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sábado, 29 de abril de 2017

Quase uma epifania / Almost an epiphany

Insólito. O adjetivo-sinônimo para o que é pouco usual foi a qualificação menos preconceituosa que encontrei na mídia e nas redes sociais, ao se referirem ao casamento do candidato à presidência da França, Emmanuel Macron,  39 anos, com Brigitte Trogneux, 24 anos mais velha. Como bem questiona minha colega Mariza Tavares, em seu blog 'Longevidademodo de usar',  por que tanto espanto, se essa é a mesma diferença de idade entre Donald e Melania Trump? E eu me somo a ela: se os casais em que o homem é muito mais velho do que a mulher são vistos com naturalidade – eu diria até com admiração --  por que o inverso causa tamanho estranhamento? Pior que isso: por que tantas vezes tornam-se alvo de chacota e de comentários maldosos, como os que identifiquei na web em relação aos Macron?

“Vocês desqualificam, até mesmo desprezam, aquilo que não entendem”, ouvi outro dia de um líder religioso, cujo nome já não me recordo, durante uma discussão sobre fé . Eu não estava participando da conversa em si, mas essa frase soou como revelação.  Me fez refletir sobre todas as vezes em que negamos à priori aquilo que não compreendemos, não reconhecemos, não assimilamos. Todas as circunstâncias em que nos fechamos em copas com as nossas certezas, verdades, convicções. Todas as situações em que resistimos a sair da nossa zona de conforto, para nos colocar no lugar do outro e, por um minuto -- apenas um minuto --  experimentar o inverso.  E se a vida ensina que só nos virando do avêsso nos certificamos de que somos o reverso, talvez a prática desse exercício esteja nos fazendo falta.  

É impressionante como, em pleno século XXI, o que foge ao convencional ainda ‘cause espécie’, usando aqui propositalmente uma expressão do século passado. É mesmo supreendente que a essa altura do tempo, ainda cutuquemos uns aos outros quando deparamos com um casal homoafetivo de mãos dadas,  baixemos o tom de voz para falar sobre crianças com necessidades especiais, ou nos deixemos levar pela prosa inconsequente, ao pré-julgar casais em que o homem cuida da casa e a mulher ganha o sustento da família. Isso para não mencionar todas as piadas de mau gosto que fazemos a respeito dos estereótipos da beleza versus a inteligência, da juventude versus a velhice.

Escrevo todos esses parágrafos na primeira pessoa do plural, porque me incluo em várias dessas situações e me vejo --  ainda me vejo --  muitas vezes escorregando no preconceito. Às vezes involuntariamente, por falta de consciência do quanto meu ponto de vista pode ser estreito e arraigado; às vezes covardemente, porque me faltam ganas para questionar quem defende a própria opinião com fervor. Apesar de ter feito isso aqui com alguma ênfase em relação a história do casal Macron, eu estaria mentindo se afirmasse que minhas sobrancelhas não alcearam surpresas, quando a li pela primeira vez.

Ok, eu não saio atirando pedras na Geni, mas preciso tomar cuidado para não sair desqualificando, até mesmo desprezando, aquilo que não entendo. Acho que me rendi a essa sentença- quase-epifania.

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Unusual. This is the less prejudiced qualification I found in the media and social networks, referring to the marriage of French presidential candidate Emmanuel Macron, 39, with Brigitte Trogneux, 24 years older. As my colleague Mariza Tavares, well questions in her blog ‘Longevity mode of use’, why people are so surprised about their age difference, if it is the same between Donald and Melania Trump? And I add to it: if the couples in which the man is much older than the woman are seen naturally - I would even say with admiration - why does the inverse cause such strangeness? Worse than that: why do they so often become the subject of ridicule and mischievous comments, like the ones related to Macrons I identified on the web?

"You disqualify, even despise, what you do not understand," I heard another day from a religious leader, whose name I no longer remember, during a discussion about faith. I was not participating in the conversation itself, but that phrase sounded like revelation. It made me think about all the times we deny what we do not understand, do not recognize, do not assimilate. All the circumstances in which we close ourselves in our hearts with our certainties, truths, convictions. All the situations in which we resist to leave our comfort zone, to put ourselves in the other’s shoes and for a minute - just a minute - to experience the reverse.

It is striking how, in the middle of the 21st century, what is not conventional still being seen not normal. It is even surprising that at this point in time, we still gossiping when we come across a homoaffective couple holding hands, lowering our voices to talk about children with special needs, or letting ourselves be led by small talk when we face couples in which the man takes care of the house and the woman earns the living. Not to mention all the bad jokes we make about the stereotypes of beauty versus intelligence, of youth versus old age.

I write all those paragraphs with a ‘we’, because I include myself in several of these situations and see myself - I still see myself - often slipping in prejudice. Sometimes involuntarily, for lack of awareness of how narrow my point of view may be; sometimes cowardly, because I lack the will to question who defends its own opinion with fervor. Although I have done this here with some emphasis on the story of the Macron couple, I would be lying if I claimed I was not surprised when I read it for the first time.

Okay, I do not go out throwing stones at Geni, but I have to be careful not to disqualify, even despise, what I do not understand. I think I gave in to that sentence-almost-epiphany.

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4 comentários:

  1. Acho um grande barato quando as pessoas tem coragem de assumir o que querem. O Macron deve ser muito interessante e forte porque nesse mundo pos-moderno que se acha vanguarda, sei não, tem que ter muita coragem. Ela também. Não é fácil ter mais idade que seu marido. Parabéns pros dois!!

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  2. Eu acho que o amor não tem idade certa, não tem critérios rígidos de aparência, porque temos afinidade com a alma das pessoas não com invólucro, chamado corpo. O que tem idade, aparência e muitos outros critérios seletivos e excludentes é o preconceito.
    Bom tema!

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  3. É isso aí, mCarmo! O preconceito tem cor, gênero, idade, poder aquisitivo... e todas as outras especificações que o amor ignora, porque simplesmente está acima e além de tudo isso :--)). Obrigada por continuar acompanhando o 2xTrinta!

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