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sábado, 1 de abril de 2017

Sobre fogachos, leques e menopausa / About hot flushes, fans and menopause

O primeiro fogacho a gente nunca esquece. Eu tinha completado 43 anos, estava num vôo noturno para o México para cumprir uma agenda de trabalho, quando acordei no meio da noite com aquela onda avassaladora de calor, que me fazia suar como se estivesse em uma sauna.  Já estava pronta para chamar um dos comissários de bordo para perguntar se havia algum problema com o ar condicionado da aeronave, quando me dei conta de que todos os outros passageiros dormiam embrulhados em seus cobertores. A única calorenta era eu. Convencida por essa evidência, fui ao toalete, molhei nuca, colo e pulsos com água gelada e retornei ao meu assento. Me vi, então, acometida por um frio súbito e fui buscar a manta que, minutos antes, arremessara para longe.
Apesar do estranhamento que a experiência de oscilar subitamente entre extremos de sensações térmicas me causou, naquele momento e nos dias que sucederam, não atinei que aquela era a primeira manifestação da pré-menopausa.  A agenda profissional atribulada, somada a uma disfunção gástrica causada pelos temperos mexicanos, na verdade, me fizeram esquecer do episódio do vôo.  Só oito meses depois,  quando aquela montanha-russa de temperaturas se repetiu – novamente no meio do sono, só que dessa vez na minha própria cama – me dei conta: eu havia entrado no climatério.

Eu havia entrado no climatério e não estava preparada para o que viria pela frente. Ninguém está. Não imaginava que, até completar 59 anos, as madrugadas com suadouros se tornariam cada vez mais frequentes. Ninguém nos avisa. Não fazia ideia que, paralelamente a elas, viriam as enxaquecas e que as oscilações de humor que,  desde a primeira menstruação receberam o codinome de TPM, se tornariam ainda mais intensas e constantes. Ninguém merece.

Foram dezesseis anos toureando essa miscelânia de sensações e emoções.  Às vezes de forma alternada, em outras, mais raras, com todas se manifestando juntas ao mesmo tempo – o que eu definia como ‘breves visitas ao inferno’. A impossibilidade de fazer reposição hormonal exigiu neutralizar cada sintoma através de tratamento natural.  Então, foi um tal de comer soja, abacate, nozes e castanhas, consumir extrato de amora, tomar florais de Bach, administrar fitoterápicos, fazer acupuntura, adotar a prática da meditação e fazer exercícios físicos com regularidade,  que hoje nem sei dizer que procedimento atendia a que necessidade. Só sei que toda essa mélange me ajudou a atravessar com paciência esses cinco mil oitocentos e quarenta dias até a chegada da menopausa;  contribuiu para que eu pudesse enfrentar cada uma de suas cento e quarenta mil e cento e sessenta horas, com disposição para dar conta de todas as demandas da vida.  Sobrevivi.

Ufa, sobrevivi! Porém, sinto dizer: ainda não venci os fogachos totalmente. Apesar de menos intensos e com frequência mais esparsa, eles continuam ‘aquecendo’ algumas das minhas noites. Já não interrompem mais meus sonhos, mas ainda me fazem performar a dança do afasta-e-puxa-edredon, enquanto espero cair no sono, ou acabo de despertar. São motivo de piada entre mim e meu marido, que ao me ver fazer a coberta de estandarte, liga logo o ar-condicionado. “Até você esfriar e eu  começar a tossir”, ele brinca.  Enfim, entre risos e oscilações de temperatura, vamos levando.

As estatísticas mostram que, na maioria das mulheres,  esses afrontamentos acabam depois que a menopausa se consolida (um ano ininterrupto sem menstruar). Estou, novamente e pacientemente, contanto os minutos para esse momento chegar – faz quase nove meses que parei de ter ciclos. Será mais um presente dos sessenta anos? Às vezes, me pergunto...  Porém, claro, há as exceções. Outro dia, na antessala do consultório do ginecologista, esbarrei em uma delas: uma senhorinha de 84 anos, que não cansava de se abanar. Conversamos um pouco e logo o assunto chegou aos fogachos (dos quais até hoje ela não se livrou!).  Perguntei como ela convivia com eles, depois de tanto tempo. A resposta veio rápida e simples:

“Comprei uma coleção de leques, minha filha”.

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The first hot flush we never forget. I was 43 years old, was on a red-eyes flight to Mexico to fulfill a work schedule, when I woke up in the middle of the night with that overwhelming heat wave that made me sweat like I was in a sauna. I was ready to call one of the flight attendants to ask if there was any problem with the air conditioning of the aircraft, when I realized that all the other passengers slept wrapped in their blankets. The only heat was me. Convinced by this evidence, I went to the toilet, wet my neck, lap and wrists with cold water and returned to my seat. Then I was struck by a sudden cold, and fetched the blanket which, a few minutes before, I had cast away.
In spite of the strangeness that the experience of suddenly oscillating between extremes of thermal sensations caused me, at that moment and in the days that followed, I did not realize that this was the first manifestation of the premenopause. The busy professional agenda, coupled with a gastric dysfunction caused by Mexican spices, actually made me forget about the flight. Only eight months later, when that temperature coaster repeated itself - again in the middle of sleep, but this time in my own bed - I realized: I had entered the climacteric.

I had entered the climacteric and was not prepared for what was ahead. No one is. I did not imagine that by the age of 59,  sweat dawns would become more and more frequent. Nobody warns us. I had no idea that migraines would come along with them, as well as the mood swings. Nobody deserves it.

It has been sixteen years of this mingling of feelings and emotions. Sometimes alternately, in others, rarer, with them manifesting all together at the same time - what I called 'brief visits to hell'. The impossibility of doing hormonal replacement required neutralizing each symptom through natural treatment. So it was such a way of eating soy, avocado, walnuts and nuts, consuming blackberry extract, taking Bach flowers, administering herbal medicines, acupuncture, taking the practice of meditation and doing regular physical exercises, which today I can not say which procedure addressed what. I only know that all this melange has helped me to cross patiently these five thousand eight hundred and forty days until the onset of menopause; it contributed to help me face each one of its hundred and forty thousand and one hundred and sixty hours, with disposition to take care of all the demands of the life. I survived.

Phew, I survived! But I'm sorry to say: I still have not beaten the hot flushes. Although less intense and often, they continue to 'warm up' some of my nights. They do not interrupt my dreams any more, but they still make me perform the dance of the push-and-pull-duvet, while I fall asleep, or just wake up. They have become a private joke between me and my husband, who, seeing them coming, turns on the air conditioning and says. "Until you cool down and I start coughing." Anyway, between laughs and temperature swings, we are dealing with it.

Statistics show that, in most women, these hot flashes stop after the menopause (an uninterrupted year without menstruating). I am, again and patiently, counting the minutes for this moment to arrive - it has been almost nine months since I had a period. Is it another gift from turning sixty? Sometimes I wonder…
But, of course, there are the exceptions. The other day, at the gynecologist's office, I bumped one of them: an 84-year-old lady, who cooled herself with a fan tirelessly. We talked a little and soon the subject reached the hot flushes (of which until today she did not get rid of!). I asked how she's lived with them after so long. The answer came quickly and simply:


"I bought a collection of fans, my dear."

6 comentários:

  1. Inferno total! Depois de tudo, ainda isso. Acho uma puta sacanagem da natureza. E haja leques!

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  2. Por incrível que pareça eu entrei na menopausa aos 48 anos e nunca tive esses fogachos. Hoje aos 55 anos, diante das queixas das amigas, deduzo que sou uma exceção. Nem vou me gabar muito. Mais uma vez, tema pertinente. Parabéns! Abraço

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  3. Gracas a Deus a minha meno veio ao 57 anos com so um pouco de hot flashes que controlei alternando 2 extratos de ervas naturais: Black Cohosh (Cimicifuga racemosa) usada pelas indias norte americanas e Dong Quai (Angelica Sinensis) usada pelas chinesas ... foi pianinho ...

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