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sábado, 15 de abril de 2017

Porque envelhecer dói -- dói?! / Because aging hurts -- does it hurt?!

A afirmação que dá título a este artigo e que, de certa forma, concluiu meu último post, ‘Entre o botox e a vã filosofia’, causou.  E, na discussão que o sucedeu, houve quem concordasse comigo em gênero, número e grau – um alento  de empatia nessa minha jornada rumo aos sessenta anos -- , e quem discordasse tão veementemente, com tão bons argumentos, de tudo que escrevi,  que me vi duvidando do que afirmara.

Envelhecer dói ou não dói, eis a questão.

Semelhanças hamletianas à parte (quanta pretensão!), aqui ainda estou eu oscilando entre as duas respostas opostas: dói, não dói… E enquanto minhas emoções  se reafirmam e se contradizem no que faz o fiel da balança pender a cada momento para um lado, vou tentando entender essa dinâmica controversa, para explicá-la a mim mesmo.   

Dói. Envelhecer dói, sim.

Porque nascer dói, existir dói, ser criança dói, adolescer dói, maturar e amadurecer, em seus diversos estágios, dói. Porque todo processo de mudança dói, ponto (sem com e/ou br). E é doloroso, porque mudar implica abrir mão de algo que conhecemos, que bem ou mal administramos, e que, mesmo que não nos satisfaça, não nos faça felizes, nos é familiar, próximo, íntimo… É confortável. Portanto, abrir mão dessa intimidade, dessa zona de conforto, para aventurar-se em território totalmente desconhecido gera angústias, alimenta ansiedades.  É como saltar no abismo, mesmo sabendo que estamos ancorados em uma asa-delta. Dá frio na barriga, traz vertigens, seca a boca. Até nos darmos conta que estamos flutuando no espaço. Até começarmos a desfrutar do mergulho no silêncio,, que só é quebrado pelo barulho do vento batendo contra a vela da asa. Até  percebermos a perspectiva que só um vôo livre dá:  visto lá de cima, tudo parece  tão pequeno…

Experimentei o vôo de asa-delta há quase trinta e cinco anos, em função de uma reportagem que fiz para o jornal onde na época eu trabalhava, e até hoje revisito sensações e reflexões provocadas pela experiência, pra mim, inusitada, quando me vejo suando frio diante de uma mudança. Foi assim quando, há vinte e oito anos, troquei o jornalismo pelo mundo da comunicação corporativa; foi assim quando, há quinze, topei casar novamente; foi assim quando, doze anos atrás, mudei de cidade com marido, gato e tartaruga; e assim foi quando, em 2015, decidi me aposentar e começar uma nova etapa profissional como consultora independente e escritora. Um caminho que, no ano passado, me trouxe a este blog – a saída que encontrei para digerir minha estupefação diante da passagem do tempo.

Mas afinal, envelhecer dói ou não dói?

Não dói, garantem muitos de vocês, leitores, que vêem me acompanhando nessa jornada com o 2xTrinta.  Até porque a alternativa a não envelhecer é muito pior. Partindo dessa perspectiva, viver muitos anos e com saúde não é dor, é dádiva, afirma a leitora Silvia Borges, depois de compartilhar vários episódios de familiares seus que morreram cedo e não puderam usufruir do crescimento de filhos e netos que botaram no mundo. “Isso, sim, dói”, diz ela, enquanto a leitora Eliene Brito admite que, depois de passar um bom tempo escrutinando rugas e fios grisalhos, chegou à conclusão que brigar consigo mesmo não traria a juventude de volta, “só aumentaria o vinco entre as sobrancelhas (rs rs rs)”.

Também entre risadas, o leitor Pedro Moreira confessa ter levado um susto quando, aos quarenta anos, recebeu a prescrição de óculos por conta da vista cansada, aos cinquenta, se deu conta que a calvicie avançava sobre o que havia sido uma vasta cabeleira e, aos sessenta, constatou estar dez quilos acima do peso que sempre mantivera. E ele reflete: “Em contrapartida, me descobri mais sereno e lúcido para aproveitar o tempo presente, para valorizar tudo de bom que a vida me dá; e, cá pra nós, os carecas também têm lá seu charme (rs rs rs)”.

Então, tá, Silvia, Eliene, Pedro e todas as pessoas que, publicamente ou via inbox, investiram tempo e palavras para tentar me convencer  de que ando sofrendo à toa. Muito obrigada pela atenção e pelo carinho.  Muito obrigada por proporem reflexões que partem de perspectivas diferentes da minha. É assim que a gente aprende e cresce. E fiquem certos que, em relação à passagem do tempo, quando eu crescer, quero ser como vocês (rs rs rs).    
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The statement that gives title to this article and that, to a certain extent, concluded my last post, 'Between Botox and vain philosophy', resonated. And in the discussion that followed, there were those who totally agreed with me -- a breath of empathy in my journey toward sixty years – and who would disagree so vehemently, with such good arguments, that I found myself doubting what I had said.

Aging hurts or does not hurt? that's the question, as Hamlet would pose it.

Putting that pretension aside, the truth is: I am still oscillating between the two opposing answers: it hurts, it does not hurt ... And while my emotions are reaffirmed and contradict themselves in what makes the scale hang every moment to one side, I try to understand this controversial dynamic, to explain it to myself.

It hurts. Yes, aging hurts.

Because to be born hurts, to exist hurts, to be a child hurts, to be a teenager hurts, to become an adult hurts and to mature, in its diverse stages, hurts. Because every change process hurts, period (without com and / or br). And it is painful, because change implies giving up something we know, that we do well or poorly, and that, even if it does not satisfy us or makes us happy, it is familiar, close, intimate ... It is comfortable. Therefore, giving up this intimacy, this zone of comfort, to venture into totally unknown territory creates anguish, feeds anxieties. It's like jumping into the abyss; even knowing we're anchored in a hang glider. It generates butterflies in the stomach, brings vertigo, and dries the mouth. Until we realize that we are floating in space. Until we begin to enjoy the dip in silence, which is only broken by the noise of the wind hitting against the wing. Until we realize the perspective that only a free flight gives: seen from above, everything seems so small...

I experienced the hang gliding flight almost thirty-five years ago, due to a story I wrote to the newspaper where I worked at the time, and till today I revisit the sensations and reflections provoked by the experience -- for me, unusual -- when I see myself afraid of a change. That's how, twenty-eight years ago, I switched from journalism to corporate communications; It was so, when, in 2002, I got married again; It was like that when, twelve years ago, I moved from Rio to São Paulo with husband, cat and turtle; And that's when, in 2015, I decided to retire and start a new career as an independent consultant and writer. A path that last year brought me to this blog - the way I found to digest my astonishment at the passage of time.

But does aging hurt or does it not hurt?

It does not hurt, many of you, readers, who are accompanying me on this journey with 2xTrinta, assure. Even because the alternative to not aging is much worse. Starting from this perspective, living many years is not a pain, but a gift, says the reader Silvia Borges, after sharing several episodes of relatives who died early and could not enjoy the growth of their children and grandchildren. "That does hurt," she says, while the reader Eliene Brito admits that, after spending a good amount of time scrutinizing wrinkles and gray hairs, she came to the conclusion that fighting with herself would not bring the youth back, "it would only increase the crease between the eyebrows (lol)”.  

Also, between laughs, the reader Pedro Moreira confesses to having had a fright when, at the age of forty, he received the prescription of glasses because of the tired sight, at fifty, he realized that the baldness was advancing on what had been a great mane and, At sixty, he found himself ten pounds overweight. And he reflects: "In contrast, I found myself more serene and lucid to enjoy the present time, to value everything that life gives me; And, between us, the bald ones also have their charm, don’t they? (lol) ".

So, that’s OK, Silvia, Eliene, Pedro and all the people who, publicly or via inbox, invested the time and words to try to convince me that I'm suffering for nothing. Thank you so much for your attention and for your affection. Thank you for proposing reflections from different perspectives of mine. That's how we learn and grow. And be sure that regarding aging, when I grow up, I want to be like all of you (lol).
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13 comentários:

  1. Para mim não doeu, pois à medida que fui "amadurecendo" eu procurava compensações.Acho que fui bem sucedido, apesar de que quando olho a minha barriga se projetando me sinto incomodado, mas nada a ver com a idade.

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  2. Dói mas é isso mesmo. Como disse o amigo acima, vamos procurando as compensações...

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    1. E rindo de nós mesmos. Não se levar muito a sério é a melhor saída :)

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  3. Fico pensando: como será o envelhecimento para os jovens de hoje? Sim, como vai doer envelhecer e não poder usufruir dos prazeres da aposentadoria em "tempo hábil" ( = saúde mental e física)... somos felizes e ainda não percebemos.Queremos mais do que naturalmente é possível.

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  4. Respostas
    1. Seria interessante, Marina, se você pudesse compartilhar a lista de encantamentos.

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  5. Quando na adolescencia eu ouvia que com a idade vc fica mais sabio e sereno eu achava que era conversa fiada de consolo por causa da velhice, hoje me sinto mil vezes melhor que quando adolescente, pois nessa época era muito infeliz sofria por tudo, hoje sou extremamente feliz, plena e aprendendo muito com o avançar da idade.

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  6. Legal, Ana Cristina, obrigada por compartilhar.

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  7. Estou me preparando para essa dor, foquei nos estudos, fiz outra graduação e estou na terceira especialização, essa última Gerontologia Social, procuro não pensar na velhice, nas coisas que não posso fazer e os sonhos que ainda não realizei, agradeço todos os dias por estar viva e com saúde.

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