ser quase metade da nossa vida. Temos que mudar essa mentalidade, senao estamos ferradas ... :)

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    1. Concordo totalmente, Cyber. To aqui tentando fazer minha parte :)

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  4. Interessante e autentico! Independente da idade ninguem tem que seguir o outro ou pensar como tal. Amadurecer todos nos vamos mas que seja com dignidade.

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  5. Vera, envelhecer dói, sim. E a única maneira de não passar por isso é morrer jovem. Te juro que agulha alguma vai me fazer mudar minha posição. Não me vejo angustiada com nenhum sinal em meu rosto. Cada um é uma história, boa ou sofrida. Me assustei mais sendo mãe aos 38 anos, 15 anos depois da primeira filha, do que ser chamada de avó aos 54. Hoje, aos quase 61, não mudaria nada em meu rosto ou meu corpo. Só o que quero é envelhecer com dignidade, saúde e alegria. Mas que dói, dói!

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    1. Obrigada por acompanhar o blog e por compartilhar seu ponto de vista, Maria. E concordo com você: perder a dignidade jamais.

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