A afirmação que dá
título a este artigo e que, de certa forma, concluiu meu último post, ‘Entre o
botox e a vã filosofia’, causou. E, na discussão que o sucedeu, houve quem
concordasse comigo em gênero, número e grau – um alento de empatia nessa minha jornada rumo aos
sessenta anos -- , e quem discordasse tão veementemente, com tão bons
argumentos, de tudo que escrevi, que me
vi duvidando do que afirmara.
Envelhecer dói ou não
dói, eis a questão.
Semelhanças hamletianas
à parte (quanta pretensão!), aqui ainda estou eu oscilando entre as duas
respostas opostas: dói, não dói… E enquanto minhas emoções se reafirmam e se contradizem no que faz o
fiel da balança pender a cada momento para um lado, vou tentando entender essa
dinâmica controversa, para explicá-la a mim mesmo.
Dói. Envelhecer dói,
sim.
Porque nascer dói, existir
dói, ser criança dói, adolescer dói, maturar e amadurecer, em seus diversos
estágios, dói. Porque todo processo de mudança dói, ponto (sem com e/ou br). E
é doloroso, porque mudar implica abrir mão de algo que conhecemos, que bem ou
mal administramos, e que, mesmo que não nos satisfaça, não nos faça felizes, nos é
familiar, próximo, íntimo… É confortável. Portanto, abrir mão dessa intimidade,
dessa zona de conforto, para aventurar-se em território totalmente desconhecido
gera angústias, alimenta ansiedades. É
como saltar no abismo, mesmo sabendo que estamos ancorados em uma asa-delta. Dá
frio na barriga, traz vertigens, seca a boca. Até nos darmos conta que estamos
flutuando no espaço. Até começarmos a desfrutar do mergulho no silêncio,, que
só é quebrado pelo barulho do vento batendo contra a vela da asa. Até percebermos a perspectiva que só um vôo livre
dá: visto lá de cima, tudo parece tão pequeno…
Experimentei o vôo de
asa-delta há quase trinta e cinco anos, em função de uma reportagem que fiz
para o jornal onde na época eu trabalhava, e até hoje revisito sensações e
reflexões provocadas pela experiência, pra mim, inusitada, quando me vejo
suando frio diante de uma mudança. Foi assim quando, há vinte e oito anos,
troquei o jornalismo pelo mundo da comunicação corporativa; foi assim quando,
há quinze, topei casar novamente; foi assim quando, doze anos atrás, mudei de
cidade com marido, gato e tartaruga; e assim foi quando, em 2015, decidi me
aposentar e começar uma nova etapa profissional como consultora independente e
escritora. Um caminho que, no ano passado, me trouxe a este blog – a saída que
encontrei para digerir minha estupefação diante da passagem do tempo.
Mas afinal, envelhecer
dói ou não dói?
Não dói, garantem muitos
de vocês, leitores, que vêem me acompanhando nessa jornada com o 2xTrinta. Até porque a alternativa a não envelhecer é
muito pior. Partindo dessa perspectiva, viver muitos anos e com saúde não é
dor, é dádiva, afirma a leitora Silvia Borges, depois de compartilhar vários
episódios de familiares seus que morreram cedo e não puderam usufruir do
crescimento de filhos e netos que botaram no mundo. “Isso, sim, dói”, diz ela,
enquanto a leitora Eliene Brito admite que, depois de passar um bom tempo
escrutinando rugas e fios grisalhos, chegou à conclusão que brigar consigo
mesmo não traria a juventude de volta, “só aumentaria o vinco entre as
sobrancelhas (rs rs rs)”.
Também entre risadas, o
leitor Pedro Moreira confessa ter levado um susto quando, aos quarenta anos,
recebeu a prescrição de óculos por conta da vista cansada, aos cinquenta, se
deu conta que a calvicie avançava sobre o que havia sido uma vasta cabeleira e,
aos sessenta, constatou estar dez quilos acima do peso que sempre mantivera. E
ele reflete: “Em contrapartida, me descobri mais sereno e lúcido para aproveitar
o tempo presente, para valorizar tudo de bom que a vida me dá; e, cá pra nós, os
carecas também têm lá seu charme (rs rs rs)”.
Então, tá, Silvia,
Eliene, Pedro e todas as pessoas que, publicamente ou via inbox, investiram
tempo e palavras para tentar me convencer
de que ando sofrendo à toa. Muito obrigada pela atenção e pelo carinho. Muito obrigada por proporem reflexões que
partem de perspectivas diferentes da minha. É assim que a gente aprende e
cresce. E fiquem certos que, em relação à passagem do tempo, quando eu crescer,
quero ser como vocês (rs rs rs).
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The statement that gives title to this
article and that, to a certain extent, concluded my last post, 'Between Botox
and vain philosophy', resonated. And in the discussion that followed, there
were those who totally agreed with me -- a breath of empathy in my journey
toward sixty years – and who would disagree so vehemently, with such good
arguments, that I found myself doubting what I had said.
Aging hurts or does not hurt? that's the
question, as Hamlet would pose it.
Putting that pretension aside, the truth
is: I am still oscillating between the two opposing answers: it hurts, it does
not hurt ... And while my emotions are reaffirmed and contradict themselves in
what makes the scale hang every moment to one side, I try to understand this
controversial dynamic, to explain it to myself.
It hurts. Yes, aging hurts.
Because to be born hurts, to exist hurts,
to be a child hurts, to be a teenager hurts, to become an adult hurts and to mature,
in its diverse stages, hurts. Because every change process hurts, period
(without com and / or br). And it is painful, because change implies giving up
something we know, that we do well or poorly, and that, even if it does not
satisfy us or makes us happy, it is familiar, close, intimate ... It is
comfortable. Therefore, giving up this intimacy, this zone of comfort, to
venture into totally unknown territory creates anguish, feeds anxieties. It's
like jumping into the abyss; even knowing we're anchored in a hang glider. It
generates butterflies in the stomach, brings vertigo, and dries the mouth.
Until we realize that we are floating in space. Until we begin to enjoy the dip
in silence, which is only broken by the noise of the wind hitting against the
wing. Until we realize the perspective that only a free flight gives: seen from
above, everything seems so small...
I experienced the hang gliding flight
almost thirty-five years ago, due to a story I wrote to the newspaper where I
worked at the time, and till today I revisit the sensations and reflections
provoked by the experience -- for me, unusual -- when I see myself afraid of a
change. That's how, twenty-eight years ago, I switched from journalism to
corporate communications; It was so, when, in 2002, I got married again; It was
like that when, twelve years ago, I moved from Rio to São Paulo with husband,
cat and turtle; And that's when, in 2015, I decided to retire and start a new
career as an independent consultant and writer. A path that last year brought
me to this blog - the way I found to digest my astonishment at the passage of
time.
But does aging hurt or does it not hurt?
It does not hurt, many of you, readers,
who are accompanying me on this journey with 2xTrinta, assure. Even because the
alternative to not aging is much worse. Starting from this perspective, living
many years is not a pain, but a gift, says the reader Silvia Borges, after
sharing several episodes of relatives who died early and could not enjoy the
growth of their children and grandchildren. "That does hurt," she
says, while the reader Eliene Brito admits that, after spending a good amount
of time scrutinizing wrinkles and gray hairs, she came to the conclusion that
fighting with herself would not bring the youth back, "it would only
increase the crease between the eyebrows (lol)”.
Also, between laughs, the reader Pedro
Moreira confesses to having had a fright when, at the age of forty, he received
the prescription of glasses because of the tired sight, at fifty, he realized
that the baldness was advancing on what had been a great mane and, At sixty, he
found himself ten pounds overweight. And he reflects: "In contrast, I
found myself more serene and lucid to enjoy the present time, to value everything
that life gives me; And, between us, the bald ones also have their charm, don’t
they? (lol) ".
So, that’s OK, Silvia, Eliene, Pedro and
all the people who, publicly or via inbox, invested the time and words to try
to convince me that I'm suffering for nothing. Thank you so much for your
attention and for your affection. Thank you for proposing reflections from different
perspectives of mine. That's how we learn and grow. And be sure that regarding
aging, when I grow up, I want to be like all of you (lol).
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Para mim não doeu, pois à medida que fui "amadurecendo" eu procurava compensações.Acho que fui bem sucedido, apesar de que quando olho a minha barriga se projetando me sinto incomodado, mas nada a ver com a idade.
ResponderExcluirLegal, Alex, que você encontrou o antídoto para a dor :)
ExcluirDói sim, mas a gente acostuma, kkkk..
ResponderExcluirE o bom humor é fundamental pra isso, não é mesmo?
ExcluirDói mas é isso mesmo. Como disse o amigo acima, vamos procurando as compensações...
ResponderExcluirE rindo de nós mesmos. Não se levar muito a sério é a melhor saída :)
ExcluirFico pensando: como será o envelhecimento para os jovens de hoje? Sim, como vai doer envelhecer e não poder usufruir dos prazeres da aposentadoria em "tempo hábil" ( = saúde mental e física)... somos felizes e ainda não percebemos.Queremos mais do que naturalmente é possível.
ResponderExcluirConcorde com você, Carmo, pra eles vai doer muito mais.
ExcluirDói sim,mas tem lá os seus encantos.
ResponderExcluirSeria interessante, Marina, se você pudesse compartilhar a lista de encantamentos.
ExcluirQuando na adolescencia eu ouvia que com a idade vc fica mais sabio e sereno eu achava que era conversa fiada de consolo por causa da velhice, hoje me sinto mil vezes melhor que quando adolescente, pois nessa época era muito infeliz sofria por tudo, hoje sou extremamente feliz, plena e aprendendo muito com o avançar da idade.
ResponderExcluirLegal, Ana Cristina, obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirEstou me preparando para essa dor, foquei nos estudos, fiz outra graduação e estou na terceira especialização, essa última Gerontologia Social, procuro não pensar na velhice, nas coisas que não posso fazer e os sonhos que ainda não realizei, agradeço todos os dias por estar viva e com saúde.
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