O primeiro
fogacho a gente nunca esquece. Eu tinha completado 43 anos, estava num vôo
noturno para o México para cumprir uma agenda de trabalho, quando acordei no
meio da noite com aquela onda avassaladora de calor, que me fazia suar como se
estivesse em uma sauna. Já estava pronta
para chamar um dos comissários de bordo para perguntar se havia algum problema
com o ar condicionado da aeronave, quando me dei conta de que todos os outros
passageiros dormiam embrulhados em seus cobertores. A única calorenta era eu.
Convencida por essa evidência, fui ao toalete, molhei nuca, colo e pulsos com
água gelada e retornei ao meu assento. Me vi, então, acometida por um frio
súbito e fui buscar a manta que, minutos antes, arremessara para longe.
Apesar do
estranhamento que a experiência de oscilar subitamente entre extremos de
sensações térmicas me causou, naquele momento e nos dias que sucederam, não
atinei que aquela era a primeira manifestação da pré-menopausa. A agenda profissional atribulada, somada a uma
disfunção gástrica causada pelos temperos mexicanos, na verdade, me fizeram
esquecer do episódio do vôo. Só oito
meses depois, quando aquela
montanha-russa de temperaturas se repetiu – novamente no meio do sono, só que
dessa vez na minha própria cama – me dei conta: eu havia entrado no climatério.
Eu havia
entrado no climatério e não estava preparada para o que viria pela frente.
Ninguém está. Não imaginava que, até completar 59 anos, as madrugadas com
suadouros se tornariam cada vez mais frequentes. Ninguém nos avisa. Não fazia
ideia que, paralelamente a elas, viriam as enxaquecas e que as oscilações de
humor que, desde a primeira menstruação
receberam o codinome de TPM, se tornariam ainda mais intensas e constantes.
Ninguém merece.
Foram dezesseis anos toureando essa
miscelânia de sensações e emoções. Às
vezes de forma alternada, em outras, mais raras, com todas se manifestando
juntas ao mesmo tempo – o que eu definia como ‘breves visitas ao inferno’. A
impossibilidade de fazer reposição hormonal exigiu neutralizar cada sintoma
através de tratamento natural. Então,
foi um tal de comer soja, abacate, nozes e castanhas, consumir extrato de
amora, tomar florais de Bach, administrar fitoterápicos, fazer acupuntura, adotar
a prática da meditação e fazer exercícios físicos com regularidade, que hoje nem sei dizer que procedimento
atendia a que necessidade. Só sei que toda essa mélange me ajudou a atravessar com paciência esses cinco mil
oitocentos e quarenta dias até a chegada da menopausa; contribuiu para que eu pudesse enfrentar cada
uma de suas cento e quarenta mil e cento e sessenta horas, com disposição para
dar conta de todas as demandas da vida. Sobrevivi.
Ufa, sobrevivi! Porém, sinto dizer:
ainda não venci os fogachos totalmente. Apesar de menos intensos e com
frequência mais esparsa, eles continuam ‘aquecendo’ algumas das minhas noites. Já
não interrompem mais meus sonhos, mas ainda me fazem performar a dança do afasta-e-puxa-edredon,
enquanto espero cair no sono, ou acabo de despertar. São motivo de piada entre
mim e meu marido, que ao me ver fazer a coberta de estandarte, liga logo o
ar-condicionado. “Até você esfriar e eu começar a tossir”, ele brinca. Enfim, entre risos e oscilações de
temperatura, vamos levando.
As estatísticas mostram que, na
maioria das mulheres, esses
afrontamentos acabam depois que a menopausa se consolida (um ano ininterrupto
sem menstruar). Estou, novamente e pacientemente, contanto os minutos para esse
momento chegar – faz quase nove meses que parei de ter ciclos. Será mais um
presente dos sessenta anos? Às vezes, me pergunto... Porém, claro, há as exceções. Outro dia, na
antessala do consultório do ginecologista, esbarrei em uma delas: uma senhorinha
de 84 anos, que não cansava de se abanar. Conversamos um pouco e logo o assunto
chegou aos fogachos (dos quais até hoje ela não se livrou!). Perguntei como ela convivia com eles, depois
de tanto tempo. A resposta veio rápida e simples:
“Comprei uma coleção de leques,
minha filha”.
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The first hot flush
we never forget. I was 43 years old, was on a red-eyes flight to Mexico to
fulfill a work schedule, when I woke up in the middle of the night with that
overwhelming heat wave that made me sweat like I was in a sauna. I was ready to
call one of the flight attendants to ask if there was any problem with the air
conditioning of the aircraft, when I realized that all the other passengers
slept wrapped in their blankets. The only heat was me. Convinced by this
evidence, I went to the toilet, wet my neck, lap and wrists with cold water and
returned to my seat. Then I was struck by a sudden cold, and fetched the
blanket which, a few minutes before, I had cast away.
In spite of the
strangeness that the experience of suddenly oscillating between extremes of
thermal sensations caused me, at that moment and in the days that followed, I
did not realize that this was the first manifestation of the premenopause. The
busy professional agenda, coupled with a gastric dysfunction caused by Mexican
spices, actually made me forget about the flight. Only eight months later, when
that temperature coaster repeated itself - again in the middle of sleep, but
this time in my own bed - I realized: I had entered the climacteric.
I had entered the
climacteric and was not prepared for what was ahead. No one is. I did not
imagine that by the age of 59, sweat
dawns would become more and more frequent. Nobody warns us. I had no idea that
migraines would come along with them, as well as the mood swings. Nobody
deserves it.
It has been sixteen
years of this mingling of feelings and emotions. Sometimes alternately, in
others, rarer, with them manifesting all together at the same time - what I
called 'brief visits to hell'. The impossibility of doing hormonal replacement
required neutralizing each symptom through natural treatment. So it was such a
way of eating soy, avocado, walnuts and nuts, consuming blackberry extract,
taking Bach flowers, administering herbal medicines, acupuncture, taking the
practice of meditation and doing regular physical exercises, which today I can
not say which procedure addressed what. I only know that all this melange has helped me to cross patiently
these five thousand eight hundred and forty days until the onset of menopause;
it contributed to help me face each one of its hundred and forty thousand and
one hundred and sixty hours, with disposition to take care of all the demands
of the life. I survived.
Phew, I survived!
But I'm sorry to say: I still have not beaten the hot flushes. Although less
intense and often, they continue to 'warm up' some of my nights. They do not
interrupt my dreams any more, but they still make me perform the dance of the
push-and-pull-duvet, while I fall asleep, or just wake up. They have become a
private joke between me and my husband, who, seeing them coming, turns on the
air conditioning and says. "Until you cool down and I start coughing."
Anyway, between laughs and temperature swings, we are dealing with it.
Statistics show
that, in most women, these hot flashes stop after the menopause (an uninterrupted
year without menstruating). I am, again and patiently, counting the minutes for
this moment to arrive - it has been almost nine months since I had a period. Is
it another gift from turning sixty? Sometimes I wonder…
But, of course, there
are the exceptions. The other day, at the gynecologist's office, I bumped one
of them: an 84-year-old lady, who cooled herself with a fan tirelessly. We talked a
little and soon the subject reached the hot flushes (of which until today she
did not get rid of!). I asked how she's lived with them after so long. The
answer came quickly and simply:
"I bought a
collection of fans, my dear."
Inferno total! Depois de tudo, ainda isso. Acho uma puta sacanagem da natureza. E haja leques!
ResponderExcluirHaja leques, Ju!
ExcluirPor incrível que pareça eu entrei na menopausa aos 48 anos e nunca tive esses fogachos. Hoje aos 55 anos, diante das queixas das amigas, deduzo que sou uma exceção. Nem vou me gabar muito. Mais uma vez, tema pertinente. Parabéns! Abraço
ResponderExcluirExceção privilegiada, Carmo :--)))
ExcluirGracas a Deus a minha meno veio ao 57 anos com so um pouco de hot flashes que controlei alternando 2 extratos de ervas naturais: Black Cohosh (Cimicifuga racemosa) usada pelas indias norte americanas e Dong Quai (Angelica Sinensis) usada pelas chinesas ... foi pianinho ...
ResponderExcluirSorte sua, amiga :---)))
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